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(foto: http://www.tvi.iol.pt)
António Costa nunca deixou de andar por aí. E volta não volta há quem lhe ladrilhe o caminho para o poder.
Com o aproximar das mudanças de Governo é sempre assim. Sócrates e Passos Coelho fizeram rutilar os olhinhos de muito director e comentador de jornal.
E depois, muita gente arrependeu-se amargamente de lhes ter dado confiança. A uns e a outros.
Nada de novo, bem se pode esperar sentado pelo actos de contrição do jornalismo.
Portugal está em fim de regime. Costa faz parte da tralha que o constitui. E de corpo inteiro.
Independentemente da opinião que se tenha sobre José Sócrates, se se optar por manter um registo educado torna-se complicado catalogar as declarações de Cavaco a propósito do ex-primeiro-ministro.
Cada vez que se manifesta, o Presidente da República, agora transformado em comentador político, mostra a falta de estofo para o cargo que ocupa. Dispende energias em rodriguinhos mesquinhos, pequeninas vinganças, ressabiamentos pessoais.
Noutro país, a inventona das escutas teria sido mais do que suficiente para provocar uma hecatombe institucional. Em sítios como a Grã-Bretanha ou os Estados Unidos - sempre tão apreciados pelos correligionários partidários do chefe de Estado - Cavaco teria sido forçado a demitir-se.
Em Portugal não. Cavaco passou entre as gotas da chuva e os jornalistas que denunciaram o assessor presidencial envolvido no episódio acabaram castigados pela Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas. Meses depois, Cavaco recandidatava-se a um segundo mandato em Belém. Desde então não parou de surpreender os seus próprios eleitores. Muitos ainda tentam justificar o voto com a falta de qualidade dos outros candidatos. Mas é, no mínimo, duvidoso que estes se metessem nas alhadas e faltas de sentido de Estado em que Cavaco se tem metido.
À petição pedindo a sua demissão também não têm faltado os detractores. Focam-se na impossibilidade de assim provocar a queda do Presidente da República e no alegado radicalismo desse modo de combate. Como se o objectivo da maioria dos que fizeram a petição crescer até aos mais de 35 mil signatários em poucas dezenas de horas não fosse antes alertar Cavaco para as inconsistências e pobreza da sua acção. O Público até desencantou um constitucionalista, Tiago Duarte, capaz de explicar aos leitores que o mecanismo é abusivo e que que "há outras maneiras de os cidadãos demonstrarem a sua insatisfação, «nomeadamente nas urnas»". Haverá alguém que explique ao jurista que a Constituição impede que Cavaco se recandidate a um terceiro mandato seguido?
Num qualquer canal televisivo Paulo Portas mostrava espanto com as declarações de José Sócrates defendendo que pagar a "dívida é uma ideia de criança".
Apanhado numa reunião da NATO, o ministro dos Negócios Estrangeiros tem como pano de fundo das declarações uma série de imagens de carros de combate e outro equipamento militar. Uma recolha de depoimento a merecer ser lida por camadas. Uma primeira leitura olhando para aquilo que o governante diz e outra com o olho no que fez numa outra passagem pelo Executivo.
Sendo Portas responsável pelo processo da compra de submarinos, e de outros meios bélicos de contrapartidos mal-paradas, talvez lhe fique mal falar do modo como outros gerem a dívida.
Nota: E ainda por cima Sócrates tem razão, pese embora ter contribuído bastante para um aumento indesejável da coisa. Mas, note-se, entretanto, que o PCP e o BE foram os primeiros a dizer que se tinha de renegociar a dívida, mas entretanto só os monomaníacos ainda não repararam na urgência da coisa.
Cavaco, primeiro-ministro, legou a Guterres um país sem indústria produtiva, sem pescas e sem agricultura, sem parte significativa de transferências devidas da segurança social e com milhares de funcionários de Estado a recibo verde. Legou também o modelo das parcerias público-privadas, que o engenheiro tratou de multiplicar, não pondo fim ao processo de desindustrialização nem de ruína do sector primário. Seguiu com a Expo, que transformou um parque industrial envelhecido num aglomerado suburbano mas caríssimo e à beira-rio. Construiu estádios de futebol.
Quando Guterres se lembrou de taxar as mais-valias bolsistas, os jornais trataram de lhe desfazer o estado de graça. Taxar pelo mesmo imposto pequenos utilitários e jipes, retirados da classificação de viaturas de trabalho, foi na mesma altura considerado um escândalo pelo mercado automóvel.
Vieram Barroso, Portas e Ferreira Leite, sucedidos por Santana, Portas e Bagão Félix e por Sócrates e Teixeira dos Santos. Nem se apostou na Indústria, nem na Agricultura e Pescas, nem no fim das ruinosas parecerias público-privadas. Já eram os tempos do euro, da moeda. Atropelado pela auteridade e por cortes o país lá ia convergindo para o cumprimento do défice, os portugueses para a pobreza, pelo menos os do costume.
Entretanto O BCP e o BPN cresciam. Ocupavam mercado financeiro com figuras de proa do laranjistão à frente. Depois foi o descalabro. Com sortes diferentes, Oliveira e Costa e Dias Loureiro são apenas duas das figuras envolvidas na trapalhada. Suspeitas de crime, constituição de arguidos, nacionalizações. Os lucros privados dos ex-ministros, e outros, resultando na socialização dos prejuízos. O défice trepando brutalmente para evitar "riscos de contágio". O PS voltando a pedir ao FMI para aterrar na Portela.
Agora, sabe-se que as contas da Madeira, secularmente governada pelo PSD local, eram tudo menos fiáveis. Com a tróica bem instalada e com os seus comanditados querendo mostrar serviço, o défice de 2008, 2009 e 2010 terá mais uma vez de ser revisto.
Os comentadores mais sonoros não têm deixado de unir o PS inteiro na responsabilidade da situação que o país atravessa. Afinal, os congressos do socratismo foram marcados pelas vitórias monolíticas do primeiro-ministro. Mas já era tempo de lá juntarem o PSD, que apesar da intervenção dos bancos e da Madeira parece acabar sempre por fugir entre as gotas da chuva. Vantagens de se ser um saco de gatos.
Num dos casos, dizem que era gente de outro chefe, eles que se amanhem que o PSD e a sua cultura nada têm a ver com isso. No outro é uma pandilha que só vai a votos sob a égide do PSD, mas aquilo até é outra coisa, outro partido, como o comprova o M de Madeira, acrescentado à frente do nome.
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