Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Os Estados Unidos elegem um presidente racista, sexista, intolerante, que ameaça com deportações massivas, violações de direitos humanos.
E os mercados financeiros norte-americanos respondem-lhe em alta.
Confesso alguma dificuldade em perceber organizações nacionalistas chamadas Portugal Hammerskins e a identificar os seus recrutas como hangarounds e prospects.
Para perceber o mundo que cerca Portugal, neste momento um oásis tolerante, interessa publicar um mapa dos actuais governos europeus, com ligações às extremas-direitas xenófobas, autoritárias e anti-imigração:
Manuel Loff, "A lengalenga do Populismo", in Público
Todos conhecemos demasiada gente que se dizia enganada por Passos Coelho e pelas propostas que o levaram ao Governo pela primeira vez.
E, por algum motivo, cerca de um milhão de eleitores debandou da primeira vez que o então primeiro-ministro (com o CDS-PP) foi a votos para legislativas. Cada um terá um motivo bem pessoal para não ter votado nos partidos da coligação. Mas, ainda assim, haverá demasiada gente a fazer leituras esquemáticas da política.
Quando Passos Coelho afirma nunca ter embarcado "na ideia de que Trump é tão mau que tinha de ser derrotado" está a relativizar propostas de índole autoritário, quase fascistas. A caucionar ideias racistas, anti-imigração, sexistas, de agressão às minorias, que nem sequer serão as suas.
Infelizmente, este não embarque de Passos Coelho, esta contemporização com ideias perversas e perigosas, tem demasiados cultores quer no seu partido, quer na comunicação social. E há quem o diga mesmo dentro do próprio PSD do ex-primeiro-ministro.
Da próxima vez que forem votar, os mesmo eleitores que há pouco se diziam enganados, terão isto em conta? Duvida-se muito. Há-de estar lá outro alguém a dar a cara, e as pazes serão feitas. Já nem se lembrarão do relativizar de ataques racistas, sexistas e outros. Se é que relamente acham estas questões importantes.
Mario Vargas Llosa escreveu A Civilização do Espectáculo, Guy Debord A Sociedade do Espectáculo.
Mesmo aquém da problematização necessária, Gilles Lipovetsky escreveu acerca d'A Era do Vazio e d'O Império do Efémero.
Em A conspiração contra a América, Philip Roth ficcionou uns Estados Unidos governados por nazis e pelo muitíssimo popular aviador Charles Lindbergh, vencedor de Franklin Roosevelt, nas eleições presidenciais de 1940. E ficcionou as consequências para a Europa e para o Mundo das cordiais relações com Hitler do hipotético presidente.
O escritor Don DeLillo tem várias obras acerca do real e da sua contaminação pelo espectáculo, veja-se Mao II ou a peça Valparaiso. O recém-desaparecido Nobel Dario Fo expôs as entranhas do teatro dentro do teatro e da realidade.
Apesar das diferenças culturais (e também de valores) entre ambos, Berlusconi e Marcelo Rebelo de Sousa são realidades televisivas. E chegaram antes de Trump.
Comentadores e jornalistas têm explicado ruidosamente como as soluções de Hillary Clinton não responderam aos anseios de deserdados - o que não deixa de ser verdade. E, por extensão, dizem o mesmo das soluções das esquerdas.
Só ainda não explicaram o modo como Donald Trump responderá a esses anseios e como resolverá os problemas que afectam os deserdados. Isso é que era bom de ver.
Nos Estados Unidos, todos os dias são publicadas várias sondagens acerca das presidenciais. Há várias semanas. Têm as mais variadas origens (jornais, universidades, centros de sondagens, etc.) e o Real Clear Politics é um dos agregadores dessa informação.
Tem por isso sido bastante estranho ver os telejornais portugueses a noticiar de modo bombástico os resultados de sondagens concretas - como se fossem a única informação disponível e não conviesse perceber se dizem o mesmo que outras publicadas no mesmo dia.
Nos últimos dias, no LA Times mantém-se há muitas semanas a tendência de vitória de Trump, mas o grosso das restantes sondagens nacionais tendem a dar Hillary Clinton como a próxima presidente dos EUA.
Só que como nos Estados Unidos se pode ter mais votos a nível nacional e ainda assim ter menos grandes eleitores, convém olhar sempre para as eleições estado a estado.
E a oscilação dos gostos não pára nos estados dançarinos. Ou por outra, não pára num dos mais importantes. Na Florida, que elege 29 grandes eleitores, há sondagens para todos os gostos. Já no Ohio, que elege 18, a coisa parece estar decida. A favor de Trump.
Pode dar tudo para o torto, mas apesar da interferência do FBI na campanha e de algumas sondagens, Hillary Clinton tem grande probabilidade de ser eleita presidente dos Estados Unidos da América.
A eleição dos presidentes norte-americanos é indirecta. E, para ser eleito, o candidato tem de garantir 270 votos do colégio eleitoral. Há estados pequenos, que elegem apenas três eleitores (por exemplo, o Alasca, o Wyoming, Washington DC) e estados populosos a eleger 55 eleitores (como a Califórnia), 38 (como o Texas) ou 29 (como a Florida).
Também há estados garantidamente democratas (o Massachussets é um, com 11 eleitores), onde os republicanos não fazem campanha por não valer a pena, e, vice-versa, estados assumidamente republicanos (veja-se o Tennessee, também com 11 eleitores) onde as caravanas democratas nem páram. Aí as urnas estão virtualmente fechadas e os dois maiores partidos norte-americanos contam há muito com esses eleitores como seus.
Depois há, como já se sabe, os estados dançarinos, onde a luta é renhida, e tanto podem cair para um lado como para o outro. E é aqui que tudo se joga. Em estados ambíguos, como a Florida (29 eleitores), Nevada (6), Iowa (6), Ohio (18) não se sabe se a vitória pende para Hillary Clinton ou para Trump.
Tudo contabilizado, no presente momento, Hillary Clinton terá 263 dos 270 eleitores de que necessita no colégio eleitoral para assegurar a eleição. Donald Trump terá 164.
Será expectável que todos os estados dançarinos acabem por votar em Trump, dando-lhe os mais de 100 votos de que necessita? Ou será mais provável que um ou dois desses estados, mesmo que pouco significativos em termos populacionais, acabem por dar a vitória a Hillary Clinton, assim como os sete votos de que necessita para ser eleita presidente dos EUA este domingo?
Há várias semanas que sondagens do LA Times vêm a dar vitória a Donald Trump nas eleições presidenciais de Novembro. Têm sido, aliás, as únicas que de modo consistente atribuem a vitória ao candidato do Partido Republicano.
Ontem e hoje dão empate. O problema é que aquilo que Trump representa não se dissipará após a sua muito provável derrota.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.