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Não se percebem especiais vantagens nas mudanças cronísticas do Diário de Notícias. Aproveita-se o momento do abandono das instalações da Avenida da Liberdade (que só por si constitui um crime cultural), sabe-se lá com que consequências para o espólio do jornal.
Parte dos novos cronistas são desconhecidos e logo pouco atractivos, outra parte é demasiado conhecida e logo nada atractiva - a quem é que ainda interessa o que António Barreto anda a repetir há décadas? E Vítor Bento, o ex-conselheiro de Cavaco, já não tem espaço próprio suficiente na televisão?
Depois, esperava-se que não cortassem as crónicas diárias, curtas, de Ferreira Fernandes, o registo em que o jornalista melhor funciona.
Na altura em que se publicou isto, iam-se os jornais enchendo dos habituais defensores dos consensos que nos trouxeram à presente tragédia económica elogiando as palavras do defesa direito de Passos Coelho e Paulo Portas em Belém.
No dia a seguir, 70 agentes políticos, económicos e sociais lançaram um manifesto defendendo a reestruturação da dívida, em manifesto contrapelo com a opinião cavaco-governamental da véspera.
Cavaco, é mais que público, manteve até ao limite do insuportável Dias Loureiro, no Conselho de Estado, e trocou-o pelo o sempre opinoso, amoral e cínico Vítor Bento. Mandou recolher Fernando Lima aos aposentos e para longe dos olhos depois de este andar com José Manuel Fernandes dando corda à inventona das escutas. E podia continuar-se.
Agora, dois assessores presidenciais atreveram-se a subscrever o manifesto dos 70. Já tiveram guia-de-marcha para fora do palácio de Belém.
Cavaco vinca bem em que alhada nos quer a todos metidos.
Que Cavaco se tenha rodeado de tais cabeças apenas escancara a dimensão da tragédia em que nos deixámos envolver.
Depois de, ontem, o Dinheiro Vivo ter entrevistado António Borges, o grupo do Diário de Notícias parece prosseguir um especial ângulo doutrinante. Hoje, foi a vez de dar grande destaque online a Vítor Bento, outro defensor do estado a que chegámos.
"Gente que conta" é uma rubrica de entrevistas partilhada entre o DN a TSF e contaram agora com quem nunca contou com os portugueses. Como Vítor Bento já se vê pouco pelos jornais devia ter algo de novo para dizer, ou então não havia mais ninguém disponível para botar faladura.
De certeza que não encontraram gente que pagasse contas e a taxa social única para colocar em lugar de honra. É sempre mais fácil ligar a um representante dos banqueiros, um pessoal que, sempre que pode, e pode sempre, se pira com as massas para qualquer sítio longe da mão do Estado.
(Foto: SIC Notícias)
Num país com uma opinião pública mais informada e exigente, Vítor Bento não teria condições para ser conselheiro de Estado ou para, através da comunicação social, dar conselhos moralistas aos outros.
Mas é. E é um dos propostos por Cavaco, que só tem nomeado gente que pensa como ele, ao contrário de Mário Soares e Jorge Sampaio que procuraram o pluralismo no aconselhamento.
Vir agora um conselheiro de Estado defender a refundação do regime e revisão da constituição, na linha de Passos Coelho, lança confusão sobre o longo silêncio cavaquista, quebrado apenas num hotel de luxo.
Curioso quando até o FMI parece já ter percebido algumas coisinhas básicas e Cavaco fora de portas também. Caso não se tenha dado por isso, a refundação do país e a revisão da Constituição apenas visam promover o rumo que se tem seguido.
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