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(fonte: setubalnarede.pt)
O Governo reverteu a subconcessão a privados dos transportes públicos de Lisboa e Porto. Fez bem. Muito bem, mesmo que não seja essa a convicção do grosso das sensatas direcções jornalística.
Já há umas semanas, Joana Petiz, da direcção do Diário de Notícias, reclamava da opção anunciada pelo PS ainda durante a campanha eleitoral - uma posição contrária à entrega dos STCP, Carris, Metro e Transtejo a privados e igual à, há muito, defendida pelo BE e pela CDU.
A argumentação não era propriamente sofisticada:
Se a jornalista conseguia reconhecer a existência de divergências ideológicas – bravo!, em regra, a direita faz-se de sonsa e refugia-se num alegado pragmatismo técnico -, já não conseguiu escapar à falácia de que o Estado tem o ADN contaminado por qualquer bicheza que o obriga a ser mau gestor.
É uma ideia peregrina que, como lembrou, há uns anos, a então deputada bloquista Ana Drago, esbarra antes em apostas partidárias que tratam mal a coisa pública e que depois se servem desses maus tratos para justificar a sua entrega a privados: é a história do parricida que pedia clemência ao juiz por ser órfão.
Esta gente gosta muito dos privados, mas em vez de os deixar competir num mercado livre onde possa com risco produzir riqueza, opta antes por lhes garantir rendas estatais em sectores sem concorrência, como os dos transportes e outros.
Os transportes públicos são uma área de actividade cuja obrigatoriedade de prestação do serviço obriga à manutenção de linhas e carreiras, de uma qualidade mínima dos meios circulantes . Áreas que serão sempre deficitárias, de onde nenhum privado, por excelente que seja a gestão, tirará lucro e cuja manutenção seria suprida por indemnizações compensatórias.
(Fonte: O Mensageiro, The Postman, 1997)
... será vendida até Dezembro.
O negócio está nas mãos de Pires de Lima, ministro do CDS-PP.
Seria significativo que o maior partido da oposição (e os outros também) avisasse a navegação: "Quando chegarmos ao Governo renacionalizaremos os CTT, um tipo de empresa que até nos livres Estados Unidos é uma empresa federal, e garantimos que não pagaremos indemnizações a quem agora se chegar à frente."
Era vê-los virem.
O comentário próximo do Governo anda para aí numa labuta pegada tentando mostrar que tudo que se disse sobre a privatização da TAP não passou de má-língua de gente ainda pior intencionada.
É um truque tão bom como qualquer outro. Mas as privatizações da lucrativa ANA - uma inovação nacional - e de quase 50 por cento da RTP também estão previstas e eventualmente melhor encaminhadas.
A ver a que argumentário recorrerão entretanto os fiéis do Executivo.
(Foto: diariodosacores.pt)
(Foto: Blitz.pt)
... e no momento actual, quando o Governo tenta arranjar dinheiro em todo o lado, se esta venda não é criminosa, não se sabe o que é que será criminoso.
A coisa fica em família, mas o economista em Belém não poderia vetar o negócio ruinoso?
(Via Ladrões de Bicicletas)
No Expresso, o antigo ministro da Economia Manuel Pinho, um homem capaz de transportar o ambiente de festa brava para a Assembleia da República, volta a fazer figura de sensato:
“É uma indignidade Portugal vender a pataco as empresas do sector energético e parte do sector das águas. A venda ao desbarato da ADP, Galp, REN e EDP não vai criar mais concorrência, nem resolver qualquer problema financeiro. Trata-se de uma decisão errada por razões de fundo e conjunturais.
Por razões de fundo, porque no mundo inteiro 95% dos recursos hídricos mundiais não são geridos por privados e não há país em que o Estado ou interesses nacionais não tenham grande influência no sector da energia. Não é preciso muita imaginação para ver os cenários dantescos que a médio prazo podem resultar por o Estado sair de sectores que têm uma importância estratégica.
Por razões conjunturais, porque não passa pela cabeça de ninguém vender as jóias da coroa quando os mercados estão pelas ruas da amargura.
Ninguém acreditaria se lhe dissessem que Berlusconi ia vender ao desbarato a Eni, Sarkozy a EDF ou Dilma Rousseff a Petrobras, pois não?
Ao contrário do que alguns pensam, Portugal não está a fazer figura de bom aluno, está a fazer a figura do aluno que aceita que lhe coloquem orelhas de burro e, ainda por cima, parece gostar de se exibir com elas em público.”
Estranhos tempos estes.
Nota: Para facilitar a leitura, parti o texto de Manuel Pinho em novos parágrafos.
As Águas de Portugal (AdP) dão lucro.
O lucro da AdP dá jeito para tapar o défice e evitar uma espoliação tão grande do 13º mês.
O Governo quer privatizar a AdP.
O Governo quer privatizar o lucro da AdP, cavando mais fundo o buraco do défice e prometendo que o ataque ao 13º mês continue nos próximos anos.
Macário Correia, ex-secretário de Estado de Cavaco já transformado em autarca histórico, avisa que há autarquias a pagar salário com receitas da águas.
A ver se com o negócio da privatização, o futuro dono da AdP aceita continuar a pagar os vencimentos dos funcionários das câmaras ou se acontece como com o BPN. Como se sabe, o Banco vai despedir metade dos funcionários para os contribuintes (quem mais?) arcarem com o seu subsídio de desemprego depois de terem capitalizado a instituição.
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