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O título Quinta-feira e outros dias, livro de memórias de Cavaco Silva, parte de uma ideia interessante - é o dia que em Belém se reserva para as reuniões com o primeiro-ministro - mas acaba a meio caminho entre o de uma novela romântica e o de um livro de auto-ajuda. A capa lembra as estilizações modernas dos livros que em tempos pertenciam à colecção Sabrina.
Deve pressupor-se, pois, que os destinatários são os mesmos? Diria que não, mas depois há a pré-publicação da coisa no Expresso que não favorece esta expectativa. Falta sumo às revelações. O que o semanário destacou, a fazer fé nas televisões, foram as reuniões sonolentas de Cavaco primeiro-ministro com o Presidente da República Mário Soares; os atrasos sem aviso de Sócrates, em quem Cavaco não acreditava; a pontualidade de Passos Coelho, que aguardava calado as perguntas do inquilino de Belém.
Algum jornalismo há-de gostar disto a que chamam detalhes, pormenores que só por mero acaso definem um carácter. Mas se editores e jornalistas não encontraram no livro mais do que estes circunstancialismos sem concretização substancial, confirma-se pela enésima vez a espessura do autor. Ou então querem fazer suspense com o sumo.
(jn.pt)
António Costa convidou os antecessores para inaugurarem com ele o túnel do Marão.
O primeiro-ministro decidiu, pois, dividir, os holofotes com José Sócrates e com Passos Coelho.
Pedro Passos Coelho declinou o convite mas não arranjou grande coisa para dizer. Sugeriu que se fosse ele o primeiro-ministro não iria à inauguração: estaria a "reclamar louros" por uma obra consensual.
A propaganda não andará afastada do convite nem da inauguração, mas se o primeiro-ministro António Costa quisesse aproveitar melhor os louros da obra teria convidado Passos Coelho porquê?
Mandava lá o ministro das Obras Públicas, tal como sugerido pelo presidente do PSD, e a festa nos jornais fazia-se à mesma. Alguém duvida que das bandas do PSD surgiriam as reclamações por não terem sido convidados ou por outro motivo do género?
"Carlos Santos Silva está detido junto à Polícia Judiciária", informa o pivô no noticiário.
Adaptado de declarações de João Araújo, advogado de José Sócrates, em entrevista ao i.
Em Portugal, aguarda-se.
No PSD e no CDS-PP pelos resultados da governação do SYRIZA.
No PS pela investigação a José Sócrates.
Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças alemão cujos conselhos tanto sucesso têm trazido aos portugueses, vem mais uma vez defender a flexibilização laboral nos países do sul da Europa.
O processo de fleixbilização dos despedimentos foi iniciado com o código de Bagão Félix, sob o Governo de Durão Barroso; aprofundado com Vieira da Silva, já com Sócrates; e complementado sob Passos Coelho, num processo que o PS aceitou.
O argumento é velho: "Quando a protecção contra os despedimentos é alta, os mais velhos não podem ser despedidos e isso está bem, mas então os jovens não têm acesso" ao mercado laboral, diz Schauble e todos os inúmeros defensores da flexibilização dos despedimentos.
O que a prática continuada de dez anos prova é que desde que a taxa de desemprego teve um crescimento continuado desde que o código Bagão entrou em vigor. Os mais velhos são despedidos, não encontram emprego e os mais novos continuam sem acesso ao mercado de trabalho
Bem se sabe que o Expresso é o mais influente jornal português, que não é qualquer jornalista que lá chega.
No entanto, há artigos que valem mais pelo empenho em ir a jogo partidário que pela relevância noticiosa - no caso tão nula como a de um artigo da Caras.
Talvez André Freire devesse sair dos salões da (não) reflexão sobre a democracia imposta pelas empresas jornalísticas. E, tanto quanto se sabe, a frequência da TVI ainda é atribuída por concurso público e ocupa um espaço físico que mais ninguém pode ocupar.
(Foto:ionline.pt)
No dia da entrevista de Sócrates, Cavaco fez uns comentários deslocados sobre intrigas político-partidárias que em nada ajudavam a resolver a crise que o país atravessa. Cavaco acha que duas pessoas bem-intencionadas com a mesma informação chegam à mesma solução. É normal que o irritem aqueles que não lhe reconhecem o génio superior.
No dia a seguir à entrevista onde Sócrates disse com todas as letras o que pensava do inquilino de Belém, em contra-resposta que dá razão aos que falam da sua mão escondida, mais coisa, menos coisa, Cavaco repetiu o que dissera na véspera numa empresa de peixe congelado.
Ontem, confrontado por jornalistas recusou-se a responder às duras acusações de José Sócrates: "Há uma coisa que um Presidente da República nunca faz: é comentar comentadores", afirmou.
Apenas um vício no raciocínio presidencial. Na entrevista à RTP, Sócrates respondeu a um prefácio escrito por Cavaco - Presidente. A um prefácio onde o chefe de Estado fez duras acusações e críticas ao ex-primeiro-ministro quando este já não tinha quaisquer hipóteses de defesa institucional.
Atacar quem não se pode defender, recusando-lhe mais tarde o direito ao contraditório, tem um nome. Mas enfim, nada que assente bem a um Presidente da República.
(Foto: Bola.pt)
Na semana passada, na TVI, Marcelo Rebelo de Sousa apenas disse uma coisa interessante: que até pode andar muita gente a dizer mal da Constituição, mas esquecem-se que os artigos da Lei Fundamental que derrubarão o Orçamento de Estado são artigos que todas as constituições democráticas têm. Ou seja, acrescento eu, trata-se artigos que por lá continuarão mesmo se o texto vier a ser alterado, extirpando arcaísmos como o direito à saúde, à educação, à habitação e lá essas coisas de que as pessoas precisam para viver.
O Governo rabeia com a possibilidade de ver chumbado o Orçamento de Estado dois anos seguidos. Passos Coelho e Gaspar mostram-se incapazes de cumprir a lei, mas pelo discurso parece que foras-da-lei são os juizes do Constitucional. Cavaco não sabe o que fazer com a Constituição e não serão os assessores que o auxiliarão, Não o deixam publicar coisas nas redes sociais em vez de o aconselhar a portar à altura do cargo que exerce? Rebelo de Sousa veio pôr água na fervura dos defensores das mudanças constitucionais. Logo ele que nem será um particular adepto do texto actual.
Nos jornais, preferiu destacar-se as suas boas-vindas a Sócrates bicando Rui Gomes da Silva. Em 2004, este ministro de Santana Lopes contribuiu para o fim da primeira estada de Marcelo na TVI. Ao que por aqui se pensava, em 2011, não se mudou uma vírgula. A coisa piorou entretanto, com a chegada de outros compères, embora Rebelo de Sousa tenha sugerido que isso é uma coisa boa.
No caso presente, José Sócrates apenas ocupa um espaço que outros lhe dão. Não será a primeira vez que a comunicação social promove tempos de antena travestidos de jornalismo e comentário. Não há nenhum motivo para votar José Sócrates ao ostracismo, nem para que - como já muitos lembraram - os que se zangaram com a Grândola cantada a Relvas andem agora a promover petições para calar o ex-primeiro-ministro.
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