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Absolutamente transgeracional, a manifestação de ontem no Terreiro do Paço não teve a amplitude sociológica do 15 de Setembro, ou da vigília do Conselho de Estado.
João Proença, que pertence à Comissão Nacional do Partido Socialista, pode ter ajudado a desmobilizar muitos dos afectos aquele partido, mas a debandada do grosso da multidão após ouvir o discurso de Arménio Carlos, o secretário-geral da CGTP, também indicia um perfil diferente dos protestos. A essa hora, ainda um grosso caudal de gente desfilava compacta entre o Rossio e o Terreiro do Paço. Do ponto de vista da organização e da eficácia, tinha-se ganhado em fazer a coisa transbordar e durar.
O recuo na TSU, trocado por medidas igualmente gravosas em termos financeiros, pode ter acalmado muita gente, e Cavaco demorou duas semanas para ouvir a CGTP acerca desse assunto. A intenção de marcar uma Greve Geral, aberta à participação da UGT, segue em rota de colisão com a forte opinião publicada. Acabará por soar a marcação de ponto. A não ser que o Orçamento de Estado reavive hostes.
(Foto: http://lisboadesaparecida.blogspot.pt)
Mais coisa menos coisa, Passos Coelho apelou à resolução colectiva dos problemas do país.
Esta tarde, terá uma audível resposta ao apelo. A manifestação convocada pela CGTP não contará apenas com os filiados na central ou com os eleitores de esquerda.
(Foto: Blog do Bueno)
A TVI24 tem no terreno da vigília ao Conselho de Estado uma repórter que propaga o fervor anti-partidos daquela gente.
Em frente ao palácio de Belém, uma manifestante cobre com estridência violenta um directo de Catarina Martins, do BE, e a jornalista generaliza e conclui que como a "manifestação é cidadã", "os" manifestantes não vêem com bons olhos a presença de gente "dos" partidos".
Se desse uma voltinha na blogosfera teria talvez dado conta de que muitos dos que apelaram à vigília em frente ao palácio de Belém são militantes ou simpatizantes do PS, do PCP e do BE. Se ouvisse mais gente, perceberia que boa parte do discurso produzido pelos manifestantes não só não é anti-partidos como está longe de engalfinhar a totalidade dos partidos no mesmo saco.
Em simultâneo, em directo do estúdio, Helena Matos comenta a situação política. Uma escolha bastante informativa. Não só é uma das ultras da propaganda de direita, como no passado dia 15 conseguiu ver uma manifestação de "alguns milhares" de pessoas uma vez que "o povo foi para a praia".
(Foto: Público)
No bipolar Causa Nossa, Vital Moreira recupera o velho mantra do PS de que foram o PCP e o BE que provocaram a queda de Sócrates e a chegada de Passos Coelho ao Governo ao não aprovar o PEC IV. Tirando para efeitos de guerrilha partidária e de exarcebamento interno, é absolutamente peregrina a ideia de que comunistas e bloquistas devam ser uma espécie de tutores de outro partido.
Os três pacotes de estabilidade e crescimento anteriores tinham sido já chumbados pelos partidos à esquerda do PS e aprovados pelo PSD e pelo CDS-PP. Seria natural que fosse junto destes que o PS voltasse a recolher apoios. Se queria os votos à sua esquerda, teria de ter adaptado o quarto pacote. Não o fez.
No Causa Nossa, blogue de que é co-autor com Ana Gomes, Vital Moreira, o candidato derrotado por Paulo Rangel, do PSD, nas últimas europeias, insurge-se contra o PCP e o BE por "exigir[em] que o PS faça coro com ele" pela queda do Governo do PSD/CDS-PP. Diz haver "companhias que comprometem... "
Talvez tenha razão. Num partido onde a maioria dos militantes e simpatizantes se declaram de esquerda pontos de vista como este outro, uma manifesta deriva do antigo líder da bancada comunista, algo dirá sobre a ambiguidade das companhias em que o PS tantas vezes anda, entre o duríssimo discurso de João Galamba e a abstenção nas últimas alterações ao Código do Trabalho.
A questão é meramente académica e até admite uma resposta positiva, mas, na linha da pergunta lançada por Vital Moreira ao CDS-PP, a interrogação é legítima: pode o PS estar na oposição e ao mesmo tempo apoiar este Governo?
Ontem, os três partidos (e não só. Estavam lá muitos eleitores do PSD e do CDS-PP) desfilaram lado-a-lado entre a Praça José Fontana e a Praça de Espanha. Dia 29, na manifestação convocada pela CGTP, alguém arrisca previsões?
Pelo menos um dos sindicatos da PSP (o Sindicato Nacional da Polícia), alertou a corporação para a necessidade de não se deixar "instrumentalizar" e "virar o «cidadão manifestante» contra o «cidadão polícia»".
Do que me recordo, é a primeira vez no passado recente que forças da autoridade chamam a atenção para a intensidade do uso da força policial.
O apelo é feito a poucas horas das manifestações contra a austeridade que hoje se realizam em vários pontos do país e na sequência de acidentes entre manifestantes e autoridades a 24 de Novembro de 2011 e 23 de Março do corrente, entretanto justificados pela PSP e pela Procuradoria Geral da República.
O referido sindicato não deixa de apelar ao zelo "pela segurança dos cidadãos" e à " manutenção da paz e tranquilidade pública".
Em directo das ruas de Lisboa, na SIC Notícias, uma jornalista resume a posição de um sindicato, não apanhei se será o mesmo, apenas com base nesta última linha. O apelo ao civismo dos manifestantes. Ao passar para a peça noticiosa, um dirigente do sindicato vinca os dois aspectos, o referido pela jornalista e o da contenção policial.
Os ângulos jornalísticos e os critérios editoriais evidenciam sempre uma escolha. Eu não teria feito o mesmo resumo da minha camarada da SIC-Notícias. Os apelos à calma dos manifestantes não têm faltado, já a chamada à calma dos polícias tem outro grau de novidade.
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