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Vá lá, nestas, diárias, não mexeram.
Não se percebem especiais vantagens nas mudanças cronísticas do Diário de Notícias. Aproveita-se o momento do abandono das instalações da Avenida da Liberdade (que só por si constitui um crime cultural), sabe-se lá com que consequências para o espólio do jornal.
Parte dos novos cronistas são desconhecidos e logo pouco atractivos, outra parte é demasiado conhecida e logo nada atractiva - a quem é que ainda interessa o que António Barreto anda a repetir há décadas? E Vítor Bento, o ex-conselheiro de Cavaco, já não tem espaço próprio suficiente na televisão?
Depois, esperava-se que não cortassem as crónicas diárias, curtas, de Ferreira Fernandes, o registo em que o jornalista melhor funciona.
Em Novembro, Ferreira Fernandes começou um texto a lembrar que a "Guiné Equatorial, o paraíso africano, aboliu há décadas a pena de morte. Evidentemente, pois não foi colonizada por Portugal, que ainda há pouco garroteava". E foi por aí fora. Atirou a Espanha de há 150 anos para os braços de Victor Hugo que a elogiava por ter abolido a pena de morte, xomparou a manutenção da pena de morte nas antigas colónias portuguesas e a sua abolição nas colónias vizinhas.
Não é preciso saber muito de história, nem sem particularmente culto, para saber que em meados da década de 1970, a Espanha ainda executava presioneiros. Nem que foi Portugal o país que recebeu os elogios do escritor francês pelo papel (quase) pioneiro na abolição da pena de morte - uma abolição que continuamente relembra.
Também era preciso andar muito distraído para não se saber das muitas vozes críticas da adesão da Guiné Equatorial à CPLP por causa do seu registo de violações várias dos direitos humanos e pela retenção da pena de morte. Mais, pelos dias em que Ferreira Fernandes escreveu, por alturas de mais uma cimeira da Comunidade Países de Língua Portuguesa, não faltavam noticiários onde não se criticasse aquela ex-colónia espanhola.
Ainda assim, foram muitos os leitores que sentiram a necessidade de corrigir Ferreira Fernandes e de lhe criticar a ignorância completamente alheados da óbvia, ruidosa e por todos os lados denunciada ironia do jornalista.
Não muito depois, Ferreira Fernandes (FF) escreveu acerca das multas a quem não ceda o lugar nas bichas a velhos, grávidas e deficientes. Começava por dizer que o Estado resolvera proteger aqueles grupos que assim passariam a ser os "Donos Disto Tudo [DDT], na secção das filas". Terminava a saudar as multas que põem na linha gente que nas redes sociais se indignava com a prioridade dada aos velhos.
Mais uma vez ficou com a crónica por entender. No seu comentário, um leitor, madrugador, elencou-lhe mesmo aqueles que, por oposição aos velhos, grávidas e deficientes, serão os verdadeiros donos disto tudo, dos presidentes da República reformados, dos ministros, aos deputados.
O leitor acabou ufano e rutilante: "Sr. FF explique lá o que é ser DDT, devagarinho, porque nós somos pouco inteligentes." Não era preciso dizê-lo. A falta de inteligência do tipo era por demais evidente. E ainda apareceu outro crânio para lhe pespegar com um Like no comentário.
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