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Sem estender muito o perímetro, conto aqui, em redor de casa, seis cafés familiares. Desses geridos por um casal, vivendo de cafés rápidos ao balcão, um ou outro bolo ou salgado, uma dúzia de refeições ligeiras diárias. Quatro contam com um terceiro familiar como empregado, filhos, todos eles. O quinto mantém uma funcionária, apenas à hora das refeições, sem qualquer parentesco com os donos.
Rodo-os a todos nos meus cafés diários, distribuindo mais ou menos equitativamente os 60 cêntimos do consumo. Quando lá entro fora das horas de ponta, sou, muitas vezes, o único cliente. No café com empregada, tirando os donos, não me recordo de ter visto alguém a almoçar.
Nenhum deles fará grande dinheiro ao fim do mês. Vão andando, uma vida atrás do balcão, abrindo das 8h às 20h, alguns até durante mais horas. São o tipo de negócio que o primeiro governo de Passos Coelho e Paulo Portas quis dar à morte. Sem competitividade, sem capacidade de afirmação no mercado, tão diferentes da pastelaria vizinha, empreendedora, sempre cheia, umas duas dezenas de empregados, bolos e pão feitos na casa, em contínuo, uma centena de almoços diários, sucursais noutros pontos da cidade, carrinhas de distribuição própria – um negócio certificado.
A subida do IVA dos 13 para os 23 por cento terá fechado muitos cafés e restaurantes. Estes aqui, em redor de casa, aguentaram-se. Duvido muito que corrijam os preços quando o imposto voltar aos 13 por cento. E, é verdade, nem sempre me dão a factura. Também não a quero para nada e acaba quase sempre por ficar em cima do balcão ou perdida entre a minha muita papelada doméstica.
Nestes anos de tróica, Passos e Portas, sem estes muito milhares e milhares de negócios familiares, parados no tempo, não competitivos, longe de modelares, sem qualquer valor acrescentado, de que teriam vivido estas famílias de gente com a quarta classe? Onde teriam ido parar as famílias do casal proprietário e da filha empregada dos seis cafés aqui em redor de casa?
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