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Há os títulos informativos, os títulos incitativos, mas também há os títulos opinativos e dos estados de alma de quem os faz. Sem aspas, responsabiliza o jornal e o autor da peça.
Também não é indiferente que após a convocação do Referendo na Grécia tenham sido publicadas tantas sondagens a dar conta de um quase empate entre os partidários do Não e os do Sim.
O anunciado empate redundou numa clara vitória dos adeptos do Não. E tanta esperança que tantos jornalistas portugueses depositaram na vitória do quase empatado Sim grego.
Por cá, também houve recentes sondagens dando conta de uma vitória da actual coligação PSD-CDS/PP. São modos de dar esperanças aos eleitores do Sim e da Coligação, de tentar transformar em votos esse sentimento.
Democracia e sondagens? A publicação das últimas inquina a primeira. Tanto mais que o grosso dos jornalistas não percebe nada de estatítica e faz análises de resultados em modo ganha A ou ganha B.
Ter o ex-director do Diário Económico,António Costa, na TVI, e José Gomes Ferreira, na SIC, a dizer coisas sobre a vitória do Não no referendo grego não é informação. É intoxicação.
Em Portugal, aguarda-se.
No PSD e no CDS-PP pelos resultados da governação do SYRIZA.
No PS pela investigação a José Sócrates.
(Fonte: Alexandre Nevski)
Há uns anos, ouvi um qualquer político sacar do PIB, dividi-lo pelo número de dias úteis do ano e chegar publicamente à conclusão de que era esse o valor que o país perdia em cada feriado.
Foi com esta espécie de aritmética atamancada que os que lá estão agora no Governo sacaram dois feriados ao povo português - os outros dois foi a igreja de Policarpos e Clementes que lhes ofereceu o pescoço, desprezando pelo caminho a homenagem aos mortos dos seus e dos outros.
Conta-se hoje o segundo feriado laico retirado. E bom seria que todas as oposições se comprometessem a repor.
É apenas uma coincidência que tivesse andado um secretário de Estado pela Grécia para de lá sair apodado como "o alemão", na semana anterior à não celebração do 1º de Dezembro.
Afinal, todos os dias, há cerca de dois anos e meio, que o Executivo de Pedro Passos Coelho e de Paulo "Protectorado" Portas se comporta como agente de interesses estrangeiros ou, quando se dá o caso de defender interesses nacionais, apenas daqueles cujo capital não tem pátria e que muitas vezes está a render nas holandas e em outros paraísos fiscais.
Marya Skylakou não aderiu à greve contra o fecho da ERT, estação pública de rádio e televisão grega, lê-se hoje no Público:
"Centenas de milhares de pessoas perderam o emprego, por que é que havia de protestar por causa da ERT? [...] O funcionário mais baixo de lá ganha num dia o que eu ganho numa semana".
O discurso de Maria Skilakou, "funcionária num café" grego, tem um único problema. Ela só tem a ideia de que alguns funcionários da ERT ganham num dia o que ela ganha numa semana (obviamente, apenas pivôs e estrelas) por existir quem dê notícias.
Sem informação e canais como o ERT, nunca saberia que centenas de milhares de pessoas perderam o emprego.
Maria Skilakou não aceitará que lho digam, é quase sempre assim, mas demissionismo, vistas curtas e umbiguismo cívicos fazem tanto pela actual situação como uma clique de governantes corruptos ou irresponsáveis.
A Grécia vai fechar a ERT, a estação pública de televisão. Para já é temporário, mas em países colonizados é muito mais simples governar como se quer quando se acaba com os jornalistas.
Obviamente, é um tombo no abismo. Um crime com que uma Europa desleixada convive sem vislumbre de preocupação. Um crime em que só se reparará quando for tarde demais.
Uma das coisas que o fim do Antigo Regime trouxe foi a igualdade perante a lei.
Em teoria, desapareceram privilégios de classe, de casta. Os poderosos, os mais ricos, nobreza e clero, passaram a ser julgados pelos mesmos tribunais, pelas mesmas leis, a sofrer as mesmas penas.
De ontem para hoje, Espanha e Itália, grandes países em dificuldade, já conseguiram o desbloqueio do pacto de crescimento e um envolvimento maior das estruturas da união europeia no seu financiamento.
Ao contrário da Grécia, Irlanda e Portugal têm uma capacidade para evitar a destruição económica e empobrecimento que os mais pequenos não têm tido. Embora estes se mantenham excessivamente altos, Mário Monti e Rajoy garantiram para os países que governam juros fora dos níveis de usura a que outros estão sujeitos.
Haver tratamento diferenciado dos vários países que integram a União Europeia em função da sua capacidade de forçar a barra, de subir a parada, é justificado por muitos com a real politik.
Estão errados. A questão é moral e de cidadania europeia. Ser forte com os fracos e débil com os fortes tem um nome: Cobardia. Trate-se de pessoas, trate-se de países.
E políticas que mantenham o status quo são cobardes, imorais e anti-democráticas. Quem defenda o contrário tem a cabeça formatada pelo longínquo século XVIII.
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