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Carlos Silva pode achar o que quiser da postura da CGTP na concertação social. Mas querer decidir o modo como a intersindical actua ou deixa de actuar, discute ou deixa de discutir, já extravasa um bocadinho as funções do secretário-geral da UGT.
A administração da Caixa Geral dos Depósitos deve entregar as declarações de rendimento e património, quanto mais nao seja para, por exemplo, se evitar que os administradores possam deter participações em activos de outras instituições bancárias - uma incompatibilidade.
Sugerir, como Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP; que "quem não deve não teme" está longe de ser um argumento. É exactamente o mesmo tipo de argumento demagógico e perigoso que usam os defensores da vídeo-vigilância. Um tipo é livre de passear e fazer o que lhe apetece, sem ter câmaras apontadas.
A publicação digital patrocinada por rapaziada do Compromisso Portugal descobriu um António Costa particularmente pessimista em recente reunião com deputados socialistas.
Um pessimismo que os auscultados pela publicação viram como antecipação de eleições - uma cartada que Costa trará na manga.
Ao longo destes meses, o puxar do tapete quando a situação o recomende tem sido um truque várias vezes lembrado ao primeiro-ministro por críticos da solução Governo apoiado pelas esquerdas parlamentares.
Em simultâneo, dá-se voz a Jerónimo de Sousa quando diz não estar garantido o voto do PCP no Orçamento do Estado 2017. Ou vinca-se o melindre comunista por não ter sido chamado a discutir a composição do Tribunal Constitucional. Tudo linhas de cesura entre o Governo de António Costa e um dos partidos que o têm apoiado na Assembleia da República.
Além da falta de cumprimento do acordado com o PSD, a não eleição de Correia de Campos para o Conselho Económico Social também terá contado com a ausência dos votos dos camaradas de Jerónimo de Sousa. Uma questão acessória mostra ao PS que, no seu próprio interesse, talvez não se devesse ter desviado da convergência iniciada nas últimas legislativas.
Mas o OE 2017 já não é uma questão acessória. Na semana passada, Arménio Carlos e um sindicalista da UGT eram entrevistados por José Alberto Carvalho. O secretário-geral da CGTP era questionado acerca da anunciada não subida dos não nominal dos salários dos funcionários públicos. E exigia-a e dava alternativas de receitas - do fim de swaps, da reversão de parcerias público-privadas, do fim de avenças do Estado com escritórios de advogados e empresas de consultadoria informática.
E de repente, Arménio Carlos lembrou que nos acordos entre PEV, PCP, BE E PS, que vieram a permitir a actual solução governativa, nada havia referente ao aumento dos funcionários públicos. O que havia era o fim de um conjunto de cortes feito pelo Exectuivo de Passos Coelho e de Paulo Portas. Arménio Carlos vincava a linha de Jerónimo ao afirmar só votar o OE 2017 "se não reverter direitos dos trabalhadores".
A língua é de pau e às vezes exige uma certa hermenêutica, mas há previsibilidades nas entrelinhas que muitos ignoram.
E a CGTP resolve obedecer a uma decisão administrativa de legalidade contestada quando tinha tudo para ter sucesso na acção e cedendo estrondosamente perante este Goverrno.
... é acabar com os subsídios. Como, aliás, se disse aqui atempadamente, como a CGTP acusou e como anteontem vincava Isabel Moreira - deputada que nem sequer entrou pela esquerda no grupo parlamentar do PS.
A "razoabilidade" dos mais fracos (em casos claros, a tibieza, cumplicidade ou mesmo intencionalidade) parte a corda sempre para o mesmo lado. Aceitar o pagamento dos subsídios em duodécimos apenas vai permitir baixar mais os salários prosseguindo o desígnio do país de baixo custo terceiro-mundializado.
(Foto:http://ancienthistory.about.com)
Paula Castanho tem tempo suficiente de jornalista para saber as implicações do uso dos artigos definidos na construção de uma frase rigorosa e objectiva.
Ao acompanhar em São Bento os protestos contra o Orçamento de Estado 2013 diz em determinada altura que "agora" ouvem-se aplausos. No entanto confessa-se incapaz de perceber os motivos para estes. A jornalista afirma não ter ouvido declarações novas: apenas as habituais frases contra "os" deputados. O que poderia com legitimidade e rigor afirmar seria, quando muito, "apenas as habituais frases contra deputados", sem o artigo "os" que transforma alguns deputados em todos os deputados. A percepção é feita no domínio do quase subliminar. O que ainda torna as coisas mais graves.
Ora, se estiveram atentos ao dia político, os jornalistas têm obrigação de saber que a manifestação era contra o Orçamento de Estado. E logo contra os partidos que o aprovaram. Leia-se, PSD e CDS-PP com a excepção do deputado madeirense Rui Barreto.
Em nome da simplificação do discurso, ou da simplicidade de análise, não vale misturar todos os deputados no mesmo magote. Bernardino Soares e António Flipe do PCP foram alguns dos que os directos televisivos apanharam junto aos manifestantes. Estariam lá outros, de outros partidos. Não parece que tenham sido importunados. E se a saída de deputados em viaturas complica a identificação do parlamentar e leva ao apupo preventivo, não será por isso que os manifestantes de ontem não sabem distinguir o seu trigo do seu joio. A manifestação contra o orçamento de Estado para 2013 não foi nem contra a CDU, nem contra o BE e, no caso específico e concreto, nem dirigida ao PS, que ontem pode ter feito um certo corte com o passado mais recente.
O artigo definido usado por Paula Castanho é populista e demagógico. Aquilo que comunica, aquilo que põe em comum - de acordo com o étimo latino - não é objectivo, não é rigoroso, não é verdadeiro. Contribui para a estupidificação do discurso. Para a ideia de que eles, os políticos, são todos iguais. Mas não foi isso que aquela gente que esteve ontem em frente à Assembleia da República disse. Os manifestantes têm os seus alvos muito bem definidos. Dos estivadores, ao Movimento Sem Emprego, à CGTP, aos outros que lá estiveram. Passar o contrário nos canais televisivos cria nos espectadores que não estão no local uma realidade alternativa. A ilusão de que não há alternativas.
Já tive esta discussão com um ex-editor meu. A do uso dos artigos definidos. Recusava o meu ponto de vista. Cinco anos de estudos em Ciências da Comunicação, quase vinte anos de jornalismo, por acaso com os primeiros passos em redacção dados no mesmo sítio que a jornalista da SIC, e ninguém lhe ensinou os poderes performativos da semântica. Uma coisa que nem os antigos sumérios, há mais de quatro mil anos, ignoravam.
O FMI é uma máquina de destruir países. A afirmação que há pouco tempo seria encarada pela maioria como um excesso de radicais, é assumida pela própria responsável máxima do fundo.
Christine Lagarde reconheceu há dias o falhanço em toda a linha do FMI. Erros de cálculo, efeitos secundários das medidas que propõe. Na altura não se escreveu nada. Para quê? Há muito tempo que se disse por aqui o que Christine Lagarde admitiu finalmente. Sobre a instituição, sobre as inevitabilidades defendidas pela maioria dos comentadores.
Quando já tudo se sabe há anos, mas quando tudo o que se sabe era ridicularizado pelo status quo, valerá a pena tirar desforço?
Ontem Jorge Sampaio, cujas boas intenções e humanismo ninguém negará, voltava ao projecto do Governo de Salvação Nacional, em entrevista na SIC Notícias. A medida, pedida por muitos em 2011, e agora recuperada, é uma coisa tecida entre os velhos partidos do arco do poder, deixando de lado CDU e BE.
Quem o pede ainda não percebeu nada. Nesse Governo, não entra um único dos partidos que na devida altura tenha contestado a tróica e suas medidas. Não entra nenhum dos que avisou para o que aí vinha. Nenhum dos que acertou na necesssidade de medidas que agora são já admitidas por quase todos, como a renegociação da dívida. Ou dos que há uma dezena de anos alertaram para os perigos da moeda única numa economia como a portuguesa e que, também por isso, foram mais uma vez marginalizados e hostilizados.
Nem sequer colhe o argumento de que CDU e BE recusaram receber a tróica quando ela entrou por ai a dentro. Nenhuma pessoa honesta acredita que CDU ou BE teriam demovido BCE, Comissão Europeia e FMI de aplicar a velha e tradicional receita que já se sabia iriam aplicar. Estava escrito nas estrelas mas só CDU e BE alertaram para as consequências catastróficas de em paralelo sanear as finanças públicas e pagar a dívida externa com juros agiotas.
Em Belém, Cavaco pode vir agora, pelo Facebook, acertar na necessidade de relaxar o cumprimento do défice público. Pode ter pedido, há que tempos, em Florença, a unidade dos Estados na resposta à crise. Mas o que é que fez, antes e depois, para ser consequente com essas afirmações? Veja-se, por exemplo, o discurso do 5 de Outubro.
Chegado ao poder, o PSD tratou de aplicar uma mézinha que há muito queria aplicar. No interior laranja, ninguém se lhe opôs de modo audível. A reacção interna só agora começou. Para quem tem acompanhado o percurso político de Mota Amaral, não surpreende que não tenha aplaudido a defesa do Governo durante a discussão recente das moções de censura. Não surpreenderá que chumbe o orçamento para 2013.
No CDS-PP adaptou-se o discurso, como se tem feito sempre. Ali não há convicções. Há populismo. E, se não ficarem no poder com o PSD, não desdenharão ficar com o PS. Estão no Ministério da Solidariedade onde a lógica é da aplicação de terror social. Não saberiam que seria assim? Felizmente, vai grassando o desconforto com os falhanços das previsões de Gaspar, que ainda se vê descrito, aqui e ali, como um técnico respeitável e conhecedor. Sairá expulso por indedente e má figura, quando nunca lhe deviam ter dado o direito de admissão.
O país está pior do que há um ano e seis meses. Daqui a um ano e seis meses estará ainda pior. Mas, no PS, em altura de emergência nacional, António José Seguro resolve discutir uma medida populista de redução do número de deputados. Parece mais interessado na burocrática perpetuação no poder dos partidos do pântano. Ensaia também uma certa união dos países do sul contra os países do norte, mas nada diz sobre arrasar os fundamentos suicidas da União Europeia.
Sem o BCE a financiar os Estados - como defendeu ontem a CGTP no final da marcha contra o desemprego, na concentração frente ao Parlamento, sem que a imprensa faça disso eco claro - e sem uma reconstrução europeia que deite fora os fundamentos destruidores do Tratado de Maastricht, não há esperança para Portugal nem para a Europa do Sul. Sem o fim e a nacionalização das parcerias público privadas e sem obrigar os bancos a investir no fomento, a economia portuguesa não recuperará.
Nos três partidos do tal governo de salvação nacional, ninguém admite tocar nisto. Ainda não perceberam que têm de deitar tudo fora. Mesmo que queiram que tudo fique na mesma.
(Foto: dinheirovivo.pt)
Portugal parece não ter um plano B para quando as políticas de austeridade falharem. Mas não será por falta de avisos antigos. Até porque vai falhar, como se sabe bem desde antes de Passos Coelho ter sido sequer eleito. Sócrates ajudou, mas a situação internacional empurra para o desastre. Para quem duvidar, estão aí vários nobel da Economia a dizê-lo. Não é que Stglitz e Krugman sejam nariz de santo, mas é que os que costumam duvidar são os mesmos que ouvem os economistas com uma fé que não dedicam a Nossa Senhora de Fátima.
O que já se duvida é que falte a Portugal um Plano B para a eventual queda do Governo ou chumbo do Orçamento de Estado. Basta dar uma volta pelas caixas de comentários de blogues e jornais para ver que o cheiro a fumo branco já encheu o Largo do Rato. Mas em Belém não deve haver interesse em convocar novas eleições e, chamuscado com a experiência santanista de Jorge Sampaio, Cavaco deverá recear procurar um novo primeiro-ministro apenas dentro da actual maioria de direita.
Já um Governo tecnocrático de iniciativa presidencial e base alargada deverá estar a ser equacionado. Sabe-se que depois de se anunciar a TSU, Cavaco, que não tem a esquerda da CDU e do BE representada no Conselho de Estado, demorou duas semanas a receber a CGTP. Aquilo é gente que valoriza a estabilidade política acima de todas as outras. Rui Rio, Manuela Ferreira Leite, Marques Mendes, António Vitorino, António Costa, Vítor Bento, Eduardo Catroga, Bagão Félix devem ser alguns dos nomes revirados. Portas precisa de uma sabática e não poderá entrar, mas, num cenário destes, um Pires de Lima ministro não será uma aposta arriscada.
Absolutamente transgeracional, a manifestação de ontem no Terreiro do Paço não teve a amplitude sociológica do 15 de Setembro, ou da vigília do Conselho de Estado.
João Proença, que pertence à Comissão Nacional do Partido Socialista, pode ter ajudado a desmobilizar muitos dos afectos aquele partido, mas a debandada do grosso da multidão após ouvir o discurso de Arménio Carlos, o secretário-geral da CGTP, também indicia um perfil diferente dos protestos. A essa hora, ainda um grosso caudal de gente desfilava compacta entre o Rossio e o Terreiro do Paço. Do ponto de vista da organização e da eficácia, tinha-se ganhado em fazer a coisa transbordar e durar.
O recuo na TSU, trocado por medidas igualmente gravosas em termos financeiros, pode ter acalmado muita gente, e Cavaco demorou duas semanas para ouvir a CGTP acerca desse assunto. A intenção de marcar uma Greve Geral, aberta à participação da UGT, segue em rota de colisão com a forte opinião publicada. Acabará por soar a marcação de ponto. A não ser que o Orçamento de Estado reavive hostes.
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