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Por muito brilhantes que os dois autores sejam, e são, tenho alguma dificuldade em levar a sério as análises do Ministério da Educação feitas por Paulo Guinote e Carlos Fiolhais .

 

Em 2011, já para começar a criticar o ministro da Educação de Passos Coelho, o professor de História dizia ter sido:

 

"[U]m dos que acolheram com enorme expectativa a nomeação de Nuno Crato para ministro da Educação, fruto de uma admiração pelo seu discurso claro e objectivo contra o que, na opinião de muita gente e atravessando fronteiras ideológicas ou político-partidárias, impossibilitou a nossa Educação de dar o salto da conquista da quantidade para a da qualidade."

 

Por sua vez, em 2012, o físico da Universidade de Coimbra ainda arranjava motivos para elogiar o ministro da Educação saído do catálogo da Gradiva. Falava de "impulso reformista", de "cortes na despesa", de "revolução traquila". Dois anos depois, em 2014, já tudo era passado:

 

"Também eu simpatizei com Nuno Crato e com a sua ideia de «implosão» do Ministério da Educação."

 

O discurso de Crato sempre trouxe dentro do seu discurso aquilo que depois foi. Que não lhe tenham topado o ovo autoritário e privatizador dentro de um discurso de exigência e rigor mostrou falta de discernimento.

 

O novo ministro da Educação pode ter muitos defeitos, vir a revelá-los todos e até não resolver problema nenhum. Mas Brandão Rodrigues tem para já a enorme vantagem de não alimentar uma narrativa da edcação e da avaliação enquanto castigos e da escola enquanto simuladora das dificuldades da vida. Só isso já é uma limpeza de alma não desprezável.

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publicado às 12:03

Colégios com muitos donos (reescrito)

por Tempos Modernos, em 11.05.16

Depois do 25 de Abril, dois cardeais  intervieram durante anos na vida pública e política portuguesa. Sempre sem tomarem continuado e notório partido por uma das partes. Mesmo que o seu natural os inclinasse a umas opções e não a outras. Com Manuel Clemente, alguma coisa se alterou em termos de equidistância. 

 

Um certo clima florentino coincidente no tempo com as vésperas da sua subida à púrpura cardinalícia já não prenunciava um magistério particularmente exaltante. Nas vésperas da escolha, o conservador Carlos Azevedo - principal opositor do hoje cardeal -  foi atingido por informações e rumores mantidos a circular inclusive por gente inesperada.

 

Ao engrossar a voz de uma tendência da Igreja - que já nem é muito recente (aqui e aqui) - o cardeal-patriarca de Lisboa apoiou os colégios com contrato de associação: Os pais dos alunos do privado "também financiam as escolas estatais", disse.

 

A igreja do Papa Francisco não parece ser a mesma de Manuel Clemente, um cardeal de discurso demasiado cesarista, agora confundível com o dos proprietários dos colégios privados.

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publicado às 16:29

Outras sintonias

por Tempos Modernos, em 11.05.16

Na passada sexta-feira, Pedro Passos Coelho avisava o Governo. Os colégios com contrato de associação podiam pôr o Estado em tribunal por não cumprir compromissos.

 

A ideia não era nova, mas na terça-feira dez colégios deram razão ao ex-primeiro-ministro que, já em final de mandato (depois de três anos de cortes no ensino público, de despedimento de professores, de aumento de dimensão das turmas da escola pública, e de reduções da rede escolar), andou a contratualizar a prestação de serviços educativos com privados: entre o final desta semana e o início da próxima, dez colégios prometeram avançar para tribunal.

 

São o mesmo tipo de afinidades electivas de que se falou no postado anterior.

 

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publicado às 16:02

Sintonias

por Tempos Modernos, em 10.05.16

Gritou anos a fio contra o Viver acima das possibilidades português - um mantra do PSD e do CDS-PP no Governo. Não há muito tempo, deixou o jornal que dirigia. Poucos meses antes de a publicação fechar crivada de dívidas - um desfecho inexplicável para quem destruiu tanto eucalipto a exigir o empenho nas boas contas.

 

Saído da direcção do jornal, logo se ocupou. O que é natural. A mobilidade é um atributo de alguns jornalistas - uma gente que roda pelos lugares de chefia e de comentadores na imprensa como se aquilo fosse um carrossel onde não entra mais ninguém.

 

Ontem, o Sempre Comentador colava o ministro da Educação a Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional de Professores. Já hoje, Passos Coelho explicou acusações de sábado: São da Fenprof os interesses servidos por Tiago Brandão Rodrigues

 

As afinidades electivas explicam muitas coincidências, muitas convergências. Mas às vezes ouvem-se os comentários da coisa política e dá a impressão de se estar a ouvir uma orquestra.

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publicado às 16:56

Fumigar a 5 de Outubro

por Tempos Modernos, em 06.12.15

5out.jpg

(fonte: cm-lisboa.pt)

 

Aí para baixo, em tempos, escrevi como seria fácil corrigir a obra de Nuno Crato à frente do Ministério da Educação. Bastava um diploma onde se revogasse toda a legislação aprovada pela 5 de Outubro entre a entrada e a saída de funções do ministro.

 

Em resposta, alguém me dizia não se poder andar sempre a mudar tudo. A ideia, em abstracto, não repugna, mas pela ignorância da dimensão da catástrofe a minha interlocutora só podia ser votante da coisa. Em linhas gerais, e noutras circunstâncias, até concordaria com ela. O grosso dos ministros da Educação teriam ganhado em não querer fazer grandes mudanças ao trabalho dos antecessores e em, com acertos pontuais, deixar correr. Por isso mesmo, cauteloso, escrevera (admitindo que não seria tão fácil em todas as circunstâncias) como se torna tão fácil corrigir a obra de Crato. É fechar os buracos por onde a legislação pode escapar e fumigar tudo.

 

Os exames da 4ª classe já foram. Alguns falaram de aprendizagem, como se fazer exames equivalesse a rigor e exigência; como se, por se andar metade de um ano lectivo em preparação para o exame, se aprendesse muito mais do que respostas condicionais e automatismos instrumentais. Gente insuspeita, que em tempos também os fez, e que nem sequer tem mentalidade especialmente cavernícola, descobriu-lhes encantos. Achou-os um bom método de preparação dos pequeninos para a dureza da vida. É passar um atestado de estupidez aos mais novos. Acham realmente que nestes anos as crianças não repararam em como a vida é difícil?

 

Outra medida de Crato deverá seguir, agora, para o desejável balde do lixo, um outro retrocesso da governação de Passos e Portas - o do ensino vocacional do 5º ao 9º ano. Estas aventesmas não repararam na velocidade com que, quase de um ano para o outro, um curso superior de garantidas saídas profissionais, como o de engenharia civil, passou a formar tantos futuros desempregados. Não tarda, os engenheiros civis voltarão a fazer falta, mas esta gente não percebeu a velocidade com que mudam as necessidades do mundo. Em como é arriscado apostar num ensino-ferramenta, numa coisa instrumental, simplesmente aplicada, voltada para a resolução de problemas imediatos em rápida mutação de paradigma. E, ainda assim, Passos, Portas, Crato, num autêntico programa de genocídio educativo, acreditaram descobrir vocações com futuro em crianças de dez anos.

 

Mas se houve cortes e medidas insensatas, também houve quem no sector tivesse contra-partida. Vejam-se os aumentos nos apoios ao ensino privado e a promessa do cheque-ensino. Será destas medidas que sai tanto apoio do cardeal Clemente aos partidos de Passos e de Portas? O negócio católico dos colégios privados é bastante extenso. Na freguesia de Fátima, Ourém, não existe nenhum estabelecimento de ensino público entre o 5º e o 12º ano de escolaridade. Se faz sentido o Estado subsidiar escolas privadas em sítios onde não exista ensino público, fará sentido que não abra escolas em Fátima? A população em idade estudantil não o justificará? Ou é um favor aos bispos? Em 2011, Fátima contava com quase dois mil habitantes com menos de 14 anos.  Em tempos de vacas tão magras que sentido faz desviar verbas dao ensino público para subvencionar negócios privados e garantir-lhes rendas à custa dos contribuintes? Ou os papás de Fátima não têm direito à liberdade de escolha e devem ser obrigados a manter os filhos em escolas católicas?

 

Uma nota final. Vale a pena assinalar como tanta gente superiormente inteligente, Carlos Fiolhais, por exemplo, tiveram, em tempos, simpatia por Crato. Enganaram-se rotundamente mas não foi por não terem informação suficente. Bastava andarem atentos. Estava lá tudo, muito antes de ser ministro, não é? A visão de Crato das universidades e do seu papel é pouco mais do que troglodita. Houve demasiada gente, com responsabilidades cívicas, a confundir o autoritarismo cratiano de raiz maoísta com rigor, exigência e qualidade.

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publicado às 15:35

Água na histeria

por Tempos Modernos, em 17.11.14

Lá por Miguel Macedo ter um entendimento da ocupação dos lugares da república mais decente e menos próximo da versão lapa de que comungam ministros de acção trágico-anedótica como Crato ou Paula Teixeira da Cruz, isso não faz dele um bom ministro.

 

Ou já se esqueceram das cargas policiais, inclusive contra jornalistas em trablaho, nos inícios da governação da actual maioria? Ou dos recentes gastos com o design de um novo uniforme para a PSP, apenas três anos depois de a corporação ter mudado de farda pela última vez? É que, ontem, até Sócrates foi relativamente simpático com o trabalho de Macedo.

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publicado às 20:56

Repetir. Repetir melhor?

por Tempos Modernos, em 16.11.14

Da última vez que olhei, 69 por cento dos leitores do Diário de Notícias digital, respondentes a um inquérito DN, achavam que "a corrupção nos vistos Gold pode prejudicar a harmonia governamental".

 

Uma treta. O longo interregno de publicações de Tempos Modernos deveu-se muito a já estar tudo dito. Quantas vezes, desde 2011, aqui se escreveu que as zangas entre CDS-PP e PSD não passavam de fumo para distrair, que em nada se repercutiriam no caminho e actividade do Governo? Ide contá-las, se duvidais.

 

Mas não admira que aos inquéritos se responda no sentido em que se reponde. As peças publicadas nos jornais continuam a sugerir essa via. Tantos anos após Maquiavel, continua a não se distinguir discurso e realidade.

 

Paula Teixeira da Cruz é tão má agora quanto era antes de tentar arranjar bodes expiatórios à custa da má implementação de uma errada política centralista.

 

Pode soar a justificação cavaquista ou ladainha à Vasco Pulido Valente, mas as ideias de Crato já eram perfeitamente mediocres e relhas quando eu o dizia em redacção perante oposição massiva dos colegas em volta. O mesmo quanto a Isabel Jonet.

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publicado às 11:50

Quando o asco prevalece sobre a ironia...

por Tempos Modernos, em 05.11.13

... um tipo não escreve nada.

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publicado às 12:17

... e tenho pena que não se tenha feito aquilo que há mais de dois anos me pareceu que se ia fazer.

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publicado às 17:54

Crato apresenta repertório canalha

por Tempos Modernos, em 12.06.13

 

(Foto: rr.sapo.pt)

 

Desdobra-se o comentário pró-governamental em acusações à ocasião escolhida pelos professores para fazer greve.

 

Nem repararam que os anúncios das mudanças que conduziram a classe à greve ainda agora foram anunciadas.

 

Propositadamente, à beira do fim das aulas. Para esvaziar o protesto, deixando os visados de mãos atadas na escolha dos modos (e datas) de contestação.

 

Aproveitar que as férias se aproximam para lançar medidas impopulares faz, aliás, parte do cardápio das canalhices habituais feitas por  governos. A recusa de Crato em cumprir a decisão do Tribunal Arbitral é só uma novidadezinha num estilo muito antigo.

 

 

No comentário pró-governamental, pode comparar-se a não realização de um exame com casos de vida ou de morte, arrancar cabelos preocupados com um atraso de algumas semanas - perfeitamente recuperável - na vida dos adolescentes.

 

Isso não lhe dá razão. Apenas o deixa alinhado com os defensores de um certo tipo de greve.

 

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publicado às 13:03


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