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Conto de memória e sujeito a erros. Há uns anos no Instituto de Defesa Nacional, onde fazia um curso de Segurança e Defesa para Jornalistas, contava um dos formadores que em determinada altura se tinha entregue a alimentação das forças da NATO na ex-Jugoslávia a empresas civis de catering. Queria-se poupar e o concurso foi vencido por uma companhia italiana.
Todavia, talvez nem tudo tenha corrido tão bem como o lado financeiro. A tropa portuguesa, por exemplo, já tinha pouca paciência para tanta massa. E as marinhas mundiais já há muito que perceberam a importância da boa alimentação a bordo para manter o moral.
Mas nem é a questão dos apetites que interessa por aí além. Todos os problemas fossem esses. Em determinada altura, uma qualquer unidade militar de um qualquer país acabou uns dias largos cercada e sem abastecimento. Por causa dos riscos, os funcionários das empresas civis recusaram-se a ir alimentar os homens. Coisa que não aconteceria se em vez de companhias de catering, tivessem enviado companhias de administração militar.
Lembro-me sempre destas histórias quando vejo histórias como as do fecho ou alienação do Laboratório Militar, dos hospitais militares, da Manutenção Militar, das Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento e de vários estabelecimentos fabris militares, como os Estaleiros Navais do Alfeite.
Há algum laboratório farmacêutico interessado em desenvolver medicação para o paludismo quando os medicamentos para a queda de cabelo dão mais dinheiro? Tem-se preferido fechar, privatizar, em vez de procurar modelos de gestão, produção e de investigação mais modernos. Lembrei-me de tudo isto por causa dos custos e falhas do SIRESP, que talvez com contratação de meios civis e outra organização das coisas, pudesse ter sido desenvolvido pelos armas, classes e especialidades de transmissões e comunicações das Forças Armadas.
Não é que as coisas não falhem. A minha confiança é até relativamente baixa. Mas os Estados Unidos da América há muito que perceberam a importância para a economia do desenvolvimento de equipamentos. Nem tudo tem de ser aplicado em material de guerra e boa parte dos inventos tem aplicações civis.
A pasta de papel é uma matéria-prima a exportar.
A sua actividade talvez faça sentido em períodos como o actual. E talvez não haja outro remédio.
Mas é uma produção de baixo valor acrescentado.
E o país precisa como de pão para a boca de uma produtividade assente na mais valia dos produtos e em indústria de ponta. Os trabalhadores portugueses produzem pouco não por trabalharem pouco, mas por que os bens que produzem são baratos ou não transaccionáveis.
O sector de que Portugal necessita não é o da produção de matéria-prima que outros irão transformar em produtos que depois exportam para Portugal.
A comunicação social faz sempre grandes parangonas com o crescimento da dívida e dos seus juros.
Disse, e repito: Isso não é notícia, Sobe há anos e, tirando variações locais, continuará a subir, mesmo sem que o Estado contraia mais empréstimos. Foi negociada assim durante demasiado tempo.
As questões relevantes e noticiosas são outras. É possível pagá-la? É possível que caia sem renegociação? É possível baixá-la sem um crescimento económico vigoroso?
Esta, das 18:54, onde Marcelo Rebelo de Sousa dizia que a "estabilidade do sistema financeiro" é "prioridade nacional" era para ser lida com esta, das 19:59, acerca da demissão de António Domingues da administração da Ciaxa Geral dos Depósitos.
Aparecem contratempos, dizia o Presidente da República, "uns dias de manhã", "outros diàs à tarde", "outros à noite" ou "à noitinha."
Os Estados Unidos elegem um presidente racista, sexista, intolerante, que ameaça com deportações massivas, violações de direitos humanos.
E os mercados financeiros norte-americanos respondem-lhe em alta.
Os sinais da economia (aqui, aqui e aqui) parecem ir apontando no sentido do crescimento. Por esta altura, no terceiro trimestre, já se farão sentir alguns efeitos do Orçamento do Estado 2016, em vigor apenas desde Março.
As melhorias não são tão rápidas quanto desejável, mas, para já, vão dando sentido ao que durante anos andaram a dizer aqueles a quem os jornalistas e comentadores televisivos, o conselho de finanças públicas, os partidos de direita e as confederações patronais chamam economistas radicais: Do blogue Ladrões de Bicicletas aos partidos da esquerda da esquerda.
Infelizmente, também, os sinais do sistema bancário europeu, a não resolução dos problemas das dívidas, a inoperância dos poderes europeus, da Comissão, a Berlim, passando pelo Ecofin, podem precipitar tudo no desastre.
Não se entende muito bem o sentido exacto de notícias a dar conta de que a "[d]ívida portuguesa volta a aumentar".
E então, que novidade nisso? A dívida é impagável e, enquanto não for reestruturada, não irá parar de crescer, como é público e notório há pelo menos cinco anos. A coisa não nasceu agora e tem raizes num modelo de crescimento que Cavaco já cultivava.
Só os jornalistas de economia e as suas fontes privilegiadas é que ainda não deram por isso.
Para falar do Orçamento do Estado de 2017, José Gomes Ferreira levou ao programa Negócios da Semana, na SIC Notícias, João Duque, Paulo Núncio e Vasco Valdez.
Nos primeiros tempos da tróica, e já antes, João Duque era um dos mais fervorosos apoiantes das medidas de austeridade e do Governo PSD/CDS-PP. Paulo Núncio, do CDS-PP, e Vasco Valdez, do PSD, são dois antigos secretário de Estado dos Assuntos Fiscais - o primeiro com Pedro Passos Coelho, o segundo com Cavaco Silva e com Durão Barroso
Onde é que está cumprida aquela ideia peregrina de que os "factos devem ser comprovados, ouvindo AS PARTES com interesses atendíveis no caso"?
Os jornais acabaram há muito com o pluralismo e com a variedade de vozes. Uma parte muito significativa – ou pelo menos a parte mais audível – dos meus camaradas jornalistas de política e de economia no activo pouco se distingue de correntes transmissoras de uma ideia única.
O grosso do comentário que fazem é de uma pobreza confrangedora, repetido uns dos outros, alicerçado em lugares comuns, em preconceitos e em agendas com que convivem acriticamente. O único que vi a prever o Governo que hoje temos foi, aliás, despedido pouco depois - o que deve querer dizer qualquer coisa.
Quanto aos directores são quase sempre os mesmos, em quase todos os lugares. Há mais de dez anos, um grupo quase fechado a dançar entre as mesmas cadeiras. E, apesar de focos de qualidade aqui e além, o geral do produto jornalístico é abaixo de cão. E as vendas também não são famosas. Com os que estão, meço as palavras, não se cumpre (nem cumprirá) a obrigação constitucional de informar.
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