Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Com o dispositivo cultural bem montado na comunicação social, que esperanças terá o Bloco de Esquerda nos resultados de um referendo ao tratado orçamental?
Os resultados de um referendo são diferentes dos resultados de uma eleição. Atam e complicam mudanças. Uma decisão discreta no tempo perpetuada como se fosse um ponto de vista contínuo.
As mudanças de governo e políticas, que em cada eleição legislativa se podem fazer, ficam francamente dificultadas com um referendo.
Contra a loucura europeia, o referendo pode ser uma arma. Não será a melhor solução, ou o caso grego já está esquecido?
No Diário de Notícias fala-se das Parcerias Público Privadas hospitalares que "[t]odos elogiam e querem manter". O tonitruante "Todos" parece mais um desejo pessoal de quem fez o título do que acerto jornalístico - coisa que não é de certeza. Não é acerto e para ser jornalismo ainda há que haver um bocadinho mais de esforço.
Vai-se a ler e, logo à primeira linha, se percebe que o Bloco de esquerda está contra. Cita-se uma entrevista de Catarina Martins onde a dirigente bloquista defende o fim das PPP da Saúde. Começa o ruidoso "Todos" a ficar amputado de partes. No DIário de Notícias ouviram-se ainda antigos responsáveis e criadores da coisa que a elogiaram, pois pudera.
O ministro da tutela, que não se quis pronunciar, parece posto no saco dos apoiantes das PPP da Saúde, com argumentos que pecam por ingenuidade ou dificuldades hermenêuticas da jornalista. De declarações antigas do ministro tiram-se conclusões. Tramado é que estas são suficientemente ambíguas e abertas para reflectirem uma posição oposta com a vontade de não mergulhar o Governo em polémicas desnecessárias. A jornalista não chega lá. Usa as proposições como fechadas, quando as devia usar abertas a várias possibilidades, tal como foram expressadas pelo governante.
O trabalho pouco cuidadoso prossegue. Correia de Campos é citado. Diz que as "PPP na saúde nunca foram objeto de litígio nem de crítica quanto ao seu valor e à sua execução porque elas foram geridas sempre com enorme rigor". A jornalista esquece-se de fazer o contraditório das palavras de Correia de Campos. Era o que faltava que o ex-ministro de Guterres e de Sócrates e um dos pais da coisa fizesse a crítica da própria acção. E o contraditório nem era difícil. Bastava uma pesquisa no Google, para achar uma entre muitas críticas.
Na sua contabilidade do "Todos", a jornalista ouviu também um representante do Sindicato dos Médicos Independentes. O clínico disse que os médicos não se assumem nem contra nem a favor do modelo. Afirmou que "trabalham independentemente do titular do meio de produção, o fundamental é a garantia da qualidade das condições de trabalho e consolidação da carreira médica". Difícil ver nisto um elogio ou a vontade de manter as PPP.
Por fim - mas podia ter ficado no segundo parágrafo deste postado - se no artigo se alargasse o escopo dos que foram ouvidos, também se acharia oposições do PCP e do PEV às PPP na Saúde. Mas, depois, o artigo não era a mesma coisa, pois não? Já eram três a pedir-lhes o fim de modo explícito. Ainda o "Todos" do título ficava menos justificado do que aquilo que já não está.
(Foto: público.pt)
É absoluta novidade, pelo menos em Portugal, essa de um partido ter maioria absoluta e mesmo assim coligar-se. A declaração foi feita ontem, por António José Seguro, no XIX Congresso do PS, e é uma espécie de busca da União Sagrada, que tem a seu favor a possibilidade de satisfazer mais sensibilidades eleitorais.
Claro que isso depende da geometria escolhida para o alargamento. Há aproximações que em nada modificarão o que já por cá se tem há muitos anos.
Um Governo de frente popular seria um caminho diferente. Um Executivo de arco da governação - o mais provável provável - seria mais do mesmo.
Cavaco disse coisas importantes e relevantes na sua mensagem de Ano Novo. Mas dentro do comentário sincero feito por partidos políticos, o mais simpático foi o do Bloco de Esquerda: Cavaco é "inconsequente" com as coisas que diz. Tem sido essa a regra (veja-se o que não fez com as inconstitucionalidades do Orçamento de Estado de 2012), mas talvez o futuro traga outra acção.
Mesmo que considere o Bloco um partido radical e minoritária, a sua acusação parece ressoar estridente na consciência de Cavaco. Em entrevista, saída hoje no Expresso, o inquilino de Belém disse várias coisas. Infelizmente bem menos interessantes do que a mensagem de Ano Novo: "Ninguém chegou a Presidente com a minha experiência", "[h]oje temos uma agricultura que é competitiva", "[a minha relação com o BPN] está explicadíssim[a] em comunicado e numa declaração minha", "[c]omo posso não ter orgulho dos meus governos?", "[f]altam-me algumas qualidades dos políticos. A intriga cansa-me."
Desde que chegou a Belém, Cavaco perdeu o fulgor e prestígio que chegou a ter em muitos meios. Pode soar a profetismo barato, mas dificilmente a história lhe será leve. E a auto-justificativa entrevista ao Expresso evidencia bem como isso o contraria.
De Cavaco, apetece dizer o que noutro contexto disse há dias a um amigo e que alguém também já afirmou a propósito do actual locatário da Presidência: Faria um excelente negócio quem o comprasse pelo que vale, para depois o vender pelo que ele julga valer.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.