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"Não há alternativa a mais austeridade", diz à TSF, um tipo que é vice-presidente da Galp. A empresa é uma das energéticas que a autoridade da concorrência (e o Governo) deixam fixar dos preços dos combustíveis mais altos da Europa.
Continua sem se perceber muito bem que motivo levará a que estas figuras tenham tanto interesse para os jornais. A comunicação social teima em dar-lhes largo espaço para dizerem o que lhes apetece sobre a situação de catástrofe política e económica em que o país vive.
Palha da Silva é mais um cuja preocupação com o bem comum é uma questão marginal. Ouvir sobre a situação do país alguém cujo preocupação é assegurar os lucros mais altos possíveis para a empresa onde trabalha, é assim como se se fosse pedir ao Pinto da Costa para comentar a contratação do Jorge Jesus pelo Benfica.
(Foto: spox.com)
É natural que Wolfgang Schaüble, ministro das Finanças da Alemanha, lamente a decisão do parlamento cipriota. Cúpido, contava já com a transferência das contas russas para a banca alemã.
Duvida-se que o preocupasse por aí além a origem das massas. No caso de Chipre isso só trouxe preocupações agora que a coisa deu para o torto. Nunca antes.
Também pouco importa que os clientes da banca cipriota se vejam forçados a alavancar os falhanços das instituições financeiras locais, como um vulgar accionista habituado a ver os lucros bem remunerados. No fundo, é algo assim como obrigar o caríssimo leitor a entregar parte das suas poupanças para acudir ao dono do talho onde habitualmente se abastece e que está na iminência de falir.
O pessoal das energéticas, que não brinca em serviço, até já se ofereceu para assumir a reestruturação do sistema bancário cipriota. Se companhias fruteiras norte-americanas governaram países inteiros na América Latina, se o sistema bancário subjuga actualmente vários países europeus - Portugal incluído - haverá problema de maior caso a Gazprom venha a governar Chipre?
(Foto: metroecuador.com.ec)
A nacionalização de quatro filiais da Iberdrola, na Bolívia, foi recebida com espanto e horror por uma boa parte dos comentadores online do Público.
Na cabeça daquela gente, a nacionalização faz parte do cardápio das ditaduras e qualquer empresa pública tem falência e ruína como destinos inevitáveis. Catequese, não mais que catequese.
É um mesmo tipo de fé que se vê nos militantes da National Rifle Association. Num e noutro caso, quem pode dizer a um crente que aquilo em que acredita está bem longe da cair no domínio da infalibilidade?
Evo Morales, o presidente boliviano, diz que as filiais da pretrolífera espanhola cobram o dobro das tarifas nas zona rurais do país. Que não pode ser. Que toda a gente tem direito à energia. E se se expropria a propriedade da Iberdrola, não se deixa de prever o pagamento de indemnizações. A energética espanhola vai querer receber mais, o Estado boliviano vai querer pagar menos. Mas não se trata de um saque.
Depois, nada, absolutamente nada, nas "leis" da Economia dita a gestão pública como pior que a privada. Que haja quem, em muito lado, se encarregue de o fazer parecer, são contas de outro rosário.
De qualquer forma, atendendo aos custos das parcerias público-privadas para as contas do Estado português, talvez fosse chegada a altura de muitos decisores meterem o missal na gaveta. O ano de 2013 corre o risco de vir a reformar vários sacramentos intocáveis.
(Foto: dinheirovivo.pt)
Maria João Rodrigues, que noutra encarnação foi ministra do Trabalho de António Guterres, acaba de sugerir a Júlia Pinheiro que Portugal devia encher a orla marítima com parques eólicos (produzindo e vendendo energia, como terá feito a Dinamarca) e estações de aquicultura para produção de peixe em condições mais próximas das naturais.
Para qualquer das coisas necessita de engenheiros e arquitectos navais. Uma percentagem altíssima, são pouco mais de duas centenas e conheço-os a quase todos, está no estrangeiro. Quanto a estaleiros navais, capazes de construir esse tipo de equipamentos, o Executivo aliena-os como se vê com os de Viana do Castelo, unidade industrial tutelada pelo Ministério da Defesa.
Já a ministra Assunção Cristas, embora tenha a pasta do Mar, só trata das pescas. Mas como se viu há dias está mais voltada para a importação de equipamentos electrónicos e máquinas marítimas.
Em Portugal, anda esta gente toda a falar de mar há não sei quantos anos só que os decisores políticos ainda nem sequer foram capazes de perceber o que é que precisam de ter. Aqui há tempos o Executivo anunciou o lançamento de um sítio na internet onde se pudesse apresentar ideias mas nem isso avança.
A redução das rendas estatais pagas às empresas de energia será uma realidade em Maio, afirmou ontem Passos Coelho.
A experiência de décadas e o passado recente levam a que se tenha bem pouca fé nas declarações do primeiro-ministro.
Em Buenos Aires, Cristina Kirchner nacionalizou há dias uma petrolífera. Na Comissão Europeia, na suicidária Europa, soaram os badalos. A não ser que seja para salvar bancos - ainda por cima corruptos - as nacionalizações não se justificam, embora se saiba quem paga a conta.
Na televisão, Paulo Rangel, eurodeputado pelo PSD, atacou a presidente sul-americana, lembrando que a Argentina anda afastada dos mercados há dez anos. No fundo, acrescente-se, desde que rompeu com acordos que a obrigavam a seguir a actual receita europeia.
Rangel e os críticos nada disseram sobre as acusações de boicote feitas por Cristina Kirchner, que contribuem activamente para adiar o regresso aos tão virtuosos leilões de dívida.
Segundo a chefe de Estado argentina, a petrolífera não terá investido suficientemente no país o que, só em 2010, levou a importações de quase dez mil milhões de dólares em combustível.
Como alguém já disse (não dou com a ligação), perante as dúvidas acerca do papel da EDP na saída do secretário de Estado da Energia, o PS insiste em manter o "tiro ao Álvaro".
Preocupante e demonstrador da paralisia do maior partido da oposição para mudar alguma coisa.
Pouco interessa se a saída do secretrário de Estado da Energia fragiliza o Governo. O que conta é que fragiliza o país (aqui e aqui e aqui).
Nota: O título remete para aqui.
Eduardo Catroga, conselheiro de Passos Coelho, ex-ministro-sombra para as Finanças, nomeado para presidente da EDP em mãos chinesas.
No Expresso, o antigo ministro da Economia Manuel Pinho, um homem capaz de transportar o ambiente de festa brava para a Assembleia da República, volta a fazer figura de sensato:
“É uma indignidade Portugal vender a pataco as empresas do sector energético e parte do sector das águas. A venda ao desbarato da ADP, Galp, REN e EDP não vai criar mais concorrência, nem resolver qualquer problema financeiro. Trata-se de uma decisão errada por razões de fundo e conjunturais.
Por razões de fundo, porque no mundo inteiro 95% dos recursos hídricos mundiais não são geridos por privados e não há país em que o Estado ou interesses nacionais não tenham grande influência no sector da energia. Não é preciso muita imaginação para ver os cenários dantescos que a médio prazo podem resultar por o Estado sair de sectores que têm uma importância estratégica.
Por razões conjunturais, porque não passa pela cabeça de ninguém vender as jóias da coroa quando os mercados estão pelas ruas da amargura.
Ninguém acreditaria se lhe dissessem que Berlusconi ia vender ao desbarato a Eni, Sarkozy a EDF ou Dilma Rousseff a Petrobras, pois não?
Ao contrário do que alguns pensam, Portugal não está a fazer figura de bom aluno, está a fazer a figura do aluno que aceita que lhe coloquem orelhas de burro e, ainda por cima, parece gostar de se exibir com elas em público.”
Estranhos tempos estes.
Nota: Para facilitar a leitura, parti o texto de Manuel Pinho em novos parágrafos.
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