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No pico da luta dos taxistas com a Uber, João Matos Fernandes, o ministro do Ambiente, disse que a Uber não é uma operadora de transportes.
É caso para lhe perguntar então o que é que a Uber está sendo se não uma operadora de transportes?
Pouco depois, Vieira da Silva, ministro da Solidariedade, recusou pôr robôs a pagar segurança social pelos trabalhos que destroem, uma ideia que ouviu da boca do Reitor da Universidade de Coimbra:
Abrem-lhe caminhos para continuar a manter um sistema público e universal de segurança social e o ministro recusa sequer considerar a hipótese, que a robotização do emprego, disse, faz parte do processo de modernização competitiva das empresas. Vieira da silva chega ao ponto de se preocupar com eventuais gastos da empresa com a fiscalidade, como se não poupassem o suficiente na eliminação de postos de trabalho,
Não se vai muito longe com este tipo de raciocínio tão amigo da desregulamentação e da supressão dos humanos.
Mota Soares ao estar no governo com os colegas de partido Assunção Cristas e Paulo Portas
Cortou o abono de família
Reduziu o subsídio de desemprego
A indemnização por despedimento
Impôs dias de trabalho gratuitos tirados das férias e dos feriados
E mais cinco horas semanais gratuitas no Estado
Eliminou o descanso compensatório por trabalho suplementar
Aprovou os cortes nas pensões nominais
Mota Soares ao estar no governo com os colegas de partido Assunção Cristas e Paulo Portas
Não hesitou em cortar pensões
Aprovou orçamentos inconstitucionais pela sua crueldade contra os mais idosos.
Em quatro anos no governo com os colegas de partido Assunção Cristas e Paulo Portas
Mota Soares só aumentou
Pensões sociais e rurais
E as que tinham curtas carreiras contributivas (até 15 anos no regime geral, até 18 anos na CGA)
Deu-lhes entre 12,01 e 15,14 euros
Mas esqueceu-se dos que contribuíram mais de 15 anos no regime geral e que têm pensões abaixo dos 275 euros
Nesses quatro anos que Mota Soares passou no Governo com os colegas Assunção Cristas e Paulo Portas
Pagou aqueles poucos aumentos
Tirando aos mais pobres
Cortando no Complemento Solidário para Idosos
E noutras pensões
Mota Soares queria voltar a estar no governo com os colegas de partido Assunção Cristas e Paulo Portas
E até prometia tirar mais 2400 milhões de euros às pensões até 2019
Agora, Mota Soares colega governo e de partido de Assunção Cristas e Paulo Portas
Acordou para a vez dos doentes, os novos ciganos e malandros do RSI
(Foto: m.publico.pt)
Enquanto à esquerda se prossegue sem dar indicações reais ao eleitorado de que se pode contar com ela na governação, no Partido Socialista vive-se alinhado com o habitual. Com a lógica e alianças que conduziram o país ao ponto em que está.
Ontem, apenas quatro parlamentares do PS votaram contra o pagamento em duodécimos de metade dos subsídios de férias e de Natal no sector privado. Seis abstiveram-se. Os restantes votaram ao lado da maioria que suporta o Governo, de onde veio a ideia.
A deputada Isabel Moreira tem andado muitas vezes desalinhada com o PS. Foi uma das que votou contra. Mais uma vez o grupo parlamentar do Partido Socialista não contou com o seu voto. A justificação é límpida: "O que aqui está é o abrir da porta para a eliminação dos subsídios, os quais, sendo remunerações, são direitos fundamentais."
No PS não se entende a coisa da mesma maneira. Tal como não se entendeu quando Vieira da Silva agravou o Código do Trabalho de Bagão Félix. Ou como quando, já com Passos Coelho, otou a favor de mais alterações ao mesmo diploma. No essencial, desde Bagão Félix que se tiram direitos aos trabalhadores transferindo-os para o lado mais forte da relação laboral. Sempre com os votos favoráveis do PS.
Ao contrário do que alguns defendem, nenhum partido português é imprevisível. São todos aliás de uma previsibilidade notável. Bem pode o PS apresentar no comentário publicado dezenas de pontos de vista contestando a austeridade do Governo PSD/CDS-PP. Quando se trata de votar questões ligadas às questões salariais e das relações de trabalho - assuntos matriciais num partido socialista -, o PS tem sistematicamente votado ao lado dos partidos da Direita. Mesmo quando - é o caso agora - o seu voto contrário em nada impediria a aprovação da medida.
Em recente entrevista ao Diário de Notícias, Vital Moreira considerou um equívoco aquilo que designou como "flirt" do PS com os partidos à sua esquerda. Apenas mais um ponto de vista semelhante a outros que tem manifestado. E todos bastante mais adequados ao sentido geral de actuação do PS do que os de Isabel Moreira, uma das deputada que vai dizendo coisas de esquerda aos eleitores.
(Foto: dn.pt)
Anda aí um grupinho de militantes e dirigentes populares soprando o descontentamento com a governação e com os caminhos da coligação que sustenta o Executivo.
João Almeida reclama mesmo poder o CDS-PP continuar a exibir o emblema de partido dos contribuintes.
Esta postura tem ao menos a vantagem de sempre poderem largar mão do odioso, caso o cavalo do poder se lhes apresente por outra banda - por exemplo, a do Partido Socialista. O Governo poderá então cair, mas de modo responsável que o CDS-PP não deixará o poder tombar na rua.
Mas sobre o real papel do CDS-PP na situação que o país atravessa falam mais alto apelos como os do movimento Vidas Penhoradas, gente a quem o Ministério do dirigente popular Pedro Mota Soares ameaça com a penhora de bens e rendimentos.
Em causa, a falta de pagamento das prestações a que estão obrigados e a que não conseguem fazer face se quiserem continuar a alimentar-se e a ir trabalhar.
Há instituições que dão com uma das mãos sem que a outra veja (aqui e aqui) e sem ofender e humilhar os que ajudam.
Dar de comer a quem tem fome é uma obra meritória. Isabel Jonet não está à altura dela. Não estava antes ao sugerir trabalho em troca do Rendimento Social de Inserção, de forma explícita ou implícita, não está quando desculpa a austeridade. Nem ontem quando voltou à carga na SIC-Notícias com propostas na mesma linha doutrinária.
Isabel Jonet é uma figura saturnina. Em ciclo vicioso, alimenta-se dos filhos que as suas ideias políticas criam e que difunde a partir do palanque legitimador do Banco Alimentar.
Em 1994, após uma temporada no sector financeiro, em Bruxelas, interrompeu o percurso profissional para regressar a Portugal com o marido e acompanhar os estudos dos filhos. De acordo com entrada enciclopédica, a que já ganhou direito, foi então, com mais tempo livre, que decidiu entrar como voluntária para o Banco Alimentar Contra a Fome, a cuja presidência chegou entretanto.
O acompanhamento que pôde e teve a possibilidade de dar aos próprios filhos nega-o aos filhos de outras mães. As suas concepções ideológicas empurram para o trabalho beneficiárias do rendimento social de inserção. Mães que, ao contrário de Isabel Jonet, não têm onde deixar os filhos nem meios para lhes pagar os infantários e as creches.
Um destes dias arrisca-se a deixar-se empurrar para uma candidatura a Belém, como já se leu em caixas de comentários online. É o tipo de figura, saído do fundamentalismo católico-caritativo-demagógico, que encontra fácil receptividade: cansei-me de a criticar sozinho na última redacção por onde passei. E, no entanto, quanto mais abre a boca mais seguro estou da minha razão.
Nota: Este post já estava escrito há vário meses mas perdera a oportunidade de publicação. Sabia-se que mais cedo que tarde viria a tornar-se útil. Regressa-se agora a ele ao notar pela blogosfera - aqui e aqui, por exemplo - que Isabel Jonet não larga o proselitismo.
* da 1ª Carta aos Coríntios, São Paulo. 1 Cor 13,4-6.
Em conferência de imprensa, Mota Soares fez que recuou, mas não recuou.
O truque é velho: anuncia-se que se vai cortar um braço para depois cortar só o antebraço.
(Foto: dn.pt)
Baixar o subsídio de desemprego e cortar o Rendimento Social de Inserção e o Complemento para Idosos são um corte de despesas. No fundo, são a resposta previsível à insistência do CDS-PP na necessidade de cortar nas despesas em vez de subir os impostos.
Tal como como a Taxa Social Única, será Pedro Mota Soares, antigo secretário-geral dos populares, a executar estas medidas. Medidas cuja elaboração terá de ter passado por ele. Paulo Portas não pode fazer de conta que o seu partido nada tem a ver com elas.
Se Paulo Portas fosse o génio político que se julga, teria deixado a pasta da Solidariedade para o PSD. Era previsível que se chegasse aqui. E não era preciso ouvir os comunistas e bloquistas. Bastava ler Krugman e outros prémios Nobel da economia.
(Foto: rtp.pt)
Pega como faísca em palha seca a ideia de que é virtuoso e da maior justiça forçar os beneficiários do rendimento social de inserção (RSI) a trabalhar em troca das comparticipações que recebem do Estado.
Daí a pôr os desempregados a limpar mata vai um salto. Esquecem-se de que os subsídios de desemprego são pagos com o dinheiro que os próprios empregados por conta de outrém descontam todos os meses para a segurança social.
Há motivos para que ambas as ideias sejam muito bem encaradas por uma maioria habituada ao reflexo condicionado. Até aqui, o desemprego era uma coisa que acontecia aos outros. E que acontecia a gente de outras classes sociais, uma malta que não convidava à empatia, demasiado longe de portas.
Esquece-se de que se as pessoas não trabalham é por não encontrarem uma ocupação digna e compensadora. Pouco lhes importa que um pai ou uma mãe, beneficiário do RSI, com filhos pequenos, obrigado a trabalhar tenha de encontrar quem lhe tome conta das crianças gastando toda a prestação em amas, creches e transportes. Irrelevante que boa parte dos salários não supra estas necessidades básicas.
Há escassos anos, ainda antes da crise se ter instalado de malas e bagagem no quadro mental dos portugueses, com base num estudo da Católica, Alfredo Bruto da Costa explicava, num Prós & Contras que a maior parte dos pobres portugueses eram pensionistas ou gente que trabalhava.
Afinal, não eram desocupados, como se afirma na propaganda de alguns partidos, um ponto de vista que uma ruidosa parte da opinião pública toma como verdade incosntestável, mesmo à esquerda. Um ponto de vista que manda sempre os outros trabalhar e que encontra nos nus a causa para andarem rotos.
Esta ideia é perversa. Se no Estado e em Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), como as misericórdias, há espaço para acolher o trabalho gratuito dos beneficiários do RSI, é apenas por existir trabalho para fazer. Se existe a necessidade de limpar matas, então é porque ninguém as tem limpado? Porque é que acabaram os concursos para cantoneiros?
Haverá um bom motivo para que esses lugares não estejam disponíveis para quem procura emprego? Não existe um único bom motivo do ponto de vista da gestão dos recursos humanos para encher empresas e instituições com um exército de trabalhadores contrariados e desmotivados. Não existe um único bom motivo para o fazer do ponto de vista da gestão do mercado de trabalho. Que Estado e IPSS considerem esta mão-de-obra utilizável, evidencia como, para muita gente, o ser humano se transformou numa mercadoria.
Não se entende por isso que tantos se insurjam quando Fernando Ulrich propõe receber nos bancos e nas grandes empresas desempregados, pagos pelo orçamento de Estado. Todo o discurso montado o legitima. Estas ideias têm um rosto. E têm quem com elas contemporize. Infelizmente, como já se disse noutro lado, há pessoal que só as percebe quando se tornam pornográficas. Ou no dias em que os afectam a si ou aos seus filhos e netos.
Redundam nisto. Mas quando o ministro da Solidariedade do Partido de Paulo Portas anuncia que um grupo de assaltantes perigosíssimos recebia o Rendimento Social de Inserção, esquece sempre a quantidade de vultuosos apoios do Estado que bancos como o BPN recebem e que ninguém pede para devolverem.
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