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(Fonte: rtp.pt)
Tirando nos jornais mais populares, a morte de António Borges ocupa grande espaço nas primeiras páginas da imprensa generalista e económica de hoje. Mas não parece que o assunto tenha sido tratado do modo que realmente mais interessou leitores e espectadores.
A vida épica e os elogios vindos de gente que lhe foi ideologicamente próxima, como o amigo Marcelo Rebelo de Sousa, ontem na TVI, Cavaco ou Christine Lagarde contrastam com a escassez ou mesmo falta de depoimentos de outras bandas.
Mas com o que as primeiras páginas - e até directos televisivos do velório na Basília da Estrela, dando conta da presença de Vítor Gaspar, Alexandre Soares dos Santos, Fernando Ulrich ou Miguel Relvas - contrastam mesmo é com as redes sociais e caixas de comentários online dos jornais.
Ontem à noite, havia mais de “gosto” no Facebook para a notícia do Diário Económico dando conta da morte do ex-vice-presidente de Manuela Ferreira Leite e consultor para o processo de privatizações e renegociações das parcerias público-privadas do Governo de Passos Coelho e Paulo Portas.
Num jornal cujas vendas se ficam pelos cerca de quatro mil exemplares diários, bastava abrir uns quantos desses “gosto” para perceber que a tónica dos comentários na rede social eram de regozijo. O homem, que alguns jornais chegaram a tentar vender como primeiro-ministeriável, foi em larga medida tratado nas redes sociais e nos comentários online dos jornais como um indivíduo egoísta e sinistro, mesmo criminoso.
No Diário de Notícias, os comentários de leitores ultrapassaram as sete centenas, o grosso no mesmo sentido dos “gosto” no Facebook. No DN são bastante ciosos da não moderação dos comentários, mesmo quando aquilo se assemelha a um esgoto – o mais das vezes. E, no entanto, esta manhã, a caixa que permite aos leitores expressarem a sua opinião tinha desaparecido das notícias em linha (escapou o editorial) que referiam a morte de Borges.
(Foto: Luís Ramos - Público)
No PSD, há ordem para lançar à ventoinha que o PS anda obcecado com as eleições. A ver se pega. E depois de Cavaco ter feito o discurso que fez no 25 de Abril a coisa parece concertada.
Moreira da Silva disse-o hoje. Manuela Ferreira Leite - que a comunicação social mais bem informada costuma garantir ser um dos arbustos que a mão de Cavaco abana - dera ontem o mote no seu show da TVI.
O moderador Paulo Magalhães perguntou-lhe qual era o problema das eleições. O longo silêncio de Manuela Ferreira Leite antes de responder é todo um programa democrático.
(Foto: DN.pt)
Quando começou a trabalhar já vigorava a isenção de pagamento de segurança social durante o primeiro ano de actividade.
O patrão tardava em pagar, pagava com vários meses de atraso, e para poder comprar o passe, chegou a levantar dinheiro de uma conta a prazo para não pedir dinheiro emprestado aos meus pais. Chegou até a comprar material imprescindível para os alunos à sua custa, material que tardaram vários meses em pagar-lhe.
Quando se dirigiu, à segurança social para se inscrever e começar a fazer os descontos, a senhora da loja do cidadão do Éden, disse-lhe que teria todos os meses de pagar uma verba fixa, de dimensão variável, cujo impacto futuro na pensão de reforma não conseguiu explicar-lhe.
Disse-lhe que uma vez que não recebia todos os meses, não poderia pagar segurança social todos os meses. Que podia sim, pagar rectroactivamente quando recebesse vários meses de salários de uma assentada.
Já na altura não entendia a lógica de que a taxa social de base não fosse então uma percentagem do ordenado de cada um, mas sim um valor fixo, plano, igual para toda a gente. Também não entendia a lógica de ter de se continuar a pagar segurança social quando não se estava a trabalhar, como acontece aos artistas de trabalho concomitante e cada vez a mais gente.
Lá lhe agradeceu a atenção, disse-lhe para passar bem e que uma vez que tinha de ter dinheiro para os transportes para ir trabalhar e para poder comer não iria inscrever-se na segurança social. Poderia ter acrescentado que o fossem prender quando fosse caso disso, mas as grandes falhas da coisa pública não dependem dos funcionários.
Teve sorte. Quando Manuela Ferreira Leite subiu às Finanças uma das medidas que tomou foi desviar dinheiro da Segurança Social para fazer face a outras despesas do Orçamento de Estado e contribuindo para o buraco das reformas.
Outra medida foi o lançamento de um perdão das multas a quem tivesse os pagamentos em atrasos, ela que tanto tinha criticado Guterres por iniciativa semelhante.
Já com outro trabalho, o devedor aproveitou a benesse. Metido numa bicha interminável onde estavam artistas e até o irmão da governante, leu metade de O Idiota, do Dostoiévski, e lá pagou as contribuições em atraso, cuja verba pusera de parte enquanto aguardava melhores dias. Que nunca vieram.
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