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Os que ficaram a ver a caravana a passar

por Tempos Modernos, em 28.01.17

Já se contou aí para baixo como, há uma dezena de anos, a minha interpretação do artigo 187º da Constituição foi desqualificada por um ex-editor de política de um grande diário nacional. Já se contou também como, em 2015, num canal televisivo, tantos jornalistas de política descobriram o artigo que tornava possível um partido com menos votos que outro formar Governo. Esses mesmos que não tinham lido a Constituição espantavam-se com o que só tinham visto em Borgen, uma série acerca da política dinamarquesa. E esses mesmos continuam a fazer jornalismo, com toda a presciência que a ignorância e o preconceito lhes garantem.

 

Dá-se de barato que, há pouco mais de um ano, o grosso dos jornalistas que fazem política não tivesse percebido o que se estava a passar. Não valem mesmo grande coisa enquanto colectivo pomposo, inculto e influente. Mas esta semana, confirmou-se que no PSD se continua também sem perceber o que lhes aconteceu por conta do referido artigo.

 

No recente debate parlamentar acerca da descida da TSU, vários parlamentares laranjas, entre eles o presidente do partido, voltaram a vincar a ilegitimidade do PS para governar. Zangaram-se, disseram que a maioria não consegue fazer aprovar as suas próprias medidas e fazê-las cumprir. E, hoje, Aguiar Branco, voltou ao mesmo numa entrevista ao Diário de Notícias: Que

 

"sem maioria parlamentar, Governo não tem legitimidade para governar."

 

Sim, claro, apetece dizer ao deputado e ex-ministro de um governo, o segundo e último de Passos Coelho, que caiu ao fim de pouco mais de um par de semanas na sequência da rejeição do programa pela maioria dos partidos de esquerda na Assembleia da República.

 

O Governo sem legitimidade de que falaram Passos Coelho e Aguiar Branco sempre tem acrescentado meses ao tempo que a PàF conseguiu para o seu segundo Governo. Mas no PSD continua-se a assobiar e a fazer de conta. António Costa pode bem a atitude. Quando os cubes perdem tempo com erros de arbitragem e com injustiças, outros entretêm-se a jogar.

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publicado às 12:00

Algumas precisões por causa dos 25 dias de férias

por Tempos Modernos, em 27.01.17

Os 25 dias de férias para trabalhadores com um certo número de anos de serviço foram postos no Código de Trabalho por Bagão Félix, no tempo de Durão Barroso. Vendeu-se na ocasião ser um modo de compensar os trabalhadores por várias garantias tiradas pelo Governo, em nome de uma muito alegada competitividade laboral.

 

Numa política de pequenos passos, de tirar um pedaço de cada vez, depois de Bagão Félix trocar garantias laborais pelo rebuçado, já então nada equivalente, dos 25 dias de férias, passou-se à fase seguinte. Ou seja, no Governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, as férias foram reduzidas para os 22 dias anteriores. Mas as garantias retiradas aos trabalhadores pelo ministro do Governo PSD/CDS-PP, de Durão Barroso e de Paulo Portas, não foram repostas.

 

ainda não foi desta que regressaram os 25 dias dados da outra vez como rebuçado - um rebuçado, como se verifica, facilmente retirável e esquecível. Não se percebe por isso muito bem o sentido de discutir a reposição dos 25 dias tirados na concertação social em vez de repôr uma promessa feita há 15 anos e traída entretanto.

 

É que não se está a discutir um aumento de direitos. Está-se a discutir a reposição de algo que foi trocado por vários recuos laborais que os autores diziam ir trazer crescimento dos salários e do emprego.

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publicado às 19:03

Irrevogavelmente demissionário, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, não esteve ontem no Conselho de Ministros. Mas hoje andou pelo debate sobre o Estado da Nação que encerrou citando Sá Carneiro e o interesse nacional.

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publicado às 14:16

Má escrita jornalística

por Tempos Modernos, em 01.11.12

 

(Foto:http://ancienthistory.about.com)

 

Paula Castanho tem tempo suficiente de jornalista para saber as implicações do uso dos artigos definidos na construção de uma frase rigorosa e objectiva.

 

Ao acompanhar em São Bento os protestos contra o Orçamento de Estado 2013 diz em determinada altura que "agora" ouvem-se aplausos. No entanto confessa-se incapaz de perceber os motivos para estes. A jornalista afirma não ter ouvido declarações novas: apenas as habituais frases contra "os" deputados. O que poderia com legitimidade e rigor afirmar seria, quando muito, "apenas as habituais frases contra deputados", sem o artigo "os" que transforma alguns deputados em todos os deputados. A percepção é feita no domínio do quase subliminar. O que ainda torna as coisas mais graves.

 

Ora, se estiveram atentos ao dia político, os jornalistas têm obrigação de saber que a manifestação era contra o Orçamento de Estado. E logo contra os partidos que o aprovaram. Leia-se, PSD e CDS-PP com a excepção do deputado madeirense Rui Barreto.

 

Em nome da simplificação do discurso, ou da simplicidade de análise, não vale misturar todos os deputados no mesmo magote. Bernardino Soares e António Flipe do PCP foram alguns dos que os directos televisivos apanharam junto aos manifestantes. Estariam lá outros, de outros partidos. Não parece que tenham sido importunados. E se a saída de deputados em viaturas complica a identificação do parlamentar e leva ao apupo preventivo, não será por isso que os manifestantes de ontem não sabem distinguir o seu trigo do seu joio. A manifestação contra o orçamento de Estado para 2013 não foi nem contra a CDU, nem contra o BE e, no caso específico e concreto, nem dirigida ao PS, que ontem pode ter feito um certo corte com o passado mais recente.

 

O artigo definido usado por Paula Castanho é populista e demagógico. Aquilo que comunica, aquilo que põe em comum - de acordo com o étimo latino - não é objectivo, não é rigoroso, não é verdadeiro. Contribui para a estupidificação do discurso. Para a ideia de que eles, os políticos, são todos iguais. Mas não foi isso que aquela gente que esteve ontem em frente à Assembleia da República disse. Os manifestantes têm os seus alvos muito bem definidos. Dos estivadores, ao Movimento Sem Emprego, à CGTP, aos outros que lá estiveram. Passar o contrário nos canais televisivos cria nos espectadores que não estão no local uma realidade alternativa. A ilusão de que não há alternativas.

 

Já tive esta discussão com um ex-editor meu. A do uso dos artigos definidos. Recusava o meu ponto de vista. Cinco anos de estudos em Ciências da Comunicação, quase vinte anos de jornalismo, por acaso com os primeiros passos em redacção dados no mesmo sítio que a jornalista da SIC, e ninguém lhe ensinou os poderes performativos da semântica. Uma coisa que nem os antigos sumérios, há mais de quatro mil anos, ignoravam.

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publicado às 09:10


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