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Para perceber o mundo que cerca Portugal, neste momento um oásis tolerante, interessa publicar um mapa dos actuais governos europeus, com ligações às extremas-direitas xenófobas, autoritárias e anti-imigração:
Manuel Loff, "A lengalenga do Populismo", in Público
Mario Vargas Llosa escreveu A Civilização do Espectáculo, Guy Debord A Sociedade do Espectáculo.
Mesmo aquém da problematização necessária, Gilles Lipovetsky escreveu acerca d'A Era do Vazio e d'O Império do Efémero.
Em A conspiração contra a América, Philip Roth ficcionou uns Estados Unidos governados por nazis e pelo muitíssimo popular aviador Charles Lindbergh, vencedor de Franklin Roosevelt, nas eleições presidenciais de 1940. E ficcionou as consequências para a Europa e para o Mundo das cordiais relações com Hitler do hipotético presidente.
O escritor Don DeLillo tem várias obras acerca do real e da sua contaminação pelo espectáculo, veja-se Mao II ou a peça Valparaiso. O recém-desaparecido Nobel Dario Fo expôs as entranhas do teatro dentro do teatro e da realidade.
Apesar das diferenças culturais (e também de valores) entre ambos, Berlusconi e Marcelo Rebelo de Sousa são realidades televisivas. E chegaram antes de Trump.
Sempre que ponho reservas ao embandeiramento em arco com o autor sou destratado por gente que nem sequer o leu. Embora não vá tão longe como a jurada descontente, pelos vistos há reforços de peso para a causa.
Philip Roth ganhou o Man Booker International com o júri vincando as suas "audiências que não páram de crescer", um estranho critério de qualidade.
Os prémios valem o que valem mas todos os anos em Setembro/Outubro engrossa o coro dos descontentes com a Academia Sueca que nunca mais premeia o homem. E como não premeia crescem as acusações contras a idoneidade nórdica. Felizmente, em 2010, o dito coro já deixou de contar com o argumento Vargas Llosa*. Não há pachorra para levar com a repetição globalizada do que a Time ou a Newsweek dizem.
Esquecem-se é de que Estocolmo também costuma premiar tendências literárias e dificilmente volta ao mesmo local. Em 1985, Claude Simon serviu, de certa forma, como representante do noveau roman, impedindo a consideração séria, daí em diante, de outros escritores como Alain Robbe-Grillett ou Nathalie Sarraute.
Infelizmente para os admiradores de Roth, o romance do judeu norte-americano, upper-class, letrado, embrenhado nos seus labirintos pessoais também já foi premiado em 1976, quando o superior Saul Bellow venceu o Nobel da Literatura.
Não sou um particular amante do estilo nem das histórias de Roth de que, confesso, conheço pouco. Cultiva uma prosa bem escrita, directa, ensimesmada e auto-centrada. Decalca retratos de uma certa classe média alta com pretensões intelectuais onde os jornalistas gostariam de se rever e que também agrada aos professores universitários - outro reduto onde a função crítica ainda se vai fazendo sentir.
Assuntos comezinhos, de um dia-a-dia mais corroído do que corrosivo, assombrado pelo sexo, ou falta dele, pela idade que pesa, pela auto-realização. Tudo coisas que Bellow já tratou antes com outra novidade e golpe de asa estilístico mas que, de repente, ninguém parece ter lido.
Nota: *O peruano é um dos raros escritores que pode fazer romances com ideias dentro e que a crítica mainstream - fardada de epígona do Nabokov - não critica. Nada contra, o novíssimo marquês é um grande escritor, mas há outros que também o são (como Saramago, Pinter, Fo ou Grass) e a inteligentzia dominante abomina-lhes a tendência para tomarem partido. Chamemos-lhe memória literária selectiva.
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