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Entendamo-nos. Não tenho propriamente ponto de vista sobre a bondade dos estaleiros navais (com o Alfeite é diferente) serem públicos ou privados. Já tenho quanto às consequência de uma privatização sobre os trabalhadores.
No entanto, pontos de vista como este, de Vital Moreira, mostram a incapacidade de reflexão de boa parte das nossas elites políticas e até universitárias.É que no Governo, actores económicos e jornais não se tem deixado de falar no Mar como sector estratégico.
Pronto. Sabe-se que a ideia do Mar enquanto Nokia portuguesa não saiu de cabeças do PS. Sabe-se também que é significativa a distância entre realidade a prática na boca do Governo: Veja-se a criação simbólica de um Ministério do Mar, para no essencial lhe entregar as competência de uma direcção-geral das pescas. Mas haja alguma convergência.
Nos jornais, não se dá pela incongruência. Nem um comentário. Leu-se diagonalmente Deleuze, Derrida, Merleau-Ponty, e algo continua a falhar na percepção da realidade, seus símbolos, representações.
Apesar do propalado, a aposta no Mar está bem longe de ser uma realidade. Se o fosse haveria quem fizesse algo nesse sentido. O Portugal dos Descobrimentos foi possível graças à intervenção directa e ao investimento da Coroa ou, em fase inicial, de uma entidade para-estatal como a Casa de Viseu, do Infante Dom Henrique, fortemente alimentada por privilégios, monopólios e doações. Não há estratégia nacional sem que se dissemine uma ideia colectiva sobre ela.
Quem ler os textos privados do veneziano Cadamosto, provável descobridor de ilhas de Cabo Verde; o relato pessoal de Álvaro Velho, sobre a armada de Vasco da Gama; ou a carta não oficial de Pêro Vaz de Caminha sobre o achamento do Brasil, logo percebe que os autores sabiam bem o que estava em causa. Comércio e expansão da fé cristã. Não são textos saídos dos circuitos oficiais e, todavia, não faltam as frases dando conta de que sabiam bem o que Portugal estava fazendo com a expansão.
Foi o mesmo há uns anos quando Scolari mandou pôr bandeiras nacionais nas janelas. Quando até dentro do Governo se navega em rumo contrário ao dos discursos está tudo dito quanto à seriedade com que se encara o Mar como estratégia.
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