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A igreja negociou o fim do feriado do 1 de Novembro, um dos poucos feriados religiosos cujo sentido os portugueses não perdem de vista. Basta ver como se enchem os cemitérios e como, nas cidades mais pequenas, mesmo se vestida com outras fórmulas, muitas crianças continuam a ancestral prática do pão-por-Deus.
Saber adaptar-se às práticas dos crentes e dos não-crentes explica o sucesso milenar da igreja católica. Trocar uma festividade seguida e respeitada pela da Assunção de Maria, a15 de Agosto, e as declarações recentes do cardeal-patriarca de Lisboa contra as manifestações mostram uma instituição perdida e confundida no século.
Como dito há dias, começa a haver escassa pachorra de muitos para suportar os dislates de uns poucos.
Acrescenta-se: esgota-se a pachorra desses muitos, sem voz, para suportar os dislates, amplificados, de uns quantos.
(Foto: blogue A Saúde da Alma)
Espantosas as declarações de José da Cruz Policarpo condenando as manifestações contra o Governo e a Tróica.
Num tempo em que a cidade se enche de novos pobres e de novos nus, o cardeal patriarca encontra nas manifestações que se têm sucedido o exemplo da corrosão da "harmonia democrática". Ao falar em Fátima, antes de se iniciarem as peregrinações do 13 de Outubro, o dia do milagre do Sol, o cardeal patriarca de Lisboa envergou as vestes do príncipe, de alguém cujo reino pertence a este mundo.
Não será o único motivo de preocupação da Igreja, mas, há dias, Marques Mendes defendeu que o tempo de emissão televisivo das confissões religiosas pode e deve ser mantido. Ontem, José Policarpo juntou na mesma conferência de imprensa a condenação das manifestações ao desejo de cumprimento da Concordata. Os mais cínicos poderão achar que a Igreja Católica receia ver transformada em cordeiro sacrificial o tempo de emissão que o Estado desde sempre lhe concedeu nos canais públicos.
O facto de se perguntar a um conselheiro do Governo se acha que algo pode e deve ser mantido, revela ao menos o receio da resposta negativa. os mais cínicos poderão questionar daqui a pouquissímo tempo: a presença na televisão (e a isenção de pagamento de IMI) valeu mesmo os 30 dinheiros?
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