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Marya Skylakou não aderiu à greve contra o fecho da ERT, estação pública de rádio e televisão grega, lê-se hoje no Público:
"Centenas de milhares de pessoas perderam o emprego, por que é que havia de protestar por causa da ERT? [...] O funcionário mais baixo de lá ganha num dia o que eu ganho numa semana".
O discurso de Maria Skilakou, "funcionária num café" grego, tem um único problema. Ela só tem a ideia de que alguns funcionários da ERT ganham num dia o que ela ganha numa semana (obviamente, apenas pivôs e estrelas) por existir quem dê notícias.
Sem informação e canais como o ERT, nunca saberia que centenas de milhares de pessoas perderam o emprego.
Maria Skilakou não aceitará que lho digam, é quase sempre assim, mas demissionismo, vistas curtas e umbiguismo cívicos fazem tanto pela actual situação como uma clique de governantes corruptos ou irresponsáveis.
A Grécia vai fechar a ERT, a estação pública de televisão. Para já é temporário, mas em países colonizados é muito mais simples governar como se quer quando se acaba com os jornalistas.
Obviamente, é um tombo no abismo. Um crime com que uma Europa desleixada convive sem vislumbre de preocupação. Um crime em que só se reparará quando for tarde demais.
(Foto: rtp.pt)
O helicóptero da novíssima CM TV sobrevoa o IC 19, fechado ao trânsito num sentido por causa de um acidente. Está um ferido caído na estrada e vai sendo já socorrido. O repórter refere-se repetidas vezes ao "sujeito". Frases do género: "está um sujeito ferido", "o sujeito está a ser socorrido na berma", "o sujeito" para aqui, "o sujeito" para ali.
Junto à secundária Seomara da Costa Primo, na Amadora, onde um confronto acabou por resultar na morte de um ex-aluno, outra repórter da estação ouve uma testemunha. Trata-a sempre por tu: "O que é que viste?", "O que é que fizeste?" A testemunha tem o filho bebé ao colo, perfeitamente identificável.
É o que se pode chamar à hipótese de entregar parte da RTP à Cofina com a responsabilidade de prestar serviço público.
Nada na cultura ou na vocação directiva e jornalística da casa recomenda o grupo de Paulo Fernandes para tal tarefa.
(Foto: blogue A Saúde da Alma)
Espantosas as declarações de José da Cruz Policarpo condenando as manifestações contra o Governo e a Tróica.
Num tempo em que a cidade se enche de novos pobres e de novos nus, o cardeal patriarca encontra nas manifestações que se têm sucedido o exemplo da corrosão da "harmonia democrática". Ao falar em Fátima, antes de se iniciarem as peregrinações do 13 de Outubro, o dia do milagre do Sol, o cardeal patriarca de Lisboa envergou as vestes do príncipe, de alguém cujo reino pertence a este mundo.
Não será o único motivo de preocupação da Igreja, mas, há dias, Marques Mendes defendeu que o tempo de emissão televisivo das confissões religiosas pode e deve ser mantido. Ontem, José Policarpo juntou na mesma conferência de imprensa a condenação das manifestações ao desejo de cumprimento da Concordata. Os mais cínicos poderão achar que a Igreja Católica receia ver transformada em cordeiro sacrificial o tempo de emissão que o Estado desde sempre lhe concedeu nos canais públicos.
O facto de se perguntar a um conselheiro do Governo se acha que algo pode e deve ser mantido, revela ao menos o receio da resposta negativa. os mais cínicos poderão questionar daqui a pouquissímo tempo: a presença na televisão (e a isenção de pagamento de IMI) valeu mesmo os 30 dinheiros?
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