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Vale o que vale, que as votações foram secretas e nada se pode concluir com rigor.
Na eleição para presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues foi eleito com 120 votos. Fernando Negrão, o candidato da coligação governamental, acabou derrotado obtendo 108 votos. Houve duas abstenções. Fazendo umas continhas sabe-se que a Esquerda tem 122 votos, 86 parlamentares do PS, 19 do BE, 17 da CDU. A Direita, 107. Ou seja, o candidato do PSD e do CDS-PP conseguiu mais um voto do que aquilo que estava, à partida, garantido. Admitindo a existência de grupos parlamentares relativamente disciplinados, e também de vasos comunicantes, de onde terá vindo o voto a mais na Direita?
Depois, houve a eleição dos vice-presidentes do parlamento. Vota-se aceitando ou rejeitando os candidatos. Jorge Lacão, candidato do PS somou 122 votos, nem mais um. Todos os outros candidatos, até José Manuel Pureza, do BE, tiveram votos de aceitação de deputados da Direita. Apenas Jorge Lacão não obteve mais votos do aqueles que lhe garantiria a soma aritmética dos votos da Esquerda coesa e unida.
Nos votos à justa de Lacão, onde não se insinua qualquer trânsfuga, e no voto a mais de Fernando Negrão, não andará a participação de André Silva, o eleito do PAN? Que novidades trará a apresentação do Governo Passos Coelho-Portas?
(Foto: ionline.pt)
Nuno Melo (do CDS-PP), João Semedo (do BE) ou Honório Novo (do PCP) são possivelmente os deputados que em 2008 e 2009 mais se destacaram na "Comissão Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar à existência de uma falta grave na actuação do Banco de Portugal no exercício do seu poder de supervisão do sistema bancário no caso do Banco Português de Negócios".
Num parlamento onde já existiram dez inúteis comissões de inquérito ao acidente que vitimou Sá Carneiro em Camarate, os trabalhos da comissão do BPN foram quase unanimemente considerados como verdadeiramente prestigiante para o trabalho dos parlamentares.
Com a proposta de redução de deputados feita no 5 de Outubro por António José Seguro, não é apenas o pluralismo que é posto em causa. No parlamento desejado pelo secretário-geral do PS, o trabalho de Melo, Semedo e Novo teria sido grandemente dificultado.
Um parlamento em versão de bolso, forçaria os muito poucos deputados das bancadas mais pequenas a desdobrarem-se entre comissões, sobrecarregados de trabalho e não conseguindo aprofundar assunto nenhum, piorando a qualidade do seu trabalho.
Quem defende a proximidade entre eleitores e eleitos tem aqui um passo de gigante no sentido contrário. Que os comentários online nos jornais pareçam apoiar a medida ajuda a explicar o ponto em que o país se encontra. Ajuda também a perceber qual é a rua que os partidos do bloco central estão interessados em ouvir.
(Foto:dn.pt)
António José Seguro tem dezenas de assuntos sobre que pensar.
Prefere perder tempo e enterrar ainda mais a democracia. A proposta, feita num jantar para assinalar o 5 de Outubro, deve pouco aos princípios aclamados como republicanos.
É uma forma de garantir na secretaria o afunilamento no rotativismo PS-PSD. É uma forma de cortar as franjas acabando com a eleição de deputados da CDU, do BE e do CDS-PP e deitando borda fora os pontos de vista de uns bons 30 por cento do eleitorado.
Deve ser para não destoar do lado caricatural das comemorações da implantação da República.
Uma intervenção miserável que consegue encontrar apoiantes nas caixas de comentários da blogosfera.
Ontem, uma dessas moças despachadas e pespinetas, uma gente sem préstimo público que se conheça, que o PSD costuma distribuir por lugares e assentos de assessoria agradecendo - imagina-se - prestimosos serviços em concelhias laranjas e associações de estudantes, revelou que o seu partido tinha acabado de fazer uma chamada falsa para o INEM, para testar a velocidade do serviço.
Desconfiada com o tempo de espera do 112, número do atendimento de emergência, apresentados na Comissão Parlamentar de Saúde, Joana Barata Lopes podia (e devia) pedir (re)análise dos números apresentados pelo Tribunal de Contas e pelo Instituto Nacional de Emergência Médica. Podia promover uma avaliação parlamentar dos dados.
Achar que um telefonema avulso é capaz de fazer prova numa coisa deste género soaria a falta de preparação matemática, se não fizesse tanger antes os alarmes de chico-espertice. Como se pode governar a Cidade com esta promoção parlamentar das actividades de Verão dos adolescentes ociosos, uma argolada que ainda por cima até constituirá ilícito penal?
No PS e PSD é recorrente a teima no tema da diminuição do número de deputados, que como bem se sabe – só os militantes e eleitores clubísticos conseguem defender o contrário – manterá o mesmo tipo de relação entre eleitos e eleitorado e limpará o hemiciclo de vozes do CDS-PP, CDU e BE.
Talvez aqueles dois partidos devessem olhar primeiro para a qualidade das suas listas e para os seus próprios telhados vez de tentarem extinguir por via administrativa os outros grupos parlamentares.
Assunção Esteves começa a sua acção à frente da Assembleia da República com um feliz apelo contra-corrente.
A deputada chama a atenção para os Direitos Humanos de quem se encontra retido em prisões e outras instituições fechadas - uma intervenção que lhe trará mais críticas do que elogios.
A presidente(a) do Parlamento sabe onde se mete ao lembrar "a fragilidade dos que aí se acolhem e a distância da opinião pública em relação a eles".
Ouvir o gozo sádico com que muitos defendem os maus tratos de presos e detidos (e entre presos e detidos) mostra que a distância entre a civilização e a barbárie é escassa. Infelizmente, há muita gente a quem basta tirar o banho diário para tornar impossível descobrir as diferenças entre o cidadão e o selvagem.
No escasso período em que como estagiário fiz jornalismo político, Guilherme Silva era o chefe da bancada laranja.
Estava sempre disponível, era sempre correcto e assertivo. Agora foi um dos nomes falados para substituir Jaime Gama (um presidente de má memória - lembram-se da cena humilhante com o secretário de Estado que não acertava na fórmula protocolar?) na presidência da Assembleia.
Embora o lugar tenha ficado bem entregue a Assunção Esteves, acaba por constituir alguma injustiça que a oportunidade tenha passado pelo discreto e dedicado Guilherme Silva sem ele lhe poder ter tocado.
A homenagem possível, feita pelos colegas, foi terem-lhe dado 201 votos em 224 na eleição para vice-presidente da Assembleia.
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