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Há pouco tempo, o canto da varanda, um bloco maciço de cimento e ladrilhos, com perto de um quilo, caiu da altura de um quarto andar, sem que se tivesse dado pela fractura iminente.
Era fim-de-semana e iniciou-se a ronda das capelinhas, quem interditaria a vertical do prédio de maneira a impedir acidentes com as pessoas e as viaturas que habitualmente estacionam no passeio debaixo das varandas.
Passou-se pela PSP e pelos bombeiros e acabou-se a falar a um domingo com o responsável da protecção civil do concelho.
Explicou-se ao simpático senhor que almoçava com a família que podia ser domingo, mas convinha fazer qualquer coisa no imediato, pois ele adiava para o dia seguinte.
Entre ele vir colocar obstáculos à circulação no passeio - que impedissem estacionamentos e a passagem de pessoas - e iniciar uma obra poderia voltar a cair qualquer coisa e morrer alguém.
Apesar da primeira resistência, não foi difícil convencê-lo a vir. Mas depois não contactou ninguém para perceber melhor a situação. E fez asneira. Ao chegar, instalou os obstáculos e foi-se embora. Ficaram sob a varanda errada.
Os donos da varanda lá corrigiram a situação, arrastaram os pinos e as faixas delimitadoras para debaixo da varanda certa. Não contavam era com os vizinhos. Ao longo dos dias seguintes, até se iniciar a obra imediatamente pedida, os obstáculos foram sendo retirados, mudados de sítio, reajustados na posição. Havia quem estacionasse ali, as pessoas continuavam a passar por lá.
Havia sempre alguém que mexia nas balizas e as mudava de sítio como se não estivessem ali para minimizar o risco potencialmente fatal da queda vertical de calhamaços de cimento e ladrilhos. Não lhes ocorria que aquele estendal tinha uma qualquer justificação, nem mesmo tendo pespegada a identificação da protecção civil concelhia. Pensavam lá que pudessem estar a matar alguém.
Conto de memória e sujeito a erros. Há uns anos no Instituto de Defesa Nacional, onde fazia um curso de Segurança e Defesa para Jornalistas, contava um dos formadores que em determinada altura se tinha entregue a alimentação das forças da NATO na ex-Jugoslávia a empresas civis de catering. Queria-se poupar e o concurso foi vencido por uma companhia italiana.
Todavia, talvez nem tudo tenha corrido tão bem como o lado financeiro. A tropa portuguesa, por exemplo, já tinha pouca paciência para tanta massa. E as marinhas mundiais já há muito que perceberam a importância da boa alimentação a bordo para manter o moral.
Mas nem é a questão dos apetites que interessa por aí além. Todos os problemas fossem esses. Em determinada altura, uma qualquer unidade militar de um qualquer país acabou uns dias largos cercada e sem abastecimento. Por causa dos riscos, os funcionários das empresas civis recusaram-se a ir alimentar os homens. Coisa que não aconteceria se em vez de companhias de catering, tivessem enviado companhias de administração militar.
Lembro-me sempre destas histórias quando vejo histórias como as do fecho ou alienação do Laboratório Militar, dos hospitais militares, da Manutenção Militar, das Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento e de vários estabelecimentos fabris militares, como os Estaleiros Navais do Alfeite.
Há algum laboratório farmacêutico interessado em desenvolver medicação para o paludismo quando os medicamentos para a queda de cabelo dão mais dinheiro? Tem-se preferido fechar, privatizar, em vez de procurar modelos de gestão, produção e de investigação mais modernos. Lembrei-me de tudo isto por causa dos custos e falhas do SIRESP, que talvez com contratação de meios civis e outra organização das coisas, pudesse ter sido desenvolvido pelos armas, classes e especialidades de transmissões e comunicações das Forças Armadas.
Não é que as coisas não falhem. A minha confiança é até relativamente baixa. Mas os Estados Unidos da América há muito que perceberam a importância para a economia do desenvolvimento de equipamentos. Nem tudo tem de ser aplicado em material de guerra e boa parte dos inventos tem aplicações civis.
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