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Uma das surpresas na lista dos condecorados é a presença de António Barreto.
Há tantos anos entronizado como instituição do regime e ainda ninguém se tinha lembrado dele.
De qualquer forma, pode dizer-se que vai bem com Cavaco Silva.
Mas expliquem-lhe muito devagarinho que, nestes anos todos, embora não me canse de ouvir elogios à sua inteligência, nunca o ouvi dizer nada que contribuisse para tirar o país e os portugueses do medo que os domina.
Bem pode ser escolhido para mestre-sala das cerimónias do 10 de Junho, presidir a congressos, escrever artigos de opinião, dirigir a Fundação da Jerónimo Martins (pronto, lá dei cabo das minhas hipóteses de vir a publicar lá), participar em debates televisivos. Dali nunca vi sair um pensamento livre e desassombrado.
Agora, e vai defendê-lo, de certeza, no dia de Portugal, acha que "a Constituição portuguesa devia estipular que os programas dos governos" fossem "aprovados por maioria absoluta dos deputados".
Ou seja, "Se a Constituição disser numa só linha, o programa do governo, no início de uma legislatura, tem de ser aprovado por maioria dos deputados eleitos, basta isso para que não possa haver Governo" com menos de 50 por cento.
E vai mais longe: Para Barreto, "muitas coisas deviam ter sido feitas há dois ou três anos, com antecedência, com reforço de coesão nacional, com uma aliança ou coligação, com esforço convergente de dois, três, quatro ou cinco partidos, com medidas de prevenção e de antecipação".
A análise de Barreto devia contar com a realidade mas isso dava-lhe cabo da teoria pessoal. Pouco interessa ao sociólogo que "há dois ou três anos" Portugal até tivesse a tal maioria absoluta que considera esencial. Que tivesse as ditas maiorias desde que Durão Barroso assumiu o Governo.
Tal devia ser suficiente para qualquer alma simples perceber que o drama do país não radica nas eventuais maiorias. Mas Barreto não chega lá.
Alguém podia explicar ao senhor que era bom que o enquadramento das teorias que defende tivesse alguma consistência científica? E, já agora, será que nenhum jornalista se lembrou de lhe pedir para justificar o estado do país dado que, afinal, entre 2002 e 2009 até vivemos sob as maiorias absolutas que ele defende?
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