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Depois da avalanche de insultos dirigidos por Jorge Jesus a Rui Vitória na época passada, foi ontem, finalmente, possível, e apesar das queixas manifestadas com a arbitragem, ver o treinador sportinguista tratar o adversário de modo urbano e civilizado.
Também em Play-off, programa de debate futebolístico, da SIC Notícias, regressou Manuel Fernandes para substituir Inácio, o que constituirá uma assinalável obra de asseio e higiene. O ex-jogador do Futebol Clube do Porto e do Sporting tornara o programa absolutamente infrequentável.
Antes dele, com Manuel Fernandes, discutia-se futebol. Com Inácio aquilo tornou-se um palco de má educação, insultos, e sectarismo - um estilo que deve muito ao do norte futebolístico dos anos 1980 e 1990.
E o moderador bem merece esta mudança.
Pelas 18h10 de ontem, várias publicações davam como certa a contratação de Rafa, campeão europeu e jogador do SC Braga, pelo SL Benfica.
No dia anterior, várias publicações desportivas diziam que a contratação do futebolista pelo Sporting CP era uma possibilidade. Esta aquisição potencial culminaria o par de semanas de impasse que se seguiram ao primeiro anúncio da sua contratação pelo Benfica e ao contra-vapor feito, entretanto, devido a exigências do empresário do jogador.
Ontem, entre as 18h10 e as 18h30, pelo menos O Jogo, A Bola e a TVI 24 anunciaram a contratação de Rafa pelo Benfica. Às 23h30 quando por acaso voltei a zapar entre canais, Rafa voltara a estar em dúvida no plantel encarnado. Estas e outras passos-falsos deviam levar os jornalistas a ponderar melhor a credibilidade e real valia das suas fontes.
Nas vésperas do fecho do mercado de contratações futebolísticas, a que audiências interessará a notícia de que um clube rival planeia adquirir um jogador que já fora dado como certo num clube rival? Que consequências decorrem das manchetes de 180 graus, dadas no mesmo dia, pel'A Bola e pelo Record, cada uma delas garantindo o mesmo jogador em simultâneo em dois clubes diferentes?
Andar informado obriga a acompanhar as correntes noticiosas. Obriga a perceber aquilo que é publicado pelos jornais, mas também a olhar para o quando é que essa notícia foi dada.
Estas declarações de Augusto Inácio eram um bom pretexto para pôr fim à sua colaboração no Play-Off. O programa da SIC-Notícias surgiu como espaço informativo, onde o futebol era explicado por antigos profissionais. Apesar das ligações clubísticas dos comentadores, aquilo não era um formato de entretenimento com adeptos engajados.
Ninguém deixava de reconhecer erros e defeitos da própria equipa ou de elogiar as qualidades das dos outros. E, aliás, os antigos jogadores António Simões e Manuel Fernandes explicaram estes critérios a Rodolfo Reis quando o antigo capitão portista chegou ao programa para substituir António Oliveira
Com Inácio tudo mudou. O seu discurso é uma mera repetição dos jogos mentais saídos de Alvalade e elo da correia transmissora de uma estratégia comunicacional. Se Inácio está ali "para servir o Sporting" em vez de servir a informação acerca do Futebol, seria melhor que se juntasse a um programa com parceiros como Pedro Guerra ou Manuel Serrão. Há quem aprecie esses ambientes,
Augusto Inácio anunciou ter posto fim à relação contratual com o Sporting, diz ele que para impedir que o clube viesse a ser multado pela Liga de Futebol Profissional.
É pena. Seria melhor que o antigo futebolista pusesse antes fim à sua participação em programas de comentário futebolístico onde não acrescenta nada à inteligência.Trouxe uma agenda descarada que vai muito mais longe que a paixão clubística e comporta-se com um sectarismo lamentável.
Há dias, já o campeonato se encerrara há varias semanas, João Alves, o comentador da banda benfiquista, trouxe camisolas da equipa que iria treinar para oferecer aos seus companheiros de programa. Inácio perguntou logo se se vinham com oferta de jantares, piada à queixa contra o Benfica apresentada pelo Sporting por causa da oferta de vouchers aos árbitros que apitavam desafios com o clube da Luz.
Só que a camisola oferecida por Alves fazia parte do equipamento da equipa criada pelo Sindicato dos Futebolistas para manter treinados os jogadores profissionais que estejam no desemprego. Um modo de lhes manter a forma física enquanto não encontram colocação. O antigo jogador do Futebol Clube do Porto e do Sporting teve azar com a gracinha, pois a ideia é meritória e interessante. E embora a piadola tenha ricocheteado maculou à mesma a oferta do Luvas Pretas.
No ano em que participou no painel de comentário do Play-off, Inácio conseguiu dar cabo do único programa de debate futebolístico de grande audiência que tinha gente de futebol a olhar para o futebol do ponto de vista do jogo, fossem quem fossem os protagonistas em campo. E arrastou consigo, em menor medida, Rodolfo Reis, que chegara a conseguir adaptar-se aquela linha editorial distanciada do achismo e da cegueira sectária e boçal dos adeptos.
O antecessor de Augusto Inácio no painel, Manuel Fernandes, bem como António Oliveira, que foi representante do Futebol Clube do Porto, eram capazes de um distanciamento profissional que os seus sucessores se encarregaram de destruir. É pena. Espectadores e moderador merecem o tipo de programa que Play-off já foi. Para o que ali está, mais vale trocar o pouco truculento João Alves por Pedro Guerra ou outro do género.
"Não se pode dizer que o discurso de um seja melhor que o do outro", diz o jornalista referindo-se às intervenções de Rui Vitória e de Jorge Jesus ao longo do campeonato. "São diferentes", conclui.
Gostava de saber o que dirá o jornalista quando situações como esta - que certos estilos de discurso continuado ajudam a inflamar - redundarem em real violência.
Aposto que aí já não se faz de imparacial e virá dizer-nos não haver uma violência boa.
O treinador do segundo classificado da Primeira Liga foi entrevistado na televisão.
O treinador da equipa vencedora do campeonato não.
Nesta época futelolística foram recuperados métodos e estilos de comunicação de má memória usados nos anos 1980 e nos anos 1990, diz um jornalista comentador .
E continua. Diz que esses métodos foram recuperados por A e por B, e até trouxeram protagonistas C e D do clube que usava esses métodos e estilos.
Mais uma vez a ilusão de imparcialidade jornalística. Evita concretizar o que diz quando o que lhe compete enquanto jornalista é ser curto, claro e conciso. A opinião negativa que tem e justifica com dados não é ofensiva. O que ofende é misturar tudo, como se fosse tudo igual. Ao querer mostrar-se imparcial, torna-se parcial pois protege os que acusa e enlameia os que não quis meter no mesmo molho.
Em reforço deste ponto de vista, pode convocar-se uma intervenção do sportinguista e também jornalista Nicolau Santos, n'A Bola TV:
"Uma última coisa que eu gostava de dizer e que obviamente não cairá muito bem entre os meus consócios. Mas eu acho que uma pessoa tresler o que dizem os outros pode levar aos caminhos mais ínvios.
E quando o presidente do Benfica, no discurso lido na câmara, diz que o Sporting valorizou a vitória do Benfica, pode estar a dizê-lo com imensa ironia (e a ironia é sempre muito difícil de entender. Às vezes nós quando escrevemos um texto e escrevemos com ironia, há muitos leitores que não percebem que a gente está a escrever com ironia e acham que a gente está a defender […]) .
O que eu gostava de dizer é que assinalei muito positivamente o discurso do presidente do Benfica. Ao longo de toda a temporada acho que o Rui Vitória (tirando uma ou outra coisa que respondeu, mas enfim, ele foi várias vezes criticado e, portanto, também um homem não é de pau e depois houve um dia em que respondeu) esteve bem do ponto de vista discursivo."
Se os encarnados não estão agora a celebrar a conquista do pentacampeonato também têm bastante a agradecer a Jorge Jesus.
Se o Sporting não está hoje a comemorar a conquista de um campeonato nacional de futebol, pode agradecê-lo a Jorge Jesus.
À frente do Benfica, o treinador permitiu que a equipa claudicasse duas vezes, em 2012 e 2013, quando levava já a temporada bem lançada, perdendo pontos cruciais e deixando-se ultrapassar na recta final pelo Futebol Clube do Porto de Vítor Pereira. À frente do Sporting fez o mesmo, quando a equipa tinha garantido já um avanço de sete pontos sobre o perseguidor.
Decide-se esta tarde o campeão da primeira liga portuguesa de futebol. As estações televisivas fazem balanços da temporada.
No estrito terreno do comportamento dos protagonistas do jogo - sem descer ao opaco mundo dos painéis de comentadores e dirigentes, sobreocupado de lúmpen vindo de todos os quadrantes -, uma ideia transversal a muitas peças mostradas é a da existência de uma guerra de palavras entre Jorge Jesus, treinador do Sporting, e Rui Vitória, técnico do Benfica.
Ora, tal ponto de vista apenas decorre de uma tentativa de imparcialidade jornalística, que adultera radicalmente os factos.
Fosse por que motivo fosse (jogos mentais, estilo pessoal,ressentimento, o que fosse), Jesus fez tiro a Rui Vitória logo desde o arranque da época, só tardiamente deixando a insistência.
O mais das vezes, Vitória deixou-o a falar sozinho. Respondeu-lhe duas ou três vezes quando a escalada no destrato e no amesquinhento já eram difíceis de ignorar. E ainda assim, dificilmente se pode dizer que fosse ofensivo, que desconsiderasse o adversário ou o tentasse humilhar.
O que se viu quase sempre foram muitas conferências de imprensa com Vitória a responder aos jornalistas que não ia responder a acusações vindas de Alvalade ou falar de assuntos suscitados por outros.
No meio do tiro ao Vitória, escrever ou dizer que se assistiu a uma guerra entre o técnico do Benfica e Jorge Jesus é recusar fazer jornalismo em nome de uma alegada imparcialidade. Ignorar factos é tão parcial como tomar partido. Ignorar a dimensão relativa dos factos, do tom e da substância, e fazer notícias a partir disso, é ser já parcial.
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