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Ouvido acerca da fuga de Pedro Dias, o polícia vinca a repulsa pelo termo avistamentos. E corrige para contactos visuais.
Entrou-lhes na alma aquele linguajar bizarro vagamente semelhante ao português que usam quando são ouvidos pela comunicação social.
Não há reunião internacional, manifestação, visita de alta individualidade que não conte com os anúncios aterrados do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo ou de qualquer gabinete da PSP.
Torna-se difícil manter a confiança nestas fontes quando, anúncio após anúncio, declaração após declaração, todo o fogo-de-artifício previsto com pompa e circunstância redunda numa pífia fumaça.
Segundo o jornal i, 18 por cento da frota automóvel da PS estará avariada.
Falar de fora é fácil, mas nesses casos não seria viável a canibalização de peças? De certeza que no meio de tantos veículos seria possível encontrar calços de travão e lâmpadas em boas condições trocando-as e diminuindo o número de viaturas inoperacionais. A nível dos comandos imagina-se que não será excessivamente difícil fazer essa gestão do parque automóvel.
A demissão da direcção nacional da PSP peca por tardia. Já devia ter ocorrido na sequência da última greve geral.
Na altura, lançou uma cortina de fumo para a comunicação social a propósito do alegado envolvimento de agentes inflitrados nos focos de tensão gerados e também do recurso à violência policial.
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Embora a tutela o negue - a entrevista à RTP onde Guedes da Silva falava do desconforto da corporação com as medidas de austeridade - é que terá sido demais.
O Público refere a existência de contactos de meses com os sindicatos da PSP para encontrar substitutos. Acredita-se, mas confessa-se que seria bom ter isso confirmado pelos próprios.
A expressão pública da PSP parece ter embarcado num registo a meio caminho entre o amadorismo e a guarda pretoriana.
Depois de uma série de contradições em relação às intervenções da polícia durante a última greve geral, e da publicação de mensagens pueris numa rede social, vem agora apelar à cooperação dos jornalistas para pressionarem magistrados.
Tanto tiro amigo em quem tem de proteger a lei, transforma defeito em feitio. Pela memória que existe sobre os comportamentos da tutela, Miguel Macedo nada deverá fazer. Mas devia.
Felizmente, há jornalistas dispostos a curto-circuitar o processo. Até mesmo, como é o caso, correndo o risco de criar atritos num sector preferencial da sua cobertura.
O pior é saber-se que, muitas vezes, este tipo de relação é alimentada pelos próprios jornalistas, como mostrou bem recentemente a história estapafúrdia de Joe, o Estripador de Lisboa.
A junção de polícias até pode ser um modelo alternativo válido - cheira-me a mero economicismo mas neste caso dou de barato que não tenha razão. Não estou é a ver que as rivalidades entre as corporações o vá permitir sem consequências graves. E basta almoçar com um representante subalterno de qualquer uma delas - da PJ à GNR, passando pela PSP - para perceber que a questão é orgânica.
Quebrar o espírito de corpo de umas muito largas dezenas de milhares de militares, guardas e inspectores não se compara a fazê-lo com civis. Conseguir fazê-lo no espaço de menos de uma geração parece-me ao alcance de muito poucas pessoas ou... vá lá, de nenhuma.
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