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Um muito amado jornal em forma de geringonça

por Tempos Modernos, em 11.11.15

"Manuel Monteiro explica aos autores: «Tínhamos os votos, tínhamos esta ideia de conquistar o CDS, mas não tínhamos o lado da corte. Tínhamos a macaquice para as reuniões das assembleias distritais, mas não para a grande política. E o Portas – aliás, o Luís Nobre Guedes – percebe isso: estes miúdos descobriram um diamante, mas não o sabem lapidar.»

 

Mas Paulo Portas escrevia no jornal como se estivesse alheio a tudo: «Tudo visto, [Monteiro] é quem merece o benefício da dúvida. Digo-o eu que sou independente e vejo as coisas de fora do CDS. Se calhar, é mesmo esse o mérito desta opinião.»

 

Manuel Monteiro: «O Portas contava-me todas as histórias em que estivesse a trabalhar que envolviam política. Quem lhe telefonava do Conselho de Ministros a dar–lhe notícias, o que se passava no Governo, o que se passava na oposição. Como ele sabia tudo, eu sabia tudo (...) inventava frases e escrevia discursos.»

 

«Muitas vezes, o CDS convocava à quinta -feira os jornalistas para uma conferência de imprensa no dia seguinte – cujo tema, nunca revelado por antecipação, era uma notícia publicada pel’O Independente nessa sexta -feira», acrescentam os autores.

 

É claro que esta relação não era apoiada por toda a redacção do jornal. Num emblemático 25 de Abril de 1994, houve uma tentativa de golpe. Helena Sanches Osório convocou a redacção para um almoço na Versailles e «expôs as suas preocupações sobre o futuro do jornal, caso continuasse a ser usado por Portas como órgão oficioso do CDS, e defendeu que o melhor caminho seria a mudança de director». Falharia. Dois dos mais próximos de Portas, Isaías Gomes Teixeira (que seria escolhido para o substituir na direcção) e António Ribeiro Ferreira (hoje no i) opuseram-se a qualquer acção contra Portas.

 

Com a sua caneta azul Futura, Portas continuou a ditar a linha editorial e a escrever as suas crónicas que, hoje, parecem uma maldade feita pelo jornalista ao político: anti-europeu, defensor da evasão fiscal como forma de protesto... Mas a política acabaria por ser a escolha, a tempo inteiro, na eleições legislativas de 1995. E depois nas europeias de 1999. E depois... d'O Independente ficaram muitas inimizades e um rol de processos judiciais."

 

Paulo Pena, in Público, a propósito de Filipe Santos Costa e Liliana Valente, O Independente, A Máquina de triturar políticos, Matéria Prima, 2015.

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publicado às 10:04

Excessos das edições de aniversário

por Tempos Modernos, em 06.01.13

As edições de aniversário dos órgãos de comunicação social embarcam demasiadas vezes num tom épico que soa a ridículo e desfasado da realidade. As biografias sérias são sempre um desfiar de falhanços.

 

Boa parte do Expresso dos 40 anos escorrega nesse estilo vitorioso, um género ou topos literário consagrado recentemente também nos perfis online dos editores do Público, outra publicação de referência.

 

Paulo Portas que fez notícias contra as meias brancas de Cavaco Silva e cujo jornal competiu durante alguns anos com o de Balsemão foi convidado a escrever sobre o antigo rival. "[N]alguma fase da vida, já todos fomos, somos ou seremos leitores do Expresso", diz.

 

Percebe-se a quem se refere, mas não será tanto assim. Muitos dos que se julgam alguém gostam de passear-se pelas esplanadas à beira Tejo com o saco do jornal na mão. A compra do Expresso parece dar status. Só que existe um Portugal fora dessa realidade, longe desses que gostam de se considerar uma elite. Que o mais influente e importante jornal do país lhe passe ao lado explica bastante do ponto a que chegámos.

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publicado às 11:46


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