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O Círculo de Leitores lança este trimestre O Arquipélago de Gulag, de Aleksandr Soljenítsin.
Há meia-dúzia de dias, através do formulário de contacto da Sextante que tem publicado os livros do autor, perguntei se estava prevista a edição da obra. Queria complementar com uma possível novidade algo que estava a escrever.
Ainda aguardo a resposta e ainda bem que publiquei o postado sem esperar por eles. Podia ter pegado no telefone, mas era aqui para o blogue, o que os desmotivará a responder, e não tinha especial urgência. Afinal, bastava que me tivessem escrito Sim, vai sair primeiro no Círculo de Leitores. Podiam até acrescentar, caso fosse o caso, que a informação estava embargada. Valia a pena estar a fazer a via sacra das passagens de telefonemas e ocupar um par de pessoas, além de mim, com uma resposta tão rápida?
Devo continuar a acreditar em elfos e no Pai Natal do mesmo modo que acredito no jornalismo asseado. Fala-se muito da instantaneidade das redes sociais, mas e o e-mail e os formulários de resposta - que permitem a mesma rapidez - continuam a não ser usados por uma série de gente. Nem sei para que os têm.
Quando o livro baixar dos 30 euros, daqui a uns 18 meses, compro-o. Quem já aguardou tanto tempo pela leitura de O Arquipélago de Gulag, pode esperar mais um pouco.
Ainda algumas notas: pela rápida vista de olhos à revista do Círculo de Leitores não se percebe se a tradução é feita do original russo. O texto de apresentação põe a tónica no prefácio de Natália Soljenítsina, a mulher do autor, que descreve as complicadas condições de escrita e de publicação da obra e perseguições políticas sofridas pelo vencedor do Nobel da Literatura de 1970, o ano em que nasci. Também não se faz um enquadramento do controverso percurso ideológico e intelectual do autor e da sua defesa de uma "Rússia profunda, ainda impregnada de cristianismo" - como se pode ler no texto de apresentação de A Casa de Matriona seguido de Incidente na Estação de Kotchetovka, outras obras disponíveis.
E, entretanto, ainda não sei se está também prevista a reedição de O Pavilhão de Cancerosos.
No ano em que se comemora o centenário da revolução soviética seria interessante que se reeditassem alguns livros russos.
Parece que sairá finalmente, em português de cá, o Eugéne Onéguin, de Púchkin, editado pela Relógio d'Água e traduzido por Nina e Filipe Guerra. E talvez se esgote o cânone russo oitocentista que havia por publicar.
Depois, há umas quantas obras directamente relacionadas com a revolução de 1917, críticas ou de louvor, que não terão sido traduzidas directamente do russo e que se encontram há muito esgotadas. Obras de três autores soviéticos premiados com o Nobel da Literatura.
A Sextante tratou de duas. Em 2008, reeditou Doutor Jivago, do Nobel da Literatura de 1958, Boris Pasternak, com tradução de António Pescada. Em 1965, a obra, uma história de amor atropelada pela revolução, deu origem, como se sabe, ao filme homónimo de David Lean. Um épico com Omar Shariff, Julie Christie, Geraldine Chaplin e o português Virgílio Teixeira.
Em 2012, pela mão do mesmo tradutor, António Pescada, a Sextante publicou Um Dia na Vida de Ivan Deníssovitch, de Aleksandr Soljenítsin. Crítico do poder soviético, o autor venceu o prémio Nobel da Literatura em 1970. Já depois da queda do regime apoiou grupos nacionalistas próximos do saudosismo czarista e manifestou por várias vezes a sua oposição à democracia. Estranhamente, dois dos seus outros livros paradigmáticos, O Pavilhão de Cancerosos e, principalmente, Arquipélago de Gulag não se editam em Portugal desde 1977 (Bertrand) e de 1975 (Dom Quixote).
Já do lado de um apoiante da revolução, estão também por traduzir do russo os quatros volumes de O Don Tranquilo, de Mikhail Chólokhov, Nobel da Literatura em 1965. Um ou outro destes volumes ainda se encontram, mas com dificuldade, nas livrarias, na versão dos Livros do Brasil, que lhe preparou a derradeira edição em 1983. Foi também publicado pela Civilização e pelo Círculo de Leitores.
Está na casa dos vinte ou dos trinta anos. Aguarda na reprografia da Biblioteca Nacional que lhe acabem de copiar várias páginas de uns grandes e grossos volumes de lombada oitocentista e estragada.
E indigna-se. Onde é que já se viu fazer na Biblioteca Nacional a cerimónia da entrega do espólio de José Saramago, que terá a presença de António Costa. Devia ser no Centro Cultural de Belém, que aquilo está cheio de salas vazias, onde se gastaram milhões e a que não se dá o uso prometido aquando da construção, assevera.
Pouco interessa ao indignado que se trate da entrega do espólio do Nobel da Literatura de 1998 à Biblioteca Nacional de Portugal. Onde tinha de se realizar a cerimónia era no CCB. Lá nessas salas do centro cultural lisboeta é que tinha de ser entregue o espólio à nacional biblioteca, que era para dar uso ao equipamento alegadamente parado.
Por acréscimo, achará, talvez, que uma biblioteca é um depósito de livros. Uma coisa sem vocação para mais nada. Ao indignado, também não ocorreu a contenda entre Saramago e Cavaco. Ou o que a construção do Centro Cultural de Belém significa na política cultural cavaquista.
Podem passar-se horas com livros à frente e não se dizer coisa com coisa.
L'amour
Quand y'a la mer et puis les chevaux
Qui font des tours comme au ciné
Mais que dans tes bras c'est bien plus beau
Quand y'a la mer et puis les chevaux
Quand la raison n'a plus raison
Et que nos yeux jouent à se renverser
Et qu'on ne sait plus qui est le patron
Quand la raison n'a plus raison
Quand on raterait la fin du monde
Et qu'on vendrait l'éternité
Pour cette éternelle seconde
Quand on raterait la fin du monde
Quand le diable nous voit pâlir
Quand y'a plus moyen de dessiner
La fleur d'amour qui va s'ouvrir
Quand la machine a démarré
Quand on ne sait plus bien où l'on est
Et qu'on attend ce qui va se passer
... je t'aime!
Leo Ferré, 1956
Le Moribond
Adieu l'Émile je t'aimais bien
Adieu l'Émile je t'aimais bien tu sais
On a chanté les mêmes vins
On a chanté les mêmes filles
On a chanté les mêmes chagrins
Adieu l'Émile je vais mourir
C'est dur de mourir au printemps tu sais
Mais je pars aux fleurs la paix dans l'âme
Car vu que tu es bon comme du pain blanc
Je sais que tu prendras soin de ma femme
Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse
Je veux qu'on s'amuse comme des fous
Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse
Quand c'est qu'on me mettra dans le trou
Adieu Curé je t'aimais bien
Adieu Curé je t'aimais bien tu sais
On n'était pas du même bord
On n'était pas du même chemin
Mais on cherchait le même port
Adieu Curé je vais mourir
C'est dur de mourir au printemps tu sais
Mais je pars aux fleurs la paix dans l'âme
Car vu que tu étais son confident
Je sais que tu prendras soin de ma femme
Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse
Je veux qu'on s'amuse comme des fous
Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse
Quand c'est qu'on me mettra dans le trou
Adieu l'Antoine je t'aimais pas bien
Adieu l'Antoine je t'aimais pas bien tu sais
J'en crève de crever aujourd'hui
Alors que toi tu es bien vivant
Et même plus solide que l'ennui
Adieu l'Antoine je vais mourir
C'est dur de mourir au printemps tu sais
Mais je pars aux fleurs la paix dans l'âme
Car vu que tu étais son amant
Je sais que tu prendras soin de ma femme
Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse
Je veux qu'on s'amuse comme des fous
Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse
Quand c'est qu'on me mettra dans le trou
Adieu ma femme je t'aimais bien
Adieu ma femme je t'aimais bien tu sais
Mais je prends le train pour le Bon Dieu
Je prends le train qui est avant le tien
Mais on prend tous le train qu'on peut
Adieu ma femme je vais mourir
C'est dur de mourir au printemps tu sais
Mais je pars aux fleurs les yeux fermés ma femme
Car vu que je les ai fermés souvent
Je sais que tu prendras soin de mon âme
Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse
Je veux qu'on s'amuse comme des fous
Je veux qu'on rie, je veux qu'on danse
Quand c'est qu'on me mettra dans le trou
Jacques Brel, 1961
Famous Blue Raincoat
It's four in the morning, the end of December
I'm writing you now just to see if you're better
New York is cold, but I like where I'm living
There's music on Clinton Street all through the evening.
I hear that you're building your little house deep in the desert
You're living for nothing now, I hope you're keeping some kind of record.
Yes, and Jane came by with a lock of your hair
She said that you gave it to her
That night that you planned to go clear
Did you ever go clear?
Ah, the last time we saw you you looked so much older
Your famous blue raincoat was torn at the shoulder
You'd been to the station to meet every train
And you came home without Lili Marlene
And you treated my woman to a flake of your life
And when she came back she was nobody's wife.
Well I see you there with the rose in your teeth
One more thin gypsy thief
Well I see Jane's awake
She sends her regards.
And what can I tell you my brother, my killer
What can I possibly say?
I guess that I miss you, I guess I forgive you
I'm glad you stood in my way.
If you ever come by here, for Jane or for me
Well your enemy is sleeping, and his woman is free.
Yes, and thanks, for the trouble you took from her eyes
I thought it was there for good so I never tried.
And Jane came by with a lock of your hair
She said that you gave it to her
That night that you planned to go clear
Leonard Cohen, 1971
Mourir pour des idés
Mourir pour des idées, l'idée est excellente
Moi j'ai failli mourir de ne l'avoir pas eu
Car tous ceux qui l'avaient, multitude accablante
En hurlant à la mort me sont tombés dessus
Ils ont su me convaincre et ma muse insolente
Abjurant ses erreurs, se rallie à leur foi
Avec un soupçon de réserve toutefois
Mourrons pour des idées, d'accord, mais de mort lente,
D'accord, mais de mort lente
Jugeant qu'il n'y a pas péril en la demeure
Allons vers l'autre monde en flânant en chemin
Car, à forcer l'allure, il arrive qu'on meure
Pour des idées n'ayant plus cours le lendemain
Or, s'il est une chose amère, désolante
En rendant l'âme à Dieu c'est bien de constater
Qu'on a fait fausse route, qu'on s'est trompé d'idée
Mourrons pour des idées, d'accord, mais de mort lente
D'accord, mais de mort lente
Les saint jean bouche d'or qui prêchent le martyre
Le plus souvent, d'ailleurs, s'attardent ici-bas
Mourir pour des idées, c'est le cas de le dire
C'est leur raison de vivre, ils ne s'en privent pas
Dans presque tous les camps on en voit qui supplantent
Bientôt Mathusalem dans la longévité
J'en conclus qu'ils doivent se dire, en aparté
"Mourrons pour des idées, d'accord, mais de mort lente
D'accord, mais de mort lente"
Des idées réclamant le fameux sacrifice
Les sectes de tout poil en offrent des séquelles
Et la question se pose aux victimes novices
Mourir pour des idées, c'est bien beau mais lesquelles ?
Et comme toutes sont entre elles ressemblantes
Quand il les voit venir, avec leur gros drapeau
Le sage, en hésitant, tourne autour du tombeau
Mourrons pour des idées, d'accord, mais de mort lente
D'accord, mais de mort lente
Encor s'il suffisait de quelques hécatombes
Pour qu'enfin tout changeât, qu'enfin tout s'arrangeât
Depuis tant de "grands soirs" que tant de têtes tombent
Au paradis sur terre on y serait déjà
Mais l'âge d'or sans cesse est remis aux calendes
Les dieux ont toujours soif, n'en ont jamais assez
Et c'est la mort, la mort toujours recommencée
Mourrons pour des idées, d'accord, mais de mort lente
D'accord, mais de mort lente
O vous, les boutefeux, ô vous les bons apôtres
Mourez donc les premiers, nous vous cédons le pas
Mais de grâce, morbleu! laissez vivre les autres!
La vie est à peu près leur seul luxe ici bas
Car, enfin, la Camarde est assez vigilante
Elle n'a pas besoin qu'on lui tienne la faux
Plus de danse macabre autour des échafauds!
Mourrons pour des idées, d'accord, mais de mort lente
D'accord, mais de mort lente
Georges Brassens, 1972
Este domingo aproveita-se a oportunidade da atribuição do Nobel da Literatura a Bob Dylan para sete postados dedicar a sete músicos cuja obra literária atinge igual cume: José Afonso, Chico Buarque, Georges Brassens, Jacques Brell, Leo Ferré, Leonard Cohen e o Nobel deste ano.
Caso não se tenha reparado, além de um projecto frustrado, Tempos Modernos é o nome de um filme de Charles Chaplin, de uma revista de Jean-Paul Sartre e de um álbum de Bob Dylan.
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