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Os jornais noticiaram o aumento das vendas de 1984, de Georges Orwel, depois de uma conselheira de Donald Trump ter vindo falar em verdades alternativas. Kellyane Conway justificava opiniões divergentes acerca do número de espectadores da tomada de posse do novo presidente norte-americano.
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No dia em que se assinala mais um aniversário da libertação de Auschwitz, faz algum sentido lembrar uma outra leitura que me ocorre há mais tempo. A de um livro publicado no exacto mês em que se iniciou a II Guerra Mundial, pouco menos de uma década antes da edição da distopia orwelliana.
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Sobre as Falésias de Mármore é uma fábula incandescente acerca da ascensão do nazismo. Nela, Ernst Jünger, oficial do exército alemão, descreve a realidade inquietante, inescrupulosa, oportunista, frenética e boçal de um paÃs de faz-de-conta.
Se se emprenhasse um bocadinho menos de ouvido, escreviam-se menos asneiras nos jornais sobre paÃses como a Coreia do Norte.
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Há tempos, foi a história do tio do Querido LÃder entregue aos cães para ser devorado vivo, agora a obrigatoriedade de se usar o penteado de Kim Jong-un.
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Em boa parte das secções internacionais portuguesas, nem sequer escaldados por sucessivos desmentidos de boatos, pela inexistência total de fontes credÃveis sobre a ditadura norte-coreana, pelo desconhecimento da lÃngua se pára de publicar sem cuidado e se começa a parar para pensar (aqui, aqui, aqui, aqui).
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Felizmente, existe quem faça o trabalho de casa jornalÃstico, como estes brasileiros ou estes suspeitos norte-americanos, a que cheguei por aqui.
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Depois de morrer, Hitler pediu a São Pedro que o deixasse regressar à terra por algum tempo.
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- Para quê?, questionou o santo.Â
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- Ainda queria matar um milhão de judeus e um sueco, respondeu-lhe o lÃder nazi.
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- Um sueco?, ripostou espantado São Pedro.
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- Vês? Com os judeus ninguém se preocupa.
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(Foto:Â voxxi.com)
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Morreu o "ditador" inventado pela comunicação social. Nas vésperas do golpe de Estado de 2002, que o derrubou durante escassas horas, a imprensa local retransmitida acriticamente para o mundo mostrava "o povo venezuelano na rua contestando Chávez". As imagens mostravam gente buzinando ao volante de mercedes e mulheres louras batendo tampas de panelas, sinais de riqueza e aspectos fÃsicos demasiado exóticos para um povo sul-americano.
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Numa sociedade que sempre viveu do petróleo, e que só com Chávez melhorou as condições de vida de um exército de deserdados analfabetos, lembram-se as vitórias, mas esquecem-se as derrotas eleitorais do peculiar "ditador", sempre demonizado pelos comentadores de plantão e pelo pessoal que emprenha de ouvido com as primeiras páginas do ultramontano ABC, dos jornais norte-americanos, e também do sério El PaÃs.Â
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(Foto: ecoespacio.es)
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Os liberais-soberanistas catalães encheram-se de contribuir para o orçamento do Reino e resolveram pedir eleições, a ver se referendavam a independência.
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Tramaram-se e perderam 12 deputados. Terá havido muitos outros motivos, mas talvez alguns eleitores tenham percebido que o mercado consumidor castelhano e das restantes autonomias não é de deitar fora se a Catalunha quiser continuar como um dos motores económico na PenÃnsula. A ver o que dá entretanto o novo equilÃbrio de forças com a subida da Esquerda Republicana.
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No Brasil, esperam-se manifestações exigindo a Dilma Rousseff que vete o aumento da percentagem dos lucros do petróleo a redistribuir pelos estados não produtores. Seja em que paÃs for, é sempre um gosto, ver os egoÃsmos regionais e locais sobreporem-se aos interesses do colectivo. Â
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(Foto: Perfil twitter de Barack Obama)
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... afinal, José Medeiros Ferreira e Bruno Nogueira provam que não estou sozinho na minha opinião sobre os jornalistas, analistas e comentadores portugueses que falam sobre as eleições norte-americanas.
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(Foto: bbc.co.uk)
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Segui com curiosidade a figura de Barack Obama a partir da altura em que o vi entrevistado por Jay Leno, ainda estava longe de ser escolhido pelos democratas como candidato à presidência dos Estados Unidos da América. Há quatro anos, por mera motivação pessoal, acompanhei debates em directo, sondagens e análises estatais, o noticiário norte-americano.
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O noticiário português, não me lembrava já e reapercebi-me ontem ao seguir novamente os canais internacionais, não permitia uma visão segura sobre o que se passava realmente no terreno. NotÃcias com dois e três dias eram publicadas como novidade nos onlines dos nossos órgãos de comunicação social. E mais vale olhar sozinho para as sondagens em bruto que ler análises em quarta e quinta mão sobre elas.
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Este ano - há tanta coisa para desesperar, para quê juntar-lhe as incertezas de uma reeleição num paÃs distante? - andei afastado da terça-feira eleitoral. Ontem, ao inÃcio da noite, ainda jornalistas portugueses nos garantiam que só lá para sexta-feira haveria resultados tal era a proximidade entre os candidatos à Casa Branca e grande a probabilidade de que contestassem a votação nalguns colégios eleitorais. Em cheio, como se viu: pouco depois das dez da noite local já se sabia que Obama tinha mais quatro anos de mandato, a maioria dos eleitores dos estados dançarinos tinham-lhe ido parar à s mãos, tal como a maioria dos votos populares e o Senado. E nem no Wisconsin, estado-natal de Paul Ryan, candidato republicano à vice-presidência, ou no Massachussets, onde Mitt Romney governou, se deixou de dar a vitória ao democrata.
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Às 5h da manhã soube que Obama vencera já as eleições. Durante a noite e a madrugada, pelos canais televisivos portugueses, encontravam-se os mesmos analistas de há quatro anos. Vasco Rato, Nuno Rogeiro, gente que fez parte das estruturas ideológicas do Governo de Durão Barroso-Paulo Portas.
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Não fiquei a ouvi-los, confesso. Atrevo-me a dizer que terão sugerido que entre Obama e Romney não há grandes diferenças, que Romney é um republicano moderado, que a eleição de um ou de outro seria indiferente, como se viu nestes quatro anos falhados. Nem todos os analistas da clique PSD e CDS-PP estiveram a favor da invasão do Iraque, mas os executores polÃticos empenharam o paÃs nessa intervenção ao lado de George W. Bush.
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Quatro anos passados, Obama não cumpriu muito do que prometeu. Ann Nixon Cooper já não está entre os vivos como estava em 2008. Os desejos tropeçam sempre na realidade. E a maioria republicana no Congresso tudo fará para minar iniciativas presidenciais. Mas, mesmo assim, é sempre melhor partir de um programa polÃtico onde a justiça e a cidadania prevaleçam do que de um onde se defenda o salve-se quem puder, o darwinismo social e o totalitarismo dos mercados. A ver o que faz agora Obama ao anunciar que "o melhor ainda está para vir".
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A eleição de Romney poria a Europa e os Estados Unidos a puxarem para o mesmo lado. O da austeridade e do empobrecimento sem barreiras. Só que no que toca ao sudeste asiático as paisagens são mais atraentes que os modelos sociais e as leis laborais. E a salvação dos orientais nunca ganhará nada com a miséria dos povos de outros continentes. Angela Merkel não precisa de mais aliados, como lembra Mário Soares. Precisa é que lhe tirem o tapete.
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