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Depois na noite, num bloco informativo, teve a mesma RTP3 o director do Observador - uma espécie de circular noticiosa paga por rapaziada do Compromisso Portugal e por amigos de Durão Barroso - a comentar a actualidade por longos minutos.
"Sinergia" é um palavrão da novilíngua, idioma que um historiador recentemente me garantia ser uma das mais perspicazes caracterizações do regime totalitário soviético esquecendo-se que convive com ela diariamente no sistema em que vivemos.
"Colaboradores", "reestruturações", "ajustamentos", "ajuda externa" também fazem parte do cardápio, mas não falta nas redacções quem se atire a elas como gato a bofes e as utilize como se fossem tão despidas de intenção como o seu sentido semântico aparenta.
Estranho, quando a maior parte dos jornalistas não fez engenharia, como eu, mas sim ciências da comunicação e jornalismo, em faculdades onde as semióticas, deleuzes, merleaus-pontis, essas coisadas todas se declinam na ponta da língua. Deve ser do convívio com o pessoal das publicidades e das relações públicas.
As tutelas de serviço à gestão das televisão e rádio públicas, de que Relvas, numa genealogia do poder nas estações do serviço público, constitui apenas mais um elo manipulativamente empenhado, prosseguem empenhadas em pôr alguns a fazer quase tudo. Vale a pena ler, ontem, Oscar Mascarenhas e J.-M. Nobre Correia que falaram sobre este mesmo assunto.
Gestores e tutelas políticas têm assassinado a informação. Mas a coisa fia mais fina e chega a todo o lado. Pode dizer-se que outros, sendo meios privados, farão o que quiserem, mas o jornalismo não é um enlatado qualquer e há responsabilidades para com quem dá o dinheiro a ganhar às empresas.
Nos jornais, rádios e relevisões trabalha gente que tem direito a ser gerida por quem contribua para a manutenção das vendas ou o seu crescimento sustentado. Infelizmente, o que sobra são mercenários que em nada contribuem para a produção daquilo que os leitores procuram, gestores que todos os dias aprofundam as maneiras de pôr o trabalho dos outros em risco.
Quando o grupo que detém o Dinheiro Vivo replica informação desse meio nas páginas do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias, pode estar a poupar em pessoal, mas também sabota os seus próprios produtos e presta um mau serviços à informação.
Nenhum leitor gosta de perder tempo na net à procura de outras notícias sobre um determinado assunto que lhe interessa, para encontrar o mesmo e exacto artigo copiado para várias plataformas dos órgãos de comunicação do grupo. Cedo deixará de as visitar. No digital procura-se variedade e não o copia e cola.
Já o Público despediu muita gente experiente no final do ano passado. O jornal tem de dar lucro até 2015 e afirmou uma aposta no digital. Pelo caminho reproduz na versão papel muitas notícias que li antes na versão online. Acham mesmo que as restantes notícias do papel serão suficientes para a malta continuar a comprar-lhes o jornal em banca? Eu cá não me fiava.
Rio Bravo e A Desaparecida foram transmitidos este domingo pela RTP-Memória. Faltou Johnny Guitar para fechar a tríade mais gloriosa do Western.
Se demasiadas vezes a emissão do canal soa a algo entalado entre o cabotino e o desfasamento amador da produção (o que se corrige), filmes de Howard Hawks e de John Ford só se podem ver na estação pública.
Foi no Memória também que, noutro domingo à tarde, houve oportunidade de ver A Severa, o primeiro fonofilme (assim se lhe chamou) português.
(Foto: blogue do movimento Direito Para Quem?)
A RTP-Memória exibiu, já esta madrugada, um Falatório de 1997, programa emitido originalmente em directo, onde Clara Ferreira Alves entrevistava/conversava com José Saramago, Sebastião Salgado e Chico Buarque, a propósito de Terra, trabalho conjunto sobre o Movimento dos Sem Terra na sequência da chacina do Eldorado dos Carajás. Tão serviço público na altura como o é agora.
Resguardando o chefe, Mota Soares recusou comentar o que o "consultor" António Borges disse sobre a privatização da RTP.
Claro que o ministro da Solidariedade não fala sem ordem do chefe (e não é exactamente certo que as declarações saiam do plano ensaiado facilitando recuos, pese embora quem aponte desconforto dos populares com Miguel Relvas).
Na Solidariedade ou noutra qualquer pasta, os ministros do CDS-PP fazem o que Portas quer. Os cortes sociais ou as declarações sobre a RTP trazem a marca do silencioso ministro dos Negócios Estrangeiros. Não dá ponto sem nó.
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