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Salvo erro, era para As Naus que António Lobo Antunes tinha um título de que foi forçado a desistir por já haver já um livro com o mesmo nome. Deve ter deixado de ser obstáculo. Mas
E, contudo, não faz absolutamente nenhum sentido editorial ou comercial que se publique um livro de um jornalista com o mesmo título do mais que clássico e fundador romance de não-ficção de Truman Capote.
O Círculo de Leitores lança este trimestre O Arquipélago de Gulag, de Aleksandr Soljenítsin.
Há meia-dúzia de dias, através do formulário de contacto da Sextante que tem publicado os livros do autor, perguntei se estava prevista a edição da obra. Queria complementar com uma possível novidade algo que estava a escrever.
Ainda aguardo a resposta e ainda bem que publiquei o postado sem esperar por eles. Podia ter pegado no telefone, mas era aqui para o blogue, o que os desmotivará a responder, e não tinha especial urgência. Afinal, bastava que me tivessem escrito Sim, vai sair primeiro no Círculo de Leitores. Podiam até acrescentar, caso fosse o caso, que a informação estava embargada. Valia a pena estar a fazer a via sacra das passagens de telefonemas e ocupar um par de pessoas, além de mim, com uma resposta tão rápida?
Devo continuar a acreditar em elfos e no Pai Natal do mesmo modo que acredito no jornalismo asseado. Fala-se muito da instantaneidade das redes sociais, mas e o e-mail e os formulários de resposta - que permitem a mesma rapidez - continuam a não ser usados por uma série de gente. Nem sei para que os têm.
Quando o livro baixar dos 30 euros, daqui a uns 18 meses, compro-o. Quem já aguardou tanto tempo pela leitura de O Arquipélago de Gulag, pode esperar mais um pouco.
Ainda algumas notas: pela rápida vista de olhos à revista do Círculo de Leitores não se percebe se a tradução é feita do original russo. O texto de apresentação põe a tónica no prefácio de Natália Soljenítsina, a mulher do autor, que descreve as complicadas condições de escrita e de publicação da obra e perseguições políticas sofridas pelo vencedor do Nobel da Literatura de 1970, o ano em que nasci. Também não se faz um enquadramento do controverso percurso ideológico e intelectual do autor e da sua defesa de uma "Rússia profunda, ainda impregnada de cristianismo" - como se pode ler no texto de apresentação de A Casa de Matriona seguido de Incidente na Estação de Kotchetovka, outras obras disponíveis.
E, entretanto, ainda não sei se está também prevista a reedição de O Pavilhão de Cancerosos.
O título Quinta-feira e outros dias, livro de memórias de Cavaco Silva, parte de uma ideia interessante - é o dia que em Belém se reserva para as reuniões com o primeiro-ministro - mas acaba a meio caminho entre o de uma novela romântica e o de um livro de auto-ajuda. A capa lembra as estilizações modernas dos livros que em tempos pertenciam à colecção Sabrina.
Deve pressupor-se, pois, que os destinatários são os mesmos? Diria que não, mas depois há a pré-publicação da coisa no Expresso que não favorece esta expectativa. Falta sumo às revelações. O que o semanário destacou, a fazer fé nas televisões, foram as reuniões sonolentas de Cavaco primeiro-ministro com o Presidente da República Mário Soares; os atrasos sem aviso de Sócrates, em quem Cavaco não acreditava; a pontualidade de Passos Coelho, que aguardava calado as perguntas do inquilino de Belém.
Algum jornalismo há-de gostar disto a que chamam detalhes, pormenores que só por mero acaso definem um carácter. Mas se editores e jornalistas não encontraram no livro mais do que estes circunstancialismos sem concretização substancial, confirma-se pela enésima vez a espessura do autor. Ou então querem fazer suspense com o sumo.
Às vezes, o politólogo André Freire sai-se com umas ideias de aproximação dos eleitos aos eleitores que não se vê muito bem que efeito trarão que não o de estragar a proporcionalidade, beneficiar os candidatos a deputado que aparecem muito nas televisões e reforçar a bipolarização.
Finalmente, parecia dizer umas coisinhas com mais sentido. Mas estragou tudo quando explicou o título do seu novo livro, Para lá da "Geringonça":
Em desacerto deontológico cedeu à pressão comercial e escolheu um título que engana o leitor quanto às convicções e pressupostos científicos e de cidadania de que o autor parte.
Não gosto de imagens de filmes nas capas dos livros.
Não gosto de livros com prefácios porque sim. As livrarias estão cheias de prefácios de gente que não acrescenta nada à obra ou que só os escreveus por ser famosa.
Não gosto de livros de capa dura.
Não gosto de livros do género a Biblioteca de Fulano de Tal ou Colecção Coordenada por Sicrano não sei quantos.
Não gosto de livros que mudam de capa sem motivos que o justifiquem.*
Raramente os compro.
* Um Amor Feliz, de David Mourão-Ferreira foi, em tempos, um caso de mudanças de capa com sentido
Durante anos a fio ouvi-lhe as piadas acerca das várias centenas de títulos feitos pelos directores e pelos seus colegas editores da revista em redor da mesma ideia:
“Os mais isto”, “os melhores aquilo”.
Publica agora um livro-guia com o mesmo tipo de título.
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