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Ricardo Salgado é outro que não se entende muito bem quando se queixa de que portugueses preferem o subsídio de desemprego a trabalhar no Alqueva.
Paulo Morais não tem deixado de acusar o grupo Espírito Santo, que Salgado dirige, de ser um dos principais beneficiários das parcerias público privadas que arrecadarão seis a sete por cento dos recursos anuais do Orçamento de Estado.
Se é de subsídios que se fala, Salgado não prescinde do seu. Ainda por cima milionário.
Em 2012, Salgado pode ter visto o salário descer para os 548 mil euros anuais, mas que importa isso quando se sabe que nem sempre tem sido particularmente rigoroso nas contas?
... é acabar com os subsídios. Como, aliás, se disse aqui atempadamente, como a CGTP acusou e como anteontem vincava Isabel Moreira - deputada que nem sequer entrou pela esquerda no grupo parlamentar do PS.
A "razoabilidade" dos mais fracos (em casos claros, a tibieza, cumplicidade ou mesmo intencionalidade) parte a corda sempre para o mesmo lado. Aceitar o pagamento dos subsídios em duodécimos apenas vai permitir baixar mais os salários prosseguindo o desígnio do país de baixo custo terceiro-mundializado.
(Foto: m.publico.pt)
Enquanto à esquerda se prossegue sem dar indicações reais ao eleitorado de que se pode contar com ela na governação, no Partido Socialista vive-se alinhado com o habitual. Com a lógica e alianças que conduziram o país ao ponto em que está.
Ontem, apenas quatro parlamentares do PS votaram contra o pagamento em duodécimos de metade dos subsídios de férias e de Natal no sector privado. Seis abstiveram-se. Os restantes votaram ao lado da maioria que suporta o Governo, de onde veio a ideia.
A deputada Isabel Moreira tem andado muitas vezes desalinhada com o PS. Foi uma das que votou contra. Mais uma vez o grupo parlamentar do Partido Socialista não contou com o seu voto. A justificação é límpida: "O que aqui está é o abrir da porta para a eliminação dos subsídios, os quais, sendo remunerações, são direitos fundamentais."
No PS não se entende a coisa da mesma maneira. Tal como não se entendeu quando Vieira da Silva agravou o Código do Trabalho de Bagão Félix. Ou como quando, já com Passos Coelho, otou a favor de mais alterações ao mesmo diploma. No essencial, desde Bagão Félix que se tiram direitos aos trabalhadores transferindo-os para o lado mais forte da relação laboral. Sempre com os votos favoráveis do PS.
Ao contrário do que alguns defendem, nenhum partido português é imprevisível. São todos aliás de uma previsibilidade notável. Bem pode o PS apresentar no comentário publicado dezenas de pontos de vista contestando a austeridade do Governo PSD/CDS-PP. Quando se trata de votar questões ligadas às questões salariais e das relações de trabalho - assuntos matriciais num partido socialista -, o PS tem sistematicamente votado ao lado dos partidos da Direita. Mesmo quando - é o caso agora - o seu voto contrário em nada impediria a aprovação da medida.
Em recente entrevista ao Diário de Notícias, Vital Moreira considerou um equívoco aquilo que designou como "flirt" do PS com os partidos à sua esquerda. Apenas mais um ponto de vista semelhante a outros que tem manifestado. E todos bastante mais adequados ao sentido geral de actuação do PS do que os de Isabel Moreira, uma das deputada que vai dizendo coisas de esquerda aos eleitores.
Diluir os subsídios de Natal e de Férias ao longo do ano nos salários é um velho desejo da direita, há muito defendido por figuras como Bagão Félix.
Dizem que é mais justo, uma vez que o trabalhador tem direito a essas verbas que assim ficam desde logo à sua disposição. Defendem ainda que facilitam a vida das tesourarias das empresas, que deixam de necessitar de dois meses no ano em que movimentam uma massa salarial duas vezes com o dobro do tamanho habitual.
Pedro Mota Soares que se tem especializado em mostrar na prática o trabalho do partido dos contribuintes, pobres e reformados volta à carga com essa velha ideia em conselho de concertação social. E diz querer começar a devolver subsídios aos trabalhadores logo no primeiro mês de 2013.
A proposta que parceiros como a UGT se arriscam a aceitar - não tem aceitado tudo? - é uma armadilha adoçada pelo rebuçado de não ver o ordenado cair tanto em Janeiro. A medida permitirá que com o valor diluido em duodécimos fique criada a ilusão de um aumento de salário.
Em breve, será sobre essa massa que se farão cálculos e estimativas salariais e num prazo mais curto que longo, estarão os subsídios enterrados de vez e entretanto comidos pela inflação.
Acabe-se com os subsídios de Férias e de Natal, disse Peter Weiss um desses funcionarios da Comissão Europeia e da Tróica, tecnocrata, austríaco, com alma de porteiro de discoteca, uma classe sempre disposta a mostrar como a função que exerce lhe dá grande poder.
Passos Coelho - que em tempos execrara os avanços e recuos de Sócrates e que mesmo assim cortou o 13º mês quando prometera não o fazer - veio pôr água na fervura. Que não, que os subsídios regressarão em 2015. Pouco interessa que tenha dito antes que se tratava de uma medida para 2012 e 2013.
Atentai que é o mesmo Passos Coelho que tão aplaudido foi quando no último Congresso do PSD garantiu que este ano não haverá subsídios para os funcionários públicos. Aplaudiram-no delegados e aplaudem-no ainda os cidadãos. "Se Ele não fosse um malfeitor, não to entregaríamos", pensa mais uma vez a multidão, desta feita com o olho nos empregados do Estado e não num inocente colocado nas mãos do governador romano.
As cada vez mais raras sondagens vão mostrando como muitos portugueses ainda acreditam na boa-fé dos partidos que elegeram para o Governo. Não tenciono ir a votos. Escuso de jurar sobre a inteligência do eleitorado. Estão aí à vista os resultados de mais de 30 anos de eleições.
Diga o que disser, o objectivo de Coelho é acabar com subsídios. Todos. Não apenas os da Função Pública.
A ideia de diluir o seu pagamento ao longo dos meses justifica-se com a ideia de que pertencendo de direito ao cidadão este deve dispôr do dinheiro que lhe é devido na altura em que o entender. Justificam-se ainda pela simplificação das mexidas de caixa.
São argumentos sensatos, parece. Nada mais falso. Será apenas mais fácil diluí-los na contabilidade das empresas, entre compensações extra, despesas com refeições e outras verbas variáveis. Ao fim de escassos anos os subsídios terão sido varridos, devorados pela inflação e pelas actualizações salariais que se esqueceram de os contabilizar como um direito. Depois falamos.
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