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Por muito brilhantes que os dois autores sejam, e são, tenho alguma dificuldade em levar a sério as análises do Ministério da Educação feitas por Paulo Guinote e Carlos Fiolhais .
Em 2011, já para começar a criticar o ministro da Educação de Passos Coelho, o professor de História dizia ter sido:
Por sua vez, em 2012, o físico da Universidade de Coimbra ainda arranjava motivos para elogiar o ministro da Educação saído do catálogo da Gradiva. Falava de "impulso reformista", de "cortes na despesa", de "revolução traquila". Dois anos depois, em 2014, já tudo era passado:
"Também eu simpatizei com Nuno Crato e com a sua ideia de «implosão» do Ministério da Educação."
O discurso de Crato sempre trouxe dentro do seu discurso aquilo que depois foi. Que não lhe tenham topado o ovo autoritário e privatizador dentro de um discurso de exigência e rigor mostrou falta de discernimento.
O novo ministro da Educação pode ter muitos defeitos, vir a revelá-los todos e até não resolver problema nenhum. Mas Brandão Rodrigues tem para já a enorme vantagem de não alimentar uma narrativa da edcação e da avaliação enquanto castigos e da escola enquanto simuladora das dificuldades da vida. Só isso já é uma limpeza de alma não desprezável.
Mesmo maus a Português e Matemática os resultados das provas de aferição apontam caminhos de solução, ao contrário do rol de exames de Nuno Crato.
Os novos resultados são qualitativos, desagregados por tipo de erros e apontam áreas de intervenção.
E, para já, eventuais dificuldades logísticas parecem não despertar problemas.
Tiago Brandão Rodrigues tem sido um bom ministro da Educação (o que não era difícil depois do beco oitocentista em que Nuno Crato enfiou o sector). Pôs fim a ideias muito, muito velhas, freou gastos injustificados, pôs fim ao vocacional e ao ensino segregado.
Mas a ideia de substituir as notas das provas de aferição por relatórios individuais parece fazer escasso sentido. A feitura destes relatórios tem tudo para se tornar uma tarefa ciclópica e de muito difícil operacionalização
Além do cartaz com erro que se vê na imagem, manifestantes de colégios privados com contrato de associação têm usado pelo menos outro de sintaxe aberrante:
"Querem tirar-me a escola que gosto"
Ao menos da qualidade do ensino de português não se podem gabar muito.
Vou deixar de usar os transportes públicos. Arranjei um tipo que tem um táxi porreiro e confortável. Vou passar a viajar nele e depois mando a conta aos tipos dos colégios privados ou ao cardeal Clemente e à Conferência Episcopal Portuguesa.
"Assunção Cristas defende que a escola pública também possa ser "sacrificada" por motivos ideológicos.
Marcelo Rebelo de Sousa elogiou há dias a Democracia por nunca ter atacado a Igreja Católica portuguesa.
São sentimentos bonitos, que infelizmente não garantem reciprocidade. Ao contrário dos antecessores pós 25 de Abril, Manuel Clemente não tem guardado sempre distância dos partidos que aprecia quando vai votar.
Em conferência e imprensa e na homilia de 13 de Maio, em Fátima, o cardeal voltou a tomar partido pelos colégios com contrato de associação.
Aproveitou o Altar do Mundo para explicar como o Estado deve legislar tendo em conta as "legítimas escolhas de cada um".
Entretanto a Conferência Episcopal Portuguesa resolveu apoiar a manif promovida hoje por associações ligadas a colégios com contrato de associação.
A Democracia não atacou O Reino, mas os d'O Reino são Legião a meter-se com César.
Diz-se no Público que o primeiro-ministro António Costa quer mais privados na educação, mas que ainda ninguém disse que sim. A Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade diz que proposta de Costa vai criar "redundâncias" como as que criticou nos contratos de associação.
Curioso que venha destes sítios a preocupação com as redundâncias. Será genuíno ou revelará precupações com a redistribuição do bolo? Há dias, ao corte de turmas, previsto pelo Estado, nos colégios privados com contrato de associação, chamou Rodrigo Queirós e Melo, da Associação de Estabelecimentos do Ensino Particular, a "certidão de óbito" do sector. Exageros, quando a coisa atingirá 39 colégios num universo de 2800 estabelecimentos de ensino do género.
Não basta, mas os bons órgãos de comunicação social caracterizam-se pela expressão do contraditório e do pluralismo.
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