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Um Dom Quixote da liberdade de expressão

por Tempos Modernos, em 06.01.13

Henrique Monteiro tem no Expresso online uma coluna de opinião tentadoramente intitulada "Chamem-me o que quiserem". E, de facto, boa parte das vezes apetece fazer-lhe a vontade.

 

Por alturas do Natal, escreveu que a comunicação social e o jornal que dirigiu entre 2006 e 2010 deram eco a Artur Baptista da Silva por este dizer coisas contra o Governo e por causa do "enviesamento de esquerda" da imprensa. O dichote é uma óbvia batota intelectual para consumo de quem não conhece por dentro a actual consistência da maioria das redacções ou o modo como se escolhe a informação a publicar.

 

Além de se esquecer de falar do verdadeiro currículo e dos reais méritos de muito duvidoso opinador público que para aí anda (o Expresso também ajudou a dar corda a alguns), Henrique Monteiro ajudou a avivar as chamas em redor de Nicolau Santos, o sub-director que se confessou "embarretado"

 

Ontem, na edição dos 40 anos do Expresso, Monteiro, que ocupa agora o cargo de director para as novas plataformas do jornal de Balsemão, escreveu um texto a que chamou "O elogio da liberdade (ou como passar 24 anos a dizer o que penso)". Em registo laudatório, hagiográfico, constitui um hino à liberdade de expressão existente no semanário. "A liberdade não se agradece, reconhece-se. E se ela existe nestas páginas, é porque faz parte do código genético deste jornal", lê-se em destaque.  

 

Sem pôr em causa que seja esse o pulsar geral, regular e corrente do semanário, talvez valha a pena relativizar um bocado o entusiamo de Monteiro com a liberdade de expressão dentro do jornal. Pela internet encontra-se basta referência (aqui e aqui) ao caso João Carreira Bom, despedido por ter criticado a SIC nas páginas do Expresso.

 

Possivelmente, Monteiro disse sempre aquilo que pensa. Mas nada daquilo que pensa constituiu propriamente afronta capaz de lhe pôr em risco o emprego, como aconteceu com o pensar de Carreira Bom. 

 

O ex-director do Expresso é perfeitamente livre de pensar como pensa, mas talvez seja algo exagerado o orgulho que manifesta por poder falar e escrever dentro do sistema. 

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publicado às 10:22


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