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Havia aí um jornal que ia ouvir Barreto de cada vez que o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas levava com um chumbo do Constitucional. Já se sabia que com o homem estava sempre garantido um par de frases de ataques à Lei Fundamental, uma coisa do PREC a pedir alteração de cabo a raso.
Agora, depois disto, logo depois disto, lá estava o sociólogo de serviço a uma entrevista de Vítor Gonçalves na RTP. Que era para ajudar a pensar o país na sequência dos fogos de Pedrógão Grande, justificava-se o membro da direcção do canal. E olha que dois para o fazerem.
As ideias estúpidas propagam-se com grande velocidade nos meios de comunicação social portugueses, que reproduzem como boas as superficialidades uns dos outros. Em regra para o mesmo lado, que falta-lhes em originalidade o que lhes sobra na constância das apostas pessoais. E Gonçalves faz parte do conjunto de jornalistas que não nos sossega propriamente quanto à qualidade da informação e do contraditório.
Entretanto, Judite Sousa, que nos andou a servir reportagens e directos com mortos nas imagens de fundo, serviu-nos também um debate que meteu os roubos de Tancos comentados pelos directores Paulo Ferreira e António Costa. Mas o canal podia ter convidado logo Assunção Costas e Passos Coelho, se era para a coisa ficar um bocado mais plural e diversa de pontos de vista. Ou aquele outro moço que garantia a pés juntos a existência de armas de destruição massiva no Iraque e que entretanto para fundar uma publicação sacou uns trocos a uns amigos de Durão Barroso.
Que se há-de fazer? Anda aí muita gente com carteira profissional de jornalista, mas sem perceber que jornais não são blogues.
Nas véspera de Natal, Paulo Ferreira, um desses directores e comentadores inamovíveis da comunicação social portuguesa, recebeu com espanto fingido a notícia de que Marcelo Rebelo de Sousa admite custos para os contribuintes na solução proposta pelo Governo para os lesados do BES.
“A sério?? Por esta é que ninguém esperava.”, tuítou.
A gracinha é de uma ironia pesada e peca por tardia. Não se recordam idênticas preocupações de Paulo Ferreira com os contribuintes nos quatro anos e meio da governação da dupla Passos Coelho e Paulo Portas.
Paulo Ferreira é um jornalista medíocre e parcial cujo sucesso na carreira só se explica pelo estado comatoso a que a nossa corporação e os jornais se deixaram chegar. Eles na crista das fichas técnicas e o jornalismo nas cavas.
Em condições normais, num meio onde a informação tivesse relevância democrática e valesse enquanto bem social, as qualidades que Paulo Ferreira tem revelado no exercício público da profissão nunca o recomendariam para as várias funções de chefia jornalística coleccionadas.
O jornalismo em Portugal só se fará contra estas figuras. Não servem a informação e dão-lhe mau nome.
(Fonte: em dn.pt, Paulo Spranger - Global Imagens)
O PCP chamou-lhe "frete", Vasco Pulido Valente "um puro «tempo de antena»". Independentemente das acusações, a condução do processo de lançamento d'O País Pergunta prova a completa desadequação de Paulo Ferreira para o cargo de director de informação do canal público de televisão.
Primeiro, o programa não podia ter sido emitido em cima das autárquicas ignorando todos os outros partidos, como o director de informação do canal defendeu.
Segundo, nada justifica que este modelo do "Eleitor pergunta que o entrevistado responde" fique reservado para o primeiro-ministro e para António José Seguro, como se informar consistisse em, ainda mais que em afunilar as escolhas dos eleitores, em dar-lhes só as opções tidas como legítimas pelos cultores dos sacrossantos critérios editoriais.
Os canais de televisão têm obrigações de serviço público e de pluralismo e, mesmo quando instrumentalizada por sucessivos governantes, a RTP por maioria de razão.
No meio disto, há sempre uns grandes repórteres disponíveis para recomendar a coisa como "serviço público". Só que nada se pode fazer quanto à irreprimível vontade de certas figuras para se auto-ridicularizarem.
Paulo Ferreira disse ao jornal i que "deve caber «ao jornalismo o que é do jornalismo e à política o que é da política»". O director de informação da RTP pretende justifica e arrumar a realização de uma entrevista a Pedro Passos Coelho em vésperas de eleições autárquicas e a exclusão dos restantes dirigentes partidários.
Será que acha mesmo que a sua posição é defensável e compatível com o pluralismo associado ao direito à informação?
Os critérios jornalísticos e editoriais têm as costas largas e sofrem demasiados tratos de gato sapato nas mãos de quem os saca dos coldre para justificar decisões duvidosas.
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