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Depois na noite, num bloco informativo, teve a mesma RTP3 o director do Observador - uma espécie de circular noticiosa paga por rapaziada do Compromisso Portugal e por amigos de Durão Barroso - a comentar a actualidade por longos minutos.
Paulo Dentinho e João Paulo Baltazar nos canais informativos públicos são, à partida, muito boas notícias.
Um tipo esforça-se, mas os jornais permanecem no limiar do ilegível.
Numa das revistas do Correio da Manhã, folheada por acaso enquanto se esperava por um frango, leio Cintra Torres, agora em versão tablóide de promotor das ideias mais populistas e conservadoras.
Com as europeias quase a chegar, o publicista televisivo aproveita para atacar a lei da cobertura jornalística eleitoral. Cito Cintra de cor: "a última que resta dos anos 1970."
Cintra Torres, que se dedica à crítica televisiva, terá um de dois problemas. Ou é ignorante, e não conhece legislação essencial sobre a área que cobre profisisonalmente, ou mente.
Como já aqui foi dito, a lei é de 2001 e não dos terríveis tempos do PREC.
(Fonte: em dn.pt, Paulo Spranger - Global Imagens)
O PCP chamou-lhe "frete", Vasco Pulido Valente "um puro «tempo de antena»". Independentemente das acusações, a condução do processo de lançamento d'O País Pergunta prova a completa desadequação de Paulo Ferreira para o cargo de director de informação do canal público de televisão.
Primeiro, o programa não podia ter sido emitido em cima das autárquicas ignorando todos os outros partidos, como o director de informação do canal defendeu.
Segundo, nada justifica que este modelo do "Eleitor pergunta que o entrevistado responde" fique reservado para o primeiro-ministro e para António José Seguro, como se informar consistisse em, ainda mais que em afunilar as escolhas dos eleitores, em dar-lhes só as opções tidas como legítimas pelos cultores dos sacrossantos critérios editoriais.
Os canais de televisão têm obrigações de serviço público e de pluralismo e, mesmo quando instrumentalizada por sucessivos governantes, a RTP por maioria de razão.
No meio disto, há sempre uns grandes repórteres disponíveis para recomendar a coisa como "serviço público". Só que nada se pode fazer quanto à irreprimível vontade de certas figuras para se auto-ridicularizarem.
Com a opinião pública terraplanada pelo boicote das estações televisivas, pelos oficiais do espectáculo mediático, pelos jornais que dizem que a lei diz o que não diz, com o tiro de partida dado por Passos Coelho, a nas últimas semanas tão pedida alteração da lei da cobertura jornalística eleitoral conta, desde ontem, com o alto patrocínio do inadjectivável Cavaco.
Mas, afinal, o que diz a lei?
No Artigo 49º - Comunicação Social – alínea 1 refere que “[o]s órgãos de comunicação social que façam a cobertura da campanha eleitoral devem dar um tratamento jornalístico não discriminatório às diversas candidaturas”
Suscita dúvidas? A mim não suscitou. Como a lei é de 2001 e já foi aplicada nas eleições locais de 2005 e de 2009, em princípio não deveria implicar divergências interpretativas. Mas um grupo poderoso de jornalistas resolveu opor-se a esta lei que garante o pluralismo.
Directores de informação alegam terem surgido interpretações "posições mais restritivas" e que “não é humana e tecnicamente possível” dar o mesmo destaque a todas as candidaturas.
Mas que disse realmente e desta vez o presidente da CNE sobre o artigo em causa?
Que interesses servem estes jornalistas? O da informação não é de certeza. E quer Cavaco, quer Passos Coelho, com as responsabilidades que lhes advêm dos cargos Executivos que ocupam, já colheram a, em nada democrática, vontade de alteração da lei da cobertura eleitoral que directores dos canais televisivos e de algumas rádios semearam.
Paulo Ferreira disse ao jornal i que "deve caber «ao jornalismo o que é do jornalismo e à política o que é da política»". O director de informação da RTP pretende justifica e arrumar a realização de uma entrevista a Pedro Passos Coelho em vésperas de eleições autárquicas e a exclusão dos restantes dirigentes partidários.
Será que acha mesmo que a sua posição é defensável e compatível com o pluralismo associado ao direito à informação?
Os critérios jornalísticos e editoriais têm as costas largas e sofrem demasiados tratos de gato sapato nas mãos de quem os saca dos coldre para justificar decisões duvidosas.
O histórico da RTP e do serviço público de televisão português mostrou durante mais de 40 anos como se podia juntar qualidade e popularidade.
O comentário próximo do Governo anda para aí numa labuta pegada tentando mostrar que tudo que se disse sobre a privatização da TAP não passou de má-língua de gente ainda pior intencionada.
É um truque tão bom como qualquer outro. Mas as privatizações da lucrativa ANA - uma inovação nacional - e de quase 50 por cento da RTP também estão previstas e eventualmente melhor encaminhadas.
A ver a que argumentário recorrerão entretanto os fiéis do Executivo.
É o que se pode chamar à hipótese de entregar parte da RTP à Cofina com a responsabilidade de prestar serviço público.
Nada na cultura ou na vocação directiva e jornalística da casa recomenda o grupo de Paulo Fernandes para tal tarefa.
Rio Bravo e A Desaparecida foram transmitidos este domingo pela RTP-Memória. Faltou Johnny Guitar para fechar a tríade mais gloriosa do Western.
Se demasiadas vezes a emissão do canal soa a algo entalado entre o cabotino e o desfasamento amador da produção (o que se corrige), filmes de Howard Hawks e de John Ford só se podem ver na estação pública.
Foi no Memória também que, noutro domingo à tarde, houve oportunidade de ver A Severa, o primeiro fonofilme (assim se lhe chamou) português.
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