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Por mais que os josés gomes ferreiras, os cavacos, os manuéis clementes e os van zellers espumem, é positivo e gerador de esperança o falhanço da convergência do PS com um governo em estado de desorientação.
Tal como são positivos os sinais saídos da reunião entre o PCP e o BE.
Cavaco quer a salvação dos credores (e já agora do seu partido), mas chama a isso "salvação nacional".
Quando forem notados os resultados apresentados no boletim económico de Verão do Banco de Portugal (pdf) ficará mais clara a actuação do Governo que ainda aí está.
Em larga medida, explicam o ímpeto crescente da chantagem para manter o Executivo PSD/CDS-PP. Há (aqui e aqui, por exemplo) quem não queira perder os rendimentos.
Deixar que os resultados tornem claro o valor das políticas da coligação, da tróica e da União Europeia pode contribuir para a pasokização do PSD. Eleições a realizar ainda este ano, preferencialmente entre Setembro e Outubro seriam talvez clarificadoras.
Em contrapartida, a pasokização pode atingir o PS caso este partido assuma um acordo - a ver o que sai da já marcada reunião da Comissão Política Nacional onde têm assento figuras críticas do consenso para a "Salvação Nacional" tão desejado pelo parcialíssimo Cavaco - e admita ir às eleições no prazo fixado por Belém, 14 de Junho de 2014.
Como já muita gente disse, Gaspar sai reconhecendo a derrota das suas políticas e perante a iminência do segundo resgate. Portas tentou fazer o mesmo, pondo corpo e reputação fora do navio cercado pelas inúmeras sereias que pedem que o acorrentem mais uma vez a políticas inviáveis e inevitáveis.
E, depois, os principais defensores da estabilidade governamental (PSD, CDS-PP, Cavaco), sempre prontos a chamar irresponsáveis aos que pedem eleições antecipadas, não se preocuparam nada em lançar o país numa sucessão de demissões (Gaspar, Portas), reuniões, adiamentos, escalada de
juros e pressão dos mercados.
Lembra a história do parricida que pede ao juiz para se condoer da sua sorte de pobre órfão.
Devia dizer qualquer sobre a pressão que comentadores, jornais e patrões (a que entretanto se juntou a UGT) têm feito desde que Paulo Portas se demitiu para impedir a queda do Governo. Em tempos, Judite de Sousa foi surpreendida com o desfile de banqueiros que se ofereceram para que ela os entrevistasse. Só percebeu depois que se tratava de uma campanha para pressionar o derrube Sócrates. De uma ponta à outra, comentadores e jornais falam de "Salvação Nacional", mas sem aspas. Não é preciso ser particularmente desconfiado, nem muito inteligente para não o perceber. Mas é o que temos na comunicação social. Alinhamento e mercado. A informação risca quase nada. A dissidência e a divergência de pontos de vista pagam-se caras.
A expressão "Salvação Nacional" é usada como se o termo fosse neutro e não uma invenção para convencer os eleitores que o plano da tróica, do Executivo e de Cavaco tem virtudes. Como se realmente fosse a Salvação Nacional aquilo que perseguem PSD, CDS-PP e PS, supervisionados por Belém e visitados pela ministra dos SWAPS, Poiares Maduro e Carlos Moedas. Como se a Salvação Nacional passasse por amarrar o país durante mais de uma década aos ditames da tróica e dos modelos neo-liberais, esvaziando o valor de qualquer eleição futura e impedindo os eleitores de votarem em programas alternativos. Como se a Salvação Nacional passasse por dar dinheiro aos bancos (aqui e aqui, por exemplo) e aos credores e não em assegurar a vida digna dos portugueses.
Não tenho a mínima dúvida de que o Executivo deveria cair. Nos termos em que está a dívida é impagável e não é com austeridade, nem com desemprego e recessão que alguma vez teremos dinheiro para a pagar. Nem todo o IRS e IRC cobrados chegam para isso. Quem diz o contrário mente.
O corte de 4,7 mil milhões de euros (tirado do chapéu por Vítor Gaspar) caso ainda não se tenha percebido, é o fim de qualquer veleidade de estado social digno de um país civilizado. É o fim dos serviços públicos de qualidade. Muitos dos costume, que se queixam dos custos dos serviços públicos ainda se vão queixar mais quando deixarem de ter acesso a eles - que é o plano que está em cima da mesa.
O ideal é que não haja acordo. Que o PS salte fora do comboio e assuma o que muitos dos seus têm sugerido. E que saiba apontar à inversão do rumo que aqui nos trouxe. Infelizmente, o comportamento do partido de António José Seguro não é de molde a sossegar. O mesmo PS que aceitou dialogar com os partidos da coligação governamental depois de andar durante meses a exigir a sua demissão, acusa BE e PCP de andarem em "jogos partidários".
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