Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Além do cartaz com erro que se vê na imagem, manifestantes de colégios privados com contrato de associação têm usado pelo menos outro de sintaxe aberrante:
"Querem tirar-me a escola que gosto"
Ao menos da qualidade do ensino de português não se podem gabar muito.
Não basta, mas os bons órgãos de comunicação social caracterizam-se pela expressão do contraditório e do pluralismo.
Depois do 25 de Abril, dois cardeais intervieram durante anos na vida pública e política portuguesa. Sempre sem tomarem continuado e notório partido por uma das partes. Mesmo que o seu natural os inclinasse a umas opções e não a outras. Com Manuel Clemente, alguma coisa se alterou em termos de equidistância.
Um certo clima florentino coincidente no tempo com as vésperas da sua subida à púrpura cardinalícia já não prenunciava um magistério particularmente exaltante. Nas vésperas da escolha, o conservador Carlos Azevedo - principal opositor do hoje cardeal - foi atingido por informações e rumores mantidos a circular inclusive por gente inesperada.
Ao engrossar a voz de uma tendência da Igreja - que já nem é muito recente (aqui e aqui) - o cardeal-patriarca de Lisboa apoiou os colégios com contrato de associação: Os pais dos alunos do privado "também financiam as escolas estatais", disse.
A igreja do Papa Francisco não parece ser a mesma de Manuel Clemente, um cardeal de discurso demasiado cesarista, agora confundível com o dos proprietários dos colégios privados.
Na passada sexta-feira, Pedro Passos Coelho avisava o Governo. Os colégios com contrato de associação podiam pôr o Estado em tribunal por não cumprir compromissos.
A ideia não era nova, mas na terça-feira dez colégios deram razão ao ex-primeiro-ministro que, já em final de mandato (depois de três anos de cortes no ensino público, de despedimento de professores, de aumento de dimensão das turmas da escola pública, e de reduções da rede escolar), andou a contratualizar a prestação de serviços educativos com privados: entre o final desta semana e o início da próxima, dez colégios prometeram avançar para tribunal.
São o mesmo tipo de afinidades electivas de que se falou no postado anterior.
Gritou anos a fio contra o Viver acima das possibilidades português - um mantra do PSD e do CDS-PP no Governo. Não há muito tempo, deixou o jornal que dirigia. Poucos meses antes de a publicação fechar crivada de dívidas - um desfecho inexplicável para quem destruiu tanto eucalipto a exigir o empenho nas boas contas.
Saído da direcção do jornal, logo se ocupou. O que é natural. A mobilidade é um atributo de alguns jornalistas - uma gente que roda pelos lugares de chefia e de comentadores na imprensa como se aquilo fosse um carrossel onde não entra mais ninguém.
Ontem, o Sempre Comentador colava o ministro da Educação a Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional de Professores. Já hoje, Passos Coelho explicou acusações de sábado: São da Fenprof os interesses servidos por Tiago Brandão Rodrigues.
As afinidades electivas explicam muitas coincidências, muitas convergências. Mas às vezes ouvem-se os comentários da coisa política e dá a impressão de se estar a ouvir uma orquestra.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.