Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Estava convencido de que estes já tinham posto de parte a conversa d'Os miseráveis que paguem a crise.
Dois anos depois de terem saído do Governo continuam sem perceber onde estão as prioridades sociais e das coisas a fiscalizar.
E ainda recuperam o modelo sonso-suicida usado por Passos Coelho em Pedrógão Grande: o de que foi alguém que lhes falou no assunto.
Alguém ironizava recentemente que os "sem-abrigoS" são os "sem-abrigo" ricos.
Têm tanto que se dão ao luxo não da falta de um abrigo, mas dos vários abrigos em falta que esse plural mal formado pressupõe.
Subir Lall falhou sem explicações a reunião que tinha marcada com o Conselho de Concertação Social (CCS). No seu lugar mandou uns senhores que ninguém sabia quem eram, mas que ouviram e tomaram nota.
Da próxima, o chefe de missão do Fundo Monetário Internacional corre o risco de que - ao menos uma das centrais sindicais - mande um dos seus administrativos à reunião. Lall bem se pode justificar com uma falha de comunicação. Quem acredita que tanta gente, e de interesses tão divergentes, tenha ido ao engano a uma reunião do CCS que afinal era outra coisa?
Todavia, nem tudo foi tempo perdido em mais uma actuação do FMI em Portugal. Enquanto por aí andava, Subir Lall aproveitou para deixar recados acerca da política económica e social do governo. Com um sentido de oportunidade curioso, antecipava o tom e conteúdo das declarações de Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças alemão. E vincava a vontade sancionatória da comissão bruxelense.
(Foto: Bola.pt)
Sobre o Governo de Santana Lopes, escreveu-se bastamente.
Sobre a prévia tresloucada passagem do antigo primeiro-ministro pela autarquia lisboeta e que até fez cair António Guterres, nem por isso.
Há dias assinalaram-se dez anos sobre o fecho da Feira Popular, uma daquelas decisões inconsequentes, tomadas em cima do joelho por Santana Lopes, com o apetecível espaço imobiliário por lá deixado ao abandono, à ruína.
Deixou um túnel no marquês (cuja lógica viária e para a sustentabilidade de uma política de transportes é mais que duvidosa), um jardim no Arco do Cego (com um pavilhão arruinado e a servir de parque de estacionamento).
Que a Fundação "O Século" tenha perdido a Feira Popular enquanto fonte de rendimentos e tenha de inventar novos negócios para viabilizar projectos sociais é apenas uma das consequências das políticas de Santana Lopes, actos que destroem a longa distância e que muito depois de cometidos continuam a ter consequências.
A desculpa agora é a de que não há dinheiro e os últimos anos terão aumentado a quantidade de contratos a recibo verde.
O problema é que os acertos em Portugal são sempre para baixo e nunca para cima, excepto no que toca a rendas público-privadas e nomeações coloridas.
Não está mal, sendo o ministro do CDS-PP, partido campeão dos direitos das famílias. E depois há quem aplauda. Os que nada têm ficam demasiadas vezes felizes por ver descer os que ainda têm qualquer coisinha.
Diz a igreja que de nada serve a abstinência da carne que no dia de hoje amplamente se pratica se, em alternativa, vierem para a mesa travessas e travessas de peixe, marisco, delicassies.
Talvez por isso mesmo, num assomo de incentivo ao rigor e ortodoxia católica, o Conselho de Ministros e um dos ministros mais cristãos do Executivo, Pedro Mota Soares, nos tenham surpreendido ao anunciar pela calada e para o fim dos tempos o momento em que cada um dos nós se poderá reformar.
"Maldita seja a terra por tua causa. E dela só arrancarás alimento à custa de penoso trabalho, todos os dias da tua vida. Produzir-te-á espinhos e abrolhos, e comerás a erva dos campos. comerás o pão com o suor do teu rosto", disse ao homem o Deus bruto e vingativo do Velho Testamento.
Haveria Mota Soares de se comover? Haveria o Conselho de Ministros de hesitar? O diktat da tróica é apenas uma boa desculpa para alguns políticos fazerem o que sempre defenderam. Do mesmo Génesis excluem qualquer rersquício de boa nova proto-evangélica. Preferem dirigir ao homem a frase que Deus dirigiu à serpente: "Rastejarás sobre o teu ventre, alimentar-te-ás de terra todos os dias da tua vida".
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.