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As regências andam pela ordem da morte.
O autor escreve que "não é essa a solução de que o país precisa". No corpo da notícia, no Expresso, mas talvez o erro venha da Lusa, até citam a frase correctamente. Mas no super-lead, o mais visível para os leitores, tratam de lhe destruir a sintaxe. Põem a frase entre aspas, mas apagam a preposição "de". Escrevem antes "não é a solução que o país precisa".
Tanto lhes faz.
Aliás, no outro dia, uma editora, um potentado do sector, mandou-me pela segunda vez uma frase a publicitar "os livros que mais gosta" . Reclamei, segunda vez. Expliquei-lhes novamente que se diz "os livros de que mais gosta".
Já nem de ouvido se chega lá, tantas são as vezes em que deglutem as preposições na televisão. Por isso, o melhor é decorar a regra: o verbo gostar e o precisar são, aqui transitivos indirectos e regem um complemento oblíquo introduzido pela preposição de.
Já há uns anos deixei de fazer compras em várias editoras na Feira do Livro de Lisboa.
Desde que uma delas, salvo erro a Leya, se acantonou dentro de um perímetro fechado com portas de vigilância eletrónica. Entretanto, a Porto Editora também faz o menos.
Passo-lhes ao lado e só visito pavilhões fora do regime concentracionário. Os preços, a falta de espaço em casa, o acordo ortográfico, as aquisições de várias editoras independentes, o sistemático esgotar de obras decisivas tornaram-me a viagem penosa.
Depois, em cada porta electrónica especaram seguranças - um perfil laboral que faz tanta falta ao sector editorial como torresmos num banquete judeu.
Como isto anda tudo ligado, há uns anos, a revista lembrou-se de submeter um romance alegadamente inédito a várias editoras portuguesas. Era o Para Sempre ou Até ao Fim, de Vergílio Ferreira.
Uma das poucas editoras que confirmou a recepção do manuscrito declinou a publicação, mas agradeceu com um conselho: Demasiado densa para uma primeira obra.
Não só os editores não identificaram a obra, como a acharam demasiado exigente para os leitores.
Nesta espécie de prova cega, a resposta da editora à jornalista da revista não desvalorizou o romance apresentado. Apenas confirmava não estar disposta a apostar em primeiras obras difíceis. Optava, pois, por escolher - leia-se editar -, o joio em vez do trigo.
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