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(Foto: oliveirasalazar.org)
Não é que viesse grande mal ao mundo se uma meia-dúzia de garrafas de vinho produzidas a partir da baga - agreste casta da região do Dão - fosse vendida sob o nome comercial de Memórias de Salazar. Aquilo deverá andar perto do intragável para paladares habituados à macieza do Douro e do Alentejo e sempre se ficava a conhecer a identidade dos produtores que tal referência querem aproveitar.
No entanto, o Instituto Nacional da Propriedade Intelectual não autorizou o uso da marca Memórias de Salazar, por recear que a ordem pública fosse posta em causa. Soa a cautela a mais: o mais provável era que o eventual prejuízo das quebras anormais nos pontos de venda recaísse sobre as seguradoras.
Nos blogues da direita, nalguns institutos e jornais, há sempre quem se horripile com insinuações de que têm alguma tolerância com um passado "salazarento". Desta vez não será diferente e voltarão a dizer que já era tempo de acabarem estes sinais "de falta de maturidade democrática".
A indignação é mais que previsível. Estes desassombrados braços-de-ferro, pendões da liberdade de espírito, vêm sempre das bandas dos eleitores e eleitos da direita (o promotor da ideia, o autarca João Lourenço, é do PSD).
No fundo, este tipo de ponto de honra é uma opção tão válida como outra qualquer para averiguar se Portugal é um país realmente livre. E aposta-se até que se o referido Lourenço fosse nascido há 50 anos teria demonstrado idêntico destemor e quiçá passado, como outros passaram, pela António Maria Cardoso.
Martelada pelo génio criativo de Relvas, Miguel, a reforma autárquica (pdf) do Governo do PSD-CDS/PP faz-se de voluntarismos e esquecimentos.
No distrito de Santarém, por onde o ministro tem sido eleito para a Assembleia da República, prevê-se a extinção de 67 freguesias. E mesmo não tendo o Ribatejo os níveis de bairrismo do Minho, jornais regionais prevêem que muitas fusões não se farão sem dispêndio de energias conflituais.
Curiosamente, fica de fora o Entroncamento, com escassos 14 quilómetros quadrados, eminentemente urbanos, e 20 mil habitantes. Município recente, criado em 1945, é, desde 2001, liderado pelo PSD e contou, até 2005, com apenas uma freguesia.
Apesar do impacto residual, se há sítio onde uma concentração autárquica fazia sentido era aqui. Embora a duplicação possa servir clientelas políticas locais (e até religiosas; veja-se o empenho de José Luís Borga no baptismo da nova freguesia como Nossa Senhora de Fátima) não se percebe muito bem a necessidade de divisão e nem sequer a sua utilidade para as populações.
Pensada por Relvas, a mata-cavalos, na solidão lisboeta, a reforma autárquica do Governo PSD-CDS/PP mistura alhos, bogalhos e esquece-se dos casos óbvios que podiam olear um processo delicado.
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