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A pasta da solidariedade

por Tempos Modernos, em 24.10.12

 

 (Foto: dn.pt)

 

Baixar o subsídio de desemprego e cortar o Rendimento Social de Inserção e o Complemento para Idosos são um corte de despesas. No fundo, são a resposta previsível à insistência do CDS-PP na necessidade de cortar nas despesas em vez de subir os impostos.

 

Tal como como a Taxa Social Única, será Pedro Mota Soares, antigo secretário-geral dos populares, a executar estas medidas. Medidas cuja elaboração terá de ter passado por ele. Paulo Portas não pode fazer de conta que o seu partido nada tem a ver com elas.

 

Se Paulo Portas fosse o génio político que se julga, teria deixado a pasta da Solidariedade para o PSD. Era previsível que se chegasse aqui. E não era preciso ouvir os comunistas e bloquistas. Bastava ler Krugman e outros prémios Nobel da economia.

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publicado às 12:09

O efeito pimba

por Tempos Modernos, em 22.09.12

 

(Foto: radiocampanario.com)

 

A TSU teve o condão de despertar uma grande maioria de portugueses para a injustiça  da governação do PSD/CDS-PP e da presença da tróica. Foi quando perceberam que lhes iam aumentar os descontos para a reforma não para fazer face às dificuldade da Segurança Social, mas para transferir o dinheiro obtido para as contas dos seus patrões.

 

Acordou-se. Em todos os quadrantes ideológico. Em todos os sectores profissionais. Mais vale tarde que nunca. Só que há um problema. É que o esbulho, que outro nome se lhe pode dar?, não é de agora. E continua.

 

Já há muitos anos que os portugueses andam a transferir o seu dinheiro para o bolso dos patrões. Conheci muitos e muitos estagiários, licenciados, a quem os pais pagavam para trabalhar. Vindos de fora de Lisboa, alguns ganhavam menos que o salário mínimo, insuficiente para fazer face às despesas com transportes, alimentação e habitação, e trabalhavam às dez e doze horas diárias. Isso não impedia que chefias recebessem anualmente prémios de dezenas de milhares de euros pelo sucesso comercial do empreendimento ou que o patrão pudesse perder 50 milhões de euros em bolsa. E nem falo do meu caso.

 

Sucessivos códigos laborais (de Bagão Félix, de Vieira da Silva, de Pedro Mota Soares, CIP, CCP, CAP e UGT) aumentaram o tempo de trabalho, flexibilizaram-no, acrescentaram-lhe mais meia-hora, cortaram feriados, desvalorizaram o valor das horas extraordinárias e do trabalho suplementar, esmagaram indemnizações, desestruturaram vidas familiares e atiraram as mais valias resultantes da coisa para o bolso de patrões, que nem por isso contrataram mais gente.

 

No fundo, é o efeito pimba. O gosto está por educar e o óbvio vence. Isso explica o sucesso de Tony Carreira em contraponto com, por exemplo, Amélia Muge, uma compositora de excepção. Só quando a coisa se torna muito evidente é que a população a percebe.

 

 

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publicado às 10:37

Acorda consenso anti-austeritário

por Tempos Modernos, em 22.09.12

 

(Foto: blogue Terra Imunda)

 

Está cada vez mais articulada em termos oratórios a resposta que os portugueses dão para o seu descontentamento com a crise. Isso foi bem claro na vigília que ontem se realizou durante o Conselho de Estado.

 

A existência destas manifestações tem feito com que durante um lapso de tempo razoável se quebre o grande consenso narrativo que tem imperado nalguma classe política e entre a maioria dos comentadores televisivos. Uma forma de combater inevitabilidades, quando se anda na rua e ainda se ouve muita gente resignada com a profundidade da austeridade necessária.

 

Depois, coincidente ou não com o apelo de um sindicato da PSP à contenção da corporação antes do 15 de Setembro, nestas últimas iniciativas de protesto não se falou em cargas policiais mal explicadas. Embora tenha sido aproveitada na imprensa, onde existe quem goste sempre de acenar com os perigos de uma qualquer mano negra, a detenção de manifestantes não ofuscou o impacto dos movimentos. As imagens televisivas são mais que suficientes para destruir esse discurso.

 

No próximo sábado, dia 29, a CGTP, que não foi ouvida por Cavaco em vésperas de Conselho de Estado, tem uma manifestação marcada e corre o risco de a ver substancialmente alargada em relação ao habitual. Os que continuam a fazer o discurso anti-político, bem nutrido por muitos representantes da classe, talvez não estejam lá, mas a convergência com outras forças existirá. Há pouco espaço na imprensa, como muitas vezes acontece, para ignorar ou passar a vol d'oiseau pela iniciativa da central sindical.

 

Dia 5 de Outubro, talvez o último a celebrar-se, enquanto feriado, nos tempos mais próximos, realiza-se na Aula Magna, em Lisboa, o Congresso Democrático das Alternativas. Manda a decência editorial que tenha tanto tempo de antena televisivo como uma recente iniciativa de uma fundação ligada a um supermercado. Os organizadores não querem que a coisa seja um momento de chegada e todos os episódios contam para manter vivo o discurso contra a inevitabilidade.

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publicado às 09:42

Viver habitualmente

por Tempos Modernos, em 11.09.12

(Foto: DN.pt)

 

Quando começou a trabalhar já vigorava a isenção de pagamento de segurança social durante o primeiro ano de actividade.

 

O patrão tardava em pagar, pagava com vários meses de atraso, e para poder comprar o passe, chegou a levantar dinheiro de uma conta a prazo para não pedir dinheiro emprestado aos meus pais. Chegou até a comprar material imprescindível para os alunos à sua custa, material que tardaram vários meses em pagar-lhe.

 

Quando se dirigiu, à segurança social para se inscrever e começar a fazer os descontos, a senhora da loja do cidadão do Éden, disse-lhe que teria todos os meses de pagar uma verba fixa, de dimensão variável, cujo impacto futuro na pensão de reforma não conseguiu explicar-lhe.

Disse-lhe que uma vez que não recebia todos os meses, não poderia pagar segurança social todos os meses. Que podia sim, pagar rectroactivamente quando recebesse vários meses de salários de uma assentada.

 

Já na altura não entendia a lógica de que a taxa social de base não fosse então uma percentagem do ordenado de cada um, mas sim um valor fixo, plano, igual para toda a gente. Também não entendia a lógica de ter de se continuar a pagar segurança social quando não se estava a trabalhar, como acontece aos artistas de trabalho concomitante e cada vez a mais gente.

 

Lá lhe agradeceu a atenção, disse-lhe para passar bem e que uma vez que tinha de ter dinheiro para os transportes para ir trabalhar e para poder comer não iria inscrever-se na segurança social. Poderia ter acrescentado que o fossem prender quando fosse caso disso, mas as grandes falhas da coisa pública não dependem dos funcionários.

 

Teve sorte. Quando Manuela Ferreira Leite subiu às Finanças uma das medidas que tomou foi desviar dinheiro da Segurança Social para fazer face a outras despesas do Orçamento de Estado e contribuindo para o buraco das reformas.

 

 

Outra medida foi o lançamento de um perdão das multas a quem tivesse os pagamentos em atrasos, ela que tanto tinha criticado Guterres por iniciativa semelhante.

 

Já com outro trabalho, o devedor aproveitou a benesse. Metido numa bicha interminável onde estavam artistas e até o irmão da governante, leu metade de O Idiota, do Dostoiévski, e lá pagou as contribuições em atraso, cuja verba pusera de parte enquanto aguardava melhores dias. Que nunca vieram.

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publicado às 13:35


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