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No ano em que se comemora o centenário da revolução soviética seria interessante que se reeditassem alguns livros russos.
Parece que sairá finalmente, em português de cá, o Eugéne Onéguin, de Púchkin, editado pela Relógio d'Água e traduzido por Nina e Filipe Guerra. E talvez se esgote o cânone russo oitocentista que havia por publicar.
Depois, há umas quantas obras directamente relacionadas com a revolução de 1917, críticas ou de louvor, que não terão sido traduzidas directamente do russo e que se encontram há muito esgotadas. Obras de três autores soviéticos premiados com o Nobel da Literatura.
A Sextante tratou de duas. Em 2008, reeditou Doutor Jivago, do Nobel da Literatura de 1958, Boris Pasternak, com tradução de António Pescada. Em 1965, a obra, uma história de amor atropelada pela revolução, deu origem, como se sabe, ao filme homónimo de David Lean. Um épico com Omar Shariff, Julie Christie, Geraldine Chaplin e o português Virgílio Teixeira.
Em 2012, pela mão do mesmo tradutor, António Pescada, a Sextante publicou Um Dia na Vida de Ivan Deníssovitch, de Aleksandr Soljenítsin. Crítico do poder soviético, o autor venceu o prémio Nobel da Literatura em 1970. Já depois da queda do regime apoiou grupos nacionalistas próximos do saudosismo czarista e manifestou por várias vezes a sua oposição à democracia. Estranhamente, dois dos seus outros livros paradigmáticos, O Pavilhão de Cancerosos e, principalmente, Arquipélago de Gulag não se editam em Portugal desde 1977 (Bertrand) e de 1975 (Dom Quixote).
Já do lado de um apoiante da revolução, estão também por traduzir do russo os quatros volumes de O Don Tranquilo, de Mikhail Chólokhov, Nobel da Literatura em 1965. Um ou outro destes volumes ainda se encontram, mas com dificuldade, nas livrarias, na versão dos Livros do Brasil, que lhe preparou a derradeira edição em 1983. Foi também publicado pela Civilização e pelo Círculo de Leitores.
Caso não se tenha reparado, além de um projecto frustrado, Tempos Modernos é o nome de um filme de Charles Chaplin, de uma revista de Jean-Paul Sartre e de um álbum de Bob Dylan.
É a segunda vez, em pouco tempo, que vejo mal atribuída a Woody Allen a frase "Conhecia-a antes de ser virgem".
Santana Castilho usa-a como título de artigo "Conheci o PS antes de ser virgem", referindo-se ao papel do partido no sector da educação. Termina o comentário atribuindo a ideia a Woody Allen.
Ora, a frase tem origem hollywoodesca, sim, mas é mais antiga. E refere-se orginalmente a Doris Day, uma das louras de Alfred Hitchock, o cineasta com quem trabalhou em O Homem que sabia demais e a quem também já vi a frase atribuída.
O autor da frase terá sido Oscar Levant, o sarcástico e demolidor pianista de Um Americano em Paris. Em The memoirs of an amnesiac, a autobiografia que publicou em 1965, recorda a sua última participação num filme da Warner. Fora em 1948, em Romance no Alto Mar, de Michael Curtiz. "Foi o primeiro filme de Doris Day; isso foi antes de ela se tornar virgem", escreveu.
O Feiticeiro de Oz (The Wizard of Oz), Victor Fleming, 1939, é o número 39 na lista da BBC Culture
Aos 24 anos o editor do online da publicação já tinha sido editor de política num jornal especializado.
Regressado, pouco depois, à casa onde estagiara, para chefiar a emperrada versão digital da revista, levava parte do tempo criando listas - uma categoria informativa de indispensabilidade diária segundo as chefias jornalísticas dos dias que correm.
Dessa vez era a dos maiores vilões do Cinema. Depois de olhar para ela, sugeri-lhe que mudasse o título para "Os maiores vilões em filmes produzidos depois de se celebrar o primeiro centenário do cinema". Nem um único dos maus da fita era de um filme anterior a 1995 e o grosso eram vilões já do século XXI.
Ainda assim, achar seis dos 100 melhores filmes de sempre nos 14 anos já decorridos deste século, como fez a BBC Culture, é uma média excelente.
Seis melhores filmes em 14 anos, quase um a cada dois anos, pode não evidenciar um enviesamente quantitativo excessivo. Para os 106 anos anteriores, com muitos mais milhares de filmes disponíveis, os críticos consultados pela BBC Culture escolheram 94 filmes, o que dá quase um por ano. Quem conheça minimamente a História do Cinema (e essa questão é evidenciada na notícia) percebe existir um enviesamento qualitativo, e com bocado de esforço maior até se entendem as dimensões comerciais deste tipo de lista.
Mas onde a notícia causa perplexidade é exactamente no título dado em português. "Só seis filmes deste século estão entre os 100 melhores de sempre do cinema americano". Aqui, o "só" tanto pode ser visto como informativo como incitativo. O "Só" tanto pode indiciar que o cinema tem vindo a decair na quantidade de obras-primas produzidas, como indiciar que a lista anda mal feita.
A título pessoal, o que me enerva é que no lugar de "só", devia antes estar um explectivo "Tantos?".
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