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Um historiador publicamente considerado deixa publicar, na contracapa da versão livro da sua tese de doutoramento, edição de 1999, afirmações que dificilmente se podem levar a sério:
“Obra polémica, […] tem, no entanto, a clareza e acessibilidade que são, sem dúvida, a primeira virtude da boa história.”
Clareza e acessibilidade serão uma cortesia. Virtude historiográfica, enfim.
(Fonte: nrpcacine.blogspot.pt)
Com tanto apetite espanhol por Gibraltar, não se percebe muito bem por onde andarão os amigos de Olivença.
Ainda por cima, Gibraltar foi dado pelos espanhóis aos ingleses enquanto a localidade agora espanhola ficou de ser devolvida há um ror de anos.
Ao menos sempre distraía.
Via Viriato Soromenho Marques dou conta que Freitas do Amaral comparou o Portugal presente com o da crise de 1383-1385.
Em Dia de Portugal, repara-se mais nos Peres de Trava, nos Andeiros, nos Miguéis de Vasconcelos que andam por aí instalados no poder, defendendo sobretudo interesses externos e particulares.
No seu tempo, também eles se pareceram legítimos e eternos
(Foto: da biblioteca cá de casa)
A História da Literatura Portuguesa, que escreveu a meias com António José Saraiva, é um monumento da cultura nacional, uma das mais influentes e decisivas obras já escritas em Portugal. É um dos livros da vida de muita gente. Sucessivamente reeditada e reimpressa a obra de Óscar Lopes, desaparecido no dia 22, continuará luminosa a ser usada muito depois do pó ter assentado sobre o grosso das figuras que ensombram os nossos dias.
(foto: this-present-crisis.blogspot.pt)
Com aquela segurança arrogante que dão a falta de cultura e de inteligência, Camilo Lourenço afirmou há uns dias no canal público que as universidades formam gente que não serve para nada, por exemplo continuando a ministrar cursos de História.
Há, primeiro, a óbvia dificuldade de até em informática ser impossível prever o que faz e o que deixa de fazer falta. É impossível formar para um mercado que continuamente deixa de ser o que era, tão estarrecedora é nalgumas áreas a velocidade a que tudo muda. Há também a questão da liberdade de escolha que a direita tanto diz defender.
Depois, na Economia, onde se acabou com a disciplina de História Económica na maioria dos cursos de primeiro ciclo, talvez se fizesse menos asneiras se se conhecessem os contornos de outras crises da humanidade. Atendendo aos resultados, não se vêem, aliás, cursos mais inúteis que os de Economia, de onde saem Gaspares e outros promotores do erro e da mediocridade aviltante.
Mas isso são só questões utilitárias. Há depois a questão de fundo que, por muito que se esforecem, as alminhas eugenizadoras como as de Camilo Lourenço nunca compreeenderão. O homem não anda na vida para trabalhar para o mercado e para a banca. A vida não é um campo de trabalho forçado onde se procure sempre produzir mais, para criar mais dinheiro. Um desígnio fascizante, promotor de um homem máquina, uma espécie de ferramenta com alma - pelo menos enquanto esta for permitida.
Pode ser o modelo que se vai criando, que vai vencendo, e que o canal público de televisão promove, mas isso não quer dizer que tenhamos de levar os trogloditas a sério, pois não? Eu cá rio-me, sempre que aparecem no ecrã certas sumidades a botar faladura. Que é que um gajo há-de fazer ante a promoção e sucesso de tais méritos?
(Foto: Barricade dans la rue de Soufflot, à Paris, le 25 juin 1848, de Horace Vernet)
Ao contrário da Economia, outra disciplina social e humana, a História não recorre ao auxílio de métricas para fazer previsões. Recorre a elas essencialmente com motivações descritivas.
Em 1848, as revoluções que percorreram a Europa não tiveram apenas motivações políticas e económicas. Os nacionalismos também andaram por lá. Mas algumas áreas do saber não têm a veleidade de considerar que tudo é mensurável e deixaram há muito os afrontamentos positivistas.
Nenhum historiador afirmará que multidões exigindo mudanças políticas somadas a multidões exigindo melhores condições de vida e o fim da austeridade e somadas ainda a multidões exigindo a autonomia e a independência das suas comunidades seja igual a revolução. Mas que os sinais são inquietantes, lá isso são.
Não têm faltado por aí jornalistas com responsabilidades directivas defendendo que a boa saúde financeira facilita a liberdade dos jornalistas.
Lembrei-me mais uma vezes deles ao ler Irene Flunser Pimentel em artigo no Jugular onde focava a detenção política durante o Estado Novo.
É que essas afirmações directivas colidem frontalmente com uma lógica que conheço bem, só que com a detenção política substituída pelo desemprego. A justificação dos mandantes é reforçada pela competência, pelo feitio incompatível, pelos custos. Quem convive mal com as diferenças de opinião, de pontos de vista, com quem responde às prepotências das chefias, com a obrigação legal de ter conselhos de redacção esbarra facilmente na coluna vertebral de outros e facilmente encontra bodes expiatórios democraticamente aceitáveis. Ameaça-se várias vezes, há sempre quem se sujeite ao papel de esbirro, e por fim veta-se a entrada na publicação de qualquer trabalho do visado, condenando-o no limite à fome.
Não ver o argueiro no próprio olho pode ser uma prática generalizada no meio jornalístico. Mas isso não desculpa distracções. Muito menos quando os directores têm acesso ao espaço público para fazer valer o que até podem pensar ser a verdade mais verdadeira.
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