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No final do ano passado, um grupo não dispiciendo de jornalistas de política deu Vieira da Silva como um ministro que agradaria à Esquerda.
A afirmação é apenas mais uma das muitas que expõem as fragilidades de análise de um grupo maioritariamente pouco capaz de dizer coisas que colem com a realidade.
Vieira da Silva já em tempos tinha mexido o Código de Trabalho de Bagão Félix a favor dos patrões, o que não era de molde a deixar a esquerda descansada. Medidas nascidas e propostas pela direita e amplamente criticadas à esquerda, acabam reequacionadas por Vieira da Silva.
Recentemente, mostrou-se incapaz de pensar fora do esquematismo liberal, quando solicitado a fazê-lo pelo Reitor da Universidade de Coimbra - o que mais vincava a alienação de grande parte do grupo dos jornalistas de política.
Agora, Vieira da Silva volta a aproveitar uma ideia da Direita e entrega um catita cabaz de Natal aos patrões da CIP, CCP e CAP, ao pôr os contribuintes a subsidiarem-lhes (através da redução da Taxa Social Única) um muito atrasado aumento do salário mínimo nacional.
António Costa pode dar voltinhas, falar de Natal e pôr os tuítes oficias do PS a dizer que fecharam 2016 com chave de ouro.
No essencial e na substância, fecha o ano com uma traição dos acordos que lhe têm mantido o Governo, disse-lhe a esquerda parlamentar com todas as letras, aqui, aqui e aqui. Entre a tentação da maioria absoluta e da aliança com o sucessor de Passos Coelho, o PS balançará?
(Foto: radiocampanario.com)
A TSU teve o condão de despertar uma grande maioria de portugueses para a injustiça da governação do PSD/CDS-PP e da presença da tróica. Foi quando perceberam que lhes iam aumentar os descontos para a reforma não para fazer face às dificuldade da Segurança Social, mas para transferir o dinheiro obtido para as contas dos seus patrões.
Acordou-se. Em todos os quadrantes ideológico. Em todos os sectores profissionais. Mais vale tarde que nunca. Só que há um problema. É que o esbulho, que outro nome se lhe pode dar?, não é de agora. E continua.
Já há muitos anos que os portugueses andam a transferir o seu dinheiro para o bolso dos patrões. Conheci muitos e muitos estagiários, licenciados, a quem os pais pagavam para trabalhar. Vindos de fora de Lisboa, alguns ganhavam menos que o salário mínimo, insuficiente para fazer face às despesas com transportes, alimentação e habitação, e trabalhavam às dez e doze horas diárias. Isso não impedia que chefias recebessem anualmente prémios de dezenas de milhares de euros pelo sucesso comercial do empreendimento ou que o patrão pudesse perder 50 milhões de euros em bolsa. E nem falo do meu caso.
Sucessivos códigos laborais (de Bagão Félix, de Vieira da Silva, de Pedro Mota Soares, CIP, CCP, CAP e UGT) aumentaram o tempo de trabalho, flexibilizaram-no, acrescentaram-lhe mais meia-hora, cortaram feriados, desvalorizaram o valor das horas extraordinárias e do trabalho suplementar, esmagaram indemnizações, desestruturaram vidas familiares e atiraram as mais valias resultantes da coisa para o bolso de patrões, que nem por isso contrataram mais gente.
No fundo, é o efeito pimba. O gosto está por educar e o óbvio vence. Isso explica o sucesso de Tony Carreira em contraponto com, por exemplo, Amélia Muge, uma compositora de excepção. Só quando a coisa se torna muito evidente é que a população a percebe.
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