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"Não se pode dizer que o discurso de um seja melhor que o do outro", diz o jornalista referindo-se às intervenções de Rui Vitória e de Jorge Jesus ao longo do campeonato. "São diferentes", conclui.
Gostava de saber o que dirá o jornalista quando situações como esta - que certos estilos de discurso continuado ajudam a inflamar - redundarem em real violência.
Aposto que aí já não se faz de imparacial e virá dizer-nos não haver uma violência boa.
(fonte: publico.pt)
Em finais de 2011, a PSP estava a mudar de fardas. Dos velhinhos uniformes com barrete e camisas desfraldáveis, para esses que aí vemos agora, nas ruas, de boné e pólo.
Em 2014, nem três anos depois, repete-se, nem três anos depois, estava já previsto um novo plano de uniformes, o do azul "ciano" anunciado pelo ministro MIguel Macedo.
Já agora, duas questões, perante as dificuldades em encontrar fardas regulamentares: que sentido estratégico existe no encerramento de indústrias militares como as Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento e que inteligência e que eficiência decorrem de um certo discurso populista e demagógico contra a despesa pública?
Telefona-se para a PSP local e não conhecem a morada que se lhes indica. Tem de se lhes explicar. Depois, têm um carro na rua e não sabem quando podem passar. São, no geral, urbanos, educados.
Mas, por aqui, não me recordo de ver guardas na rua, tirando à porta de bancos. São gratificados. Polícias montando guarda nas suas folgas.
Não conhecem a toponímia do sítio onde estão colocados, têm apenas um carro pelo que a sua presença demorará. Não conhecerem, a pé, como a palma da mão, as ruas da cidade onde estão colocados é uma grave falha operacional: Onde é que fica um telefone público, onde está a passagem alternativa, que rua costuma estar atravancada, fechada num beco, que saída tem o café ou bar para as traseiras, como é mais rápido ir dali para acolá?
Dirão que conhecem tudo isto, que só não sabem os nomes das ruas. Duvido muito. E não se responde depressa a um pedido de intervenção se, do outro lado, o polícia que recebeu a chamada tiver de estar a explicar aos camaradas onde é o sitio de onde surgiu o alerta.
Não há reunião internacional, manifestação, visita de alta individualidade que não conte com os anúncios aterrados do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo ou de qualquer gabinete da PSP.
Torna-se difícil manter a confiança nestas fontes quando, anúncio após anúncio, declaração após declaração, todo o fogo-de-artifício previsto com pompa e circunstância redunda numa pífia fumaça.
Pelo menos um dos sindicatos da PSP (o Sindicato Nacional da Polícia), alertou a corporação para a necessidade de não se deixar "instrumentalizar" e "virar o «cidadão manifestante» contra o «cidadão polícia»".
Do que me recordo, é a primeira vez no passado recente que forças da autoridade chamam a atenção para a intensidade do uso da força policial.
O apelo é feito a poucas horas das manifestações contra a austeridade que hoje se realizam em vários pontos do país e na sequência de acidentes entre manifestantes e autoridades a 24 de Novembro de 2011 e 23 de Março do corrente, entretanto justificados pela PSP e pela Procuradoria Geral da República.
O referido sindicato não deixa de apelar ao zelo "pela segurança dos cidadãos" e à " manutenção da paz e tranquilidade pública".
Em directo das ruas de Lisboa, na SIC Notícias, uma jornalista resume a posição de um sindicato, não apanhei se será o mesmo, apenas com base nesta última linha. O apelo ao civismo dos manifestantes. Ao passar para a peça noticiosa, um dirigente do sindicato vinca os dois aspectos, o referido pela jornalista e o da contenção policial.
Os ângulos jornalísticos e os critérios editoriais evidenciam sempre uma escolha. Eu não teria feito o mesmo resumo da minha camarada da SIC-Notícias. Os apelos à calma dos manifestantes não têm faltado, já a chamada à calma dos polícias tem outro grau de novidade.
Em entrevista à Visão, Margarida Blasco, Inspectora-Geral da Administração Interna, informa ter aberto um inquérito por causa da actuação da PSP, no dia da Greve Geral de 23 de Março. Mais adianta que a investigação trará resultados em menos de um mês.
Margarida Blasco, no entanto, nada diz sobre os acidentes de 24 de Novembro, cuja repercussão na blogosfera não teve grande impacto junto da comunicação social.
Não foi pela falta de atenção que não ocorreram factos muitos estranhos, como confirmado ainda agora, ao jornal i, por um guarda do Corpo de Intervenção. Nesse dia agents provocateurs da PSP andaram à solta entre os manifestantes, provocando distúrbios, e um jornalista foi agredido e detido.
Que fez a Inspecção-Geral da Administração Interna às denúncias recebidas?
Agora já existe quem dentro da corporação admita a existência de agentes provocando arruaças.
A confirmação foi feita por um polícia de choque em declarações ao jornal i:
Deixou, pois, de ser apenas "aparente [a] existência de polícias agindo simultaneamente como manifestantes e como agentes".
Na realidade, a violência não chegou agora às manifestações. Na de 24 de Novembro já ouve um jornalista agredido e detido. Se bem que freelancer.
A grande diferença é que José Sena Goulão teve o apoio da estrutura onde trabalha e Mariana de Melo Moreira estava ao serviço de uma agência internacional que tratou de disseminar a informação com a ajuda da foto da Reuters.
O cidadão alemão procurado pela Interpol e a aparente existência de polícias agindo simultaneamente como manifestantes e como agentes foram bastante exploradas por blogues, mas na comunicação social serviu-se a versão oficial.
Decididamente, a PSP tem pouca percepção acerca do que é a essência do trabalho jornalístico. Em Dezembro, um porta-voz da instituição enviou um mail a redacções pedindo aos jornalistas para ajudarem a condicionar magistrados.
Desta vez é um comunicado onde se apela aos jornalistas para se colocarem "sempre do lado da barreira policial que os separa dos manifestantes em geral". O pretexto é a agressão aos repórteres-fotográficos José Sena Goulã, da Lusa, e Patrícia Melo Moreira, da France Press, mas também podia ser a detenção do freelancer Eduardo Martis na greve de Novembro, quando fotografava as escadarias do parlamento.
Argumenta ainda a Polícia que os jornalistas devem andar identificados - leia-se trazer a identificação em lugar visível - o que parecendo razoável a alguns, em certas circunstâncias, acaba por, na prática, constituir mais uma desculpabilização da carga da PSP e para, em muitos casos, dificultar o trabalho jornalístico. Até porque Eduardo Martins e Sena Goulão se identificaram e foram ignorados.
Mesmo que o corpo de intervenção tenha reagido ao arremesso de chávenas e cadeiras a agentes seus, não se percebe a aparente desproprocionalidade de meios. A PSP terá distribuido bastonadas mesmo em quem estava no passeio a tirar umas fotografias. Ou isso ou Patrícia Melo tinha acabado de se levantar do seu lugar na esplanada da Brasileira e ao derrubar o copo de água acabou confundida com um manifestante.
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