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Pelo menos no discurso, Paulo Rangel chegou a ultrapassar pela esquerda um candidato do PS ao parlamento europeu. E venceu Vital Moreira. Depois disso lá acertou agulhas e nos últimos anos tornou-se um político desinteressante e demagogo.
Anteontem, na TVI24, justificava a bondade da reunião conjunta dos ministros dos negócios seis países fundadores da CEE. Que têm todo o direito de se encontrar e discutir o Brexit entre eles, dizia.
Para justificar a atitude dos seis países europeus que se acham mais europeus que os outros países europeus, Rangel até se lembrou de sugerir uns encontros portugueses com os estados atlantistas da União Europeia.
Embora o modelo sugerido pelo euro-deputaddo do PSD fosse mais o dos contactos diplomáticos que os de um encontro clubístico, serviu-lhe a coisa para justificar a exclusivista reunião dos seis auto-denominados donos da Europa.
Perante a crise provocada pelo Brexit, meia dúzia de países e os seus capatazes embarcam na retaliação e no acentuar das divisões internas de um corpo mais que doente. Fuga para a frente, pela enésima vez. Perante exigências de que o Reino Unido saia depressa, que outras conclusões tirararam os ministros dos negócios estrangeiros dos seis (Alemanha, França, Itália e Benelux)?
"Não deixarão ninguém tirar-nos a nossa Europa", disse o ministro dos negócios estrangeiros alemão.
O uso do possessivo não os recomenda a ninguém. Mas há quem alinhe cegamente. Paulo Rangel junta à estridência, a incapacidade para entender os problemas da Europa. A indiferença (e até o apreço) à humilhação dos povos e o cultivar instrumental do ajojar da soberania - os fins justificam os meios - fá-lo justificar o injustificável. É dessa massa que o grosso dos poíticos europeus é feita. Não perceberam nada, nem vão perceber.
Como, no mesmo programa da TVI 24, o comunista João Oliveira respondia a Paulo Rangel, "é verdade que os seis países têm o direito de fazer as reuniões que quiserem. Mas os outros também têm o direito de tirar as suas ilações".
E, já agora, alguém acredita que perante tão evidente cerrar fileiras, os outros estados e povos europeus não começarão a confirmar algumas ideias disruptivas acerca dos interesses, desígnios e vontades destes voluntariososos directórios e dos seus defensores?
(Foto: blogue Psicolaranja)
Nas últimas eleições europeias, Paulo Rangel só foi uma surpresa para quem o não conhecia como comentador. Ontem, à margem do Conselho Nacional do PSD disse várias coisas interessantes. Previsivelmente, critérios editoriais levaram à escolha das menos interessantes para título, que é aquilo em que a maioria dos leitores repara.
Uma das opções foi pelo sound bite (e o próprio disse que o era) de que o ministro dos Negócios Estrangeiros devia assumir maior protagonismo na Europa. Outra foi a afirmação e que o CDS-PP tem tempos de reacção lentos. Neste caso, o eurodeputado referia-se ao tempo que o CDS-PP levou a tratar da questão orçamento de Estado e o tom crítico foi bastante atenuado.
Onde é que estava a notícia no meio disto tudo? O que é que era realmente importante e fora da espuma dos dias e da lógica maniqueísta de crise política provocada pelo CDS-PP? A observação de que o Governo devia jogar também no tabuleiro europeu e suavizar as exigência feitas pela pela tróica a Portugal. Ora, isso foi obliterado dos títulos.
Depois de o FMI criticar os programas de ajustamento, de o BCE mostrar no papel disponibilidade para mudar alguma coisa e logo a seguir à presença de Passos Coelho num Conselho Europeu sem falar da difícil situação portuguesa (Hollande dixit) jornais destacam comentários sobre o CDS-PP.
Se queriam escândalo, podiam ter juntado pontas menos óbvias. Apesar da civilidade do tom, podiam ver nas declarações de Rangel, antigo adversário de Passos Coelho à presidência do PSD, um ataque à forma como é dirigido o Governo.
Por três motivos. Primeiro, por que o é. Rangel disse que o Executivo age mal ao não ter uma postura europeia que procure obter medidas menos gravosas para Portugal. Segundo, por que tem razão. O país está refém das baias em que sucessivos tratados e acordos da União o meteram. Por último, por que Paulo Rangel será sempre uma das figuras a considerar para primeiro-ministro de um governo de iniciativa presidencial ou de salvação nacional.
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