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Vieira da Silva, ministro do Trabalho de António Costa, tem atrás um homónimo ministro daninho de José Sócrates.
Ao contrário do dito por muitos analistas aquando da formação do Governo em funções, Vieira da Silva estará muito longe de agradar à esquerda.
A recuperação do encosto dos feriados aos fins-de-semana é bandeira de que muito gostam os que acabaram com quatro feriados da última vez que estiveram do Governo. Curiosamente são os mesmos que se zangam com as greves marcadas para as sextas-feiras, que o mesmíssimo argumento serve-lhes para tudo. Ignoram também os ganhos do turismo e da restauração com as pontes, assim como o retorno em IVA e IRC.
Para já, o anúncio de duas medidas decentes que só pecam por tardias e limitadas. Por um lado, os cortes - devia ser o fim deste regime de trabalho forçado - nos contratos emprego-inserção, por outro o aumento da Taxa Social Única nos contratos a prazo.
Passos Coelho e o PSD insistem que foram recuperados os empregos perdidos com a tróica.
Independentemente da propaganda, no jornalismo não se deu por nada. A quase totalidade dos duzentos postos de trabalho perdidos não foram repreenchidos.
(Foto: abola.pt)
É oficial. Passei a achar que não ganho o suficiente para fazer compras nos supermercados de Belmiro de Azevedo.
Desde o 1º de Maio do ano passado (ou da sua ida para os Países Baixos, para fazer pela vida, o que tiver sido primeiro) que não entro num estabelecimento de Alexandre Soares dos Santos. Com Belmiro tem a subida honra de oscilar entre os primeiros postos das pessoas mais ricas de Portugal, gente a quem a crise tem sorrido e dado oportunidades.
Se fechassem as lojas não se perderia grande coisa. Não produzem bens transacionáveis e ninguém acredita que não abrissem no seu lugar outros estabelecimentos onde os portugueses pudessem fazer compras e que lhes contratassem os actuais e - se calhar inferindo abusivamente - mal pagos empregados.
(Foto: rotekulturlinks.de)
Angela Merkel tem um futuro terrível. A história reserva-lhe um papel cruel como a mulher estúpida e ideologicamente fanática que conduziu todo um continente para o abismo económico, cercado de gauleteirs igualmente estúpidos e submissos. Da história desta crise não constará a redenção. E é inútil remar em sentido contrário, como se continua a fazer na agenda noticiosa. Os jornais falharam a crise e passam diariamente ao lado da história enquanto se dedicam à propaganda dos interesses dos seus proprietários.
Há dias, Angela Merkel anunciou o mercado único europeu do trabalho, uma coisa que se está a construir num processo que "durará anos, talvez décadas". É fácil de explicar como funciona a brilhante ideia da governante alemã. Primeiro, destroem-se as economias dos países do sul. Terraplam-se direitos sociais e esmagam-se os salários. Depois, essa mole de gente empobrecida emigra Europa fora - com a vantagem de que boa parte dessa gente é, hoje, profissional e academicamente qualificada. Qualquer melhoria salarial em relação ao país de origem será encarada como uma benção.
E quando esses milhões de trabalhadores, não tão bem pagos quanto isso, forem em número suficientemente alto nos países de destino, nas Alemanhas e quejandos, os salários locais acabarão pressionados pelos valores mais baixos dos igualmente qualificados trabalhadores do sul. E a compressão salarial que hoje se sente em Portugal, na Grécia, em Espanha, será então sofrida na pele pelos empobrecidos trabalhadores alemães.
Pelos mesmos trabalhadores alemães que hoje votam em Angela Merkel e que se queixam de andar a trabalhar para os preguiçosos e corruptos parceiros lisboetas, atenienses e madrilenos. Nem nessa altura perceberão como se deixaram embarcar numa narrativa ideológica, falsa e fanática que visava transformar o estado de bem-estar social europeu numa coisa capaz de competir com a selvajaria social chinesa.
(Foto: m.publico.pt)
Enquanto à esquerda se prossegue sem dar indicações reais ao eleitorado de que se pode contar com ela na governação, no Partido Socialista vive-se alinhado com o habitual. Com a lógica e alianças que conduziram o país ao ponto em que está.
Ontem, apenas quatro parlamentares do PS votaram contra o pagamento em duodécimos de metade dos subsídios de férias e de Natal no sector privado. Seis abstiveram-se. Os restantes votaram ao lado da maioria que suporta o Governo, de onde veio a ideia.
A deputada Isabel Moreira tem andado muitas vezes desalinhada com o PS. Foi uma das que votou contra. Mais uma vez o grupo parlamentar do Partido Socialista não contou com o seu voto. A justificação é límpida: "O que aqui está é o abrir da porta para a eliminação dos subsídios, os quais, sendo remunerações, são direitos fundamentais."
No PS não se entende a coisa da mesma maneira. Tal como não se entendeu quando Vieira da Silva agravou o Código do Trabalho de Bagão Félix. Ou como quando, já com Passos Coelho, otou a favor de mais alterações ao mesmo diploma. No essencial, desde Bagão Félix que se tiram direitos aos trabalhadores transferindo-os para o lado mais forte da relação laboral. Sempre com os votos favoráveis do PS.
Ao contrário do que alguns defendem, nenhum partido português é imprevisível. São todos aliás de uma previsibilidade notável. Bem pode o PS apresentar no comentário publicado dezenas de pontos de vista contestando a austeridade do Governo PSD/CDS-PP. Quando se trata de votar questões ligadas às questões salariais e das relações de trabalho - assuntos matriciais num partido socialista -, o PS tem sistematicamente votado ao lado dos partidos da Direita. Mesmo quando - é o caso agora - o seu voto contrário em nada impediria a aprovação da medida.
Em recente entrevista ao Diário de Notícias, Vital Moreira considerou um equívoco aquilo que designou como "flirt" do PS com os partidos à sua esquerda. Apenas mais um ponto de vista semelhante a outros que tem manifestado. E todos bastante mais adequados ao sentido geral de actuação do PS do que os de Isabel Moreira, uma das deputada que vai dizendo coisas de esquerda aos eleitores.
Uma publicação que está agora nas bancas fez tema de capa com aquilo que diz que é necessário fazer para se ser contratado por umas dezenas de empresas.
Acrescento ideias para se ser contratado por mais uma: Achar brilhantes todas as ideias dos directores e não responder aos ataques, prepotências, má-criações e deficiências de carácter de chefias.
(Foto:http://ancienthistory.about.com)
Paula Castanho tem tempo suficiente de jornalista para saber as implicações do uso dos artigos definidos na construção de uma frase rigorosa e objectiva.
Ao acompanhar em São Bento os protestos contra o Orçamento de Estado 2013 diz em determinada altura que "agora" ouvem-se aplausos. No entanto confessa-se incapaz de perceber os motivos para estes. A jornalista afirma não ter ouvido declarações novas: apenas as habituais frases contra "os" deputados. O que poderia com legitimidade e rigor afirmar seria, quando muito, "apenas as habituais frases contra deputados", sem o artigo "os" que transforma alguns deputados em todos os deputados. A percepção é feita no domínio do quase subliminar. O que ainda torna as coisas mais graves.
Ora, se estiveram atentos ao dia político, os jornalistas têm obrigação de saber que a manifestação era contra o Orçamento de Estado. E logo contra os partidos que o aprovaram. Leia-se, PSD e CDS-PP com a excepção do deputado madeirense Rui Barreto.
Em nome da simplificação do discurso, ou da simplicidade de análise, não vale misturar todos os deputados no mesmo magote. Bernardino Soares e António Flipe do PCP foram alguns dos que os directos televisivos apanharam junto aos manifestantes. Estariam lá outros, de outros partidos. Não parece que tenham sido importunados. E se a saída de deputados em viaturas complica a identificação do parlamentar e leva ao apupo preventivo, não será por isso que os manifestantes de ontem não sabem distinguir o seu trigo do seu joio. A manifestação contra o orçamento de Estado para 2013 não foi nem contra a CDU, nem contra o BE e, no caso específico e concreto, nem dirigida ao PS, que ontem pode ter feito um certo corte com o passado mais recente.
O artigo definido usado por Paula Castanho é populista e demagógico. Aquilo que comunica, aquilo que põe em comum - de acordo com o étimo latino - não é objectivo, não é rigoroso, não é verdadeiro. Contribui para a estupidificação do discurso. Para a ideia de que eles, os políticos, são todos iguais. Mas não foi isso que aquela gente que esteve ontem em frente à Assembleia da República disse. Os manifestantes têm os seus alvos muito bem definidos. Dos estivadores, ao Movimento Sem Emprego, à CGTP, aos outros que lá estiveram. Passar o contrário nos canais televisivos cria nos espectadores que não estão no local uma realidade alternativa. A ilusão de que não há alternativas.
Já tive esta discussão com um ex-editor meu. A do uso dos artigos definidos. Recusava o meu ponto de vista. Cinco anos de estudos em Ciências da Comunicação, quase vinte anos de jornalismo, por acaso com os primeiros passos em redacção dados no mesmo sítio que a jornalista da SIC, e ninguém lhe ensinou os poderes performativos da semântica. Uma coisa que nem os antigos sumérios, há mais de quatro mil anos, ignoravam.
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