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Em 2011, Judite de Sousa entrevistou sucessivos banqueiros sem se aperceber do movimento concertado para correr com o Governo de José Sócrates. Entretanto, depois disso, faliram bancos e até prenderam banqueiros (sim, e o então primeiro-ministro também, mas isso é outra questão).
Ora, anteontem, no Diário de Notícias e na TSF, lá tivemos uma entrevista a Ferraz da Costa com direito a comentários acerca da administração da Caixa Geral dos Depósitos. “Se a administração sair há responsabilidades políticas”, disse o histórico dirigente dos patrões portugueses. Há dias, Sol e jornal i tinham anunciado a saída breve de Mário Centeno. São os termos exactos em que Ferraz da Costa se expressa. E se a coisa até é uma possibilidade genérica, o texto das versões digitais do texto jornalístico não tinham uma única declração que lhes sustentasse a manchete.
Entretanto, também anteontem, mas à noite, na SIC, Marques Mendes, que até é o autor da questão da declaração de rendimentos, reclamou da oposição por não atacar mais António Domingues, o presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos.
Ontem, na Renascença, esteve António Saraiva, a dizer que o dossiê “Caixa foi gerido desastrosamente, desde a nomeação da administração". Faz algum sentido, não todo, veja-se a recapitalização, mas a situação recebida do Governo de Passos Coelho e de Paulo Portas remete o lado realmente desastroso para tempos bem anteriores.
Do ponto de vista jornalístico e da ética, a questão da entrega das declarações de rendimentos é mais que óbvia notícia. Todavia, do ponto de vista empresarial e da economia, interessaria mais tratar da coisa em modo discreto. Como lembra, hoje, o nem sempre interessante Augusto Mateus, na mesma Rádio Renascença, há questões bem mais relevantes a discutir a propósito da CGD.
Ferraz da Costa, num dia, António Saraiva no outro, já são muitos patrões a bater na mesma coisa. Ainda por cima quando batem pelo mesmo lado e intercalados com o propagandista Marques Mendes – um que no tempo de Cavaco tratava de alinhamentos de telejornal. Nalguma coisa lembra a fronda bancária de 2011.
Marques Mendes é um político que cria factos que interessam ao seu partido, o PSD, e que uma estação de televisão usa como comentador.
Ontem deu o tiro de partida. Falou da necessidade de remodelar o Governo de António Costa. Como se fosse uma figura neutra, Mendes falou na mudança de titulares nas Finanças, na Economia e na Educação.
Se o primeiro pode ser acusado de falta de habilidade e o segundo de mal se dar por ele, com a pasta da Educação a coisa é diferente.
Remodelar Tiago Brandão Rodrigues é uma reestuturação que serve sobretudo os donos de colégios privados e os autores e editores de livros e manuais de exames - clientelas do anterior governo, apoiado por Marques Mendes.
Do lado do BE, da CDU e dos sindicatos é muito pouco provável que existam grandes queixas do ministro. Estão bem recordados de Nuno Crato. Resta a Marques Mendes ir dando uma má imagem do ministro Tiago Brandão Rodrigues. Queimá-lo em fogo lento.
O tiro de partida de Marques Mendes e a ideia de remodelação têm obvia intenção partidária, Mas os seguidores estão garantidos.
O facto virtualmente inexistente na véspera foi de imediato aproveitado por vários interessados no fim do Governo de Costa. De ontem para hoje até surgiram jornalistas a dar como garantido que Costa "já percebeu que tem de efectuar uma remodelação governamental".
Os achanços e desejos íntimos de Marques Mendes e de alguns jornalistas ainda não se tornaram factos. Embora pelo que se vai lendo, às vezes pareça.
A falta que fazem jornais e jornalistas com outra cultura, capazes de dar o outro lado dos discursos e acompanhar de outra perspectiva as vicissitudes de um Governo apoiado pela Esquerda parlamentar.
Marques Mendes lá se entreteve ontem a descobrir um vencedor nas negociações à esquerda. Escolheu o Bloco de Esquerda, mas podia ter escolhido o PCP ou o PEV. O objectivo é causar instabilidade na solução governativa negociada pelos esquerdas, preocupar o PS e acicatar aquilo que dizem ser uma inultrapassável e fatal rivalidade entre o BE e o PCP.
O objectivo não é acertar e esclarecer, mas usar o balcão televisivo para fazer valer uma agenda própria e minar a dos outros. Marques Mendes, como Marcelo Sousa, durante mais de uma década, não dá ponto sem nó.
(fonte: dn.pt)
Testemunha no julgamento da Moderna, Ângelo Correia, ou alguém por ele, desfiou os cargos que exercia em órgãos sociais de empresas, associações e cangalhada vária. Absolutamente impossível cumprir a tempo inteiro os deveres associados às dezenas de lugares.
Deve ser o que se passa com Marques Mendes e com muitos outros políticos que vemos ocupando tantos e tantos cargos em tudo e mais alguma coisa.
Nunca tiveram uma reunião, um contacto, uma diligência, uma conversa sobre nada daquilo em que periodicamente algumas destas empresas estiveram envolvidas. Desta vez foi o antigo presidente laranja com os vistos Gold, de outra vez foi outro qualquer, noutro qualquer assunto.
Mário Soares diz que alguns membros do Governo são "deliquentes" e têm de ser julgados.
Jorge Sampaio pede "assomo patriótico" e repudia críticas ao Tribunal Constitucional.
Jerónimo de Sousa chama a Passos e Portas "trapaceiros e malabaristas".
O antigo reitor Meira Soares acusa o Governo de "estupidez".
"Com o que tem acontecido em Portugal era para ter uma guerra civil em cima", diz o bastonário da Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas.
Marques Mendes acha que "parece um governo de adolescentes e de gente imatura".
Diz o "pequerrucho"* (Marques Mendes) que o Governo não quis espantar a "caça" (eu e os queridos leitores) e por isso não anunciou o fecho de 50 por cento das repartições de finanças existentes.
Espera-se que tenha o bom senso de as mandar fechar lá nas autarquias onde houve vitórias do PSD e sdo CDS-PP (o irrevogável Portas é que tem a pasta da reforma do Estado, ou nem por isso? ). Pode ser que tenham menos reclamações. E esses eleitores merecem ver a crença recompensada bem como participar nos sacríficios que justificam.
* Não sou propriamente um amante das piadolas sobre o aspecto físico do pessoal, mas quando Marques Mendes chama caça aos portugueses abre uma janela de retribuição de bons modos.
Estou em pulgas. A SIC tem na calha os inamovíveis e imparciais Marques Mendes e António Vitorino para comentar amanhã os resultados das autárquicas. Mais uma vez, uma aposta de gabarito.
(Foto: dinheirovivo.pt)
Marques Mendes vai matando saudades do seu já longínquo passado enquanto alegado produtor diário de alinhamentos de telejornal. Transferido recentemente da TVI24 para a SIC, o conselheiro de Estado, antigo ministro de Cavaco e antigo presidente do PSD, dá notícias, cria factos. Alimenta uma agenda, o estatuto de recrutável no mercado comentocrático da comunicação social.
Depois de ter anunciado a convocação para breve do Conselho de Estado - Manuel Alegre, seu parceiro no órgão de aconselhamento do Presidente da República, afirmou desconhecer qualquer convocatória, mas o também conselheiro Marcelo Rebelo de Sousa, talvez para não ficar atrás de Mendes, confirmou a intenção de Cavaco, que, entretanto, afirmou que o marcaria quando fosse útil -, Marques Mendes descobriu em Vítor Gaspar um perfil de comissário europeu.
E porque não? Há muito que o país se habituou a ver figuras sem grande préstimo alçadas aos mais cobiçados lugares. Gaspar seria mais um no rol infindável de personalidades menores, de desconhecidas virtudes cívicas e méritos discutíveis, premiadas com colocações de sonho.
Até poderia lá ser posto pelos seus. Mas, num sítio asseado, o PS, em aparente corte com o passado e por conta do qual corre a sucessão governativa, alertaria para a remoção logo que possível.
Infelizmente, o exemplo recente da Islândia, onde os responsáveis voltaram ao local do crime, baixa ao menos as expectativas quanto ao futuro.
Marques Mendes deve ter muitas coisas interessantes para dizer. Digo deve ter pois não lhe sigo o programa semanal de tempo de antena na TVI.
Para antigos líderes do PSD com programas televisivos já me basta episodicamente o mais divertido Marcelo, eterno candidato à Presidência da República. E para formar uma opinião, prefiro a prática quotidiana de cada partido ao ponto-de-vista prosélito ou auto-promotor. É mais segura.
O antigo ministro da comunicação social de Cavaco diz que o FMI e o Governo já vão tratando da refundação pedida há dias por Pedro Passos Coelho. Acho bem.
Primeiro, levam-se vinte ou trinta anos a dizer que a segurança social é insustentável. Pelo caminho, segue-se o mesmo processo com a educação e a saúde. Em simultâneo, destroem-se a já então muito frágeis indústria e agricultura nacionais. Gasta-se dinheiro dos contribuinte em pareceres, em obra pública entregue a parcerias público-privadas e a empresas de amigos, duplica-se a estrutura do estado com empresas, observatórios, institutos onde fica facilitada a colocação de boys e se contorna os mecanismos da contabilidade e da contração públicas.
Quando deixa de haver dinheiro, recorre-se a empréstimos usurários junto da banca (Fernando Ulrich é um dos que se financia a juros baixíssimos para o emprestar ao Estado com juros muito mais altos) e diz-se que como se tem de pagar os juros todos, o país não pode sustentar nem as escolas nem os hospitais, nem os desempregados, nem os reformados.
Deve ser o tal desvio muito grande entre o Estado que os portugueses querem ter e o que podem pagar, de que falava o Gaspar. Ainda bem que há quem nos mostre onde devemos querer que seja gasto o dinheiro dos nossos impostos. Seja o Governo, seja o FMI.
(Foto: blogue A Saúde da Alma)
Espantosas as declarações de José da Cruz Policarpo condenando as manifestações contra o Governo e a Tróica.
Num tempo em que a cidade se enche de novos pobres e de novos nus, o cardeal patriarca encontra nas manifestações que se têm sucedido o exemplo da corrosão da "harmonia democrática". Ao falar em Fátima, antes de se iniciarem as peregrinações do 13 de Outubro, o dia do milagre do Sol, o cardeal patriarca de Lisboa envergou as vestes do príncipe, de alguém cujo reino pertence a este mundo.
Não será o único motivo de preocupação da Igreja, mas, há dias, Marques Mendes defendeu que o tempo de emissão televisivo das confissões religiosas pode e deve ser mantido. Ontem, José Policarpo juntou na mesma conferência de imprensa a condenação das manifestações ao desejo de cumprimento da Concordata. Os mais cínicos poderão achar que a Igreja Católica receia ver transformada em cordeiro sacrificial o tempo de emissão que o Estado desde sempre lhe concedeu nos canais públicos.
O facto de se perguntar a um conselheiro do Governo se acha que algo pode e deve ser mantido, revela ao menos o receio da resposta negativa. os mais cínicos poderão questionar daqui a pouquissímo tempo: a presença na televisão (e a isenção de pagamento de IMI) valeu mesmo os 30 dinheiros?
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