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Como já muita gente disse, Gaspar sai reconhecendo a derrota das suas políticas e perante a iminência do segundo resgate. Portas tentou fazer o mesmo, pondo corpo e reputação fora do navio cercado pelas inúmeras sereias que pedem que o acorrentem mais uma vez a políticas inviáveis e inevitáveis.
(Foto: jornada.unam.mx)
Segundo parece, na sequência da última reunião do Eurogrupo, o ministro cipriota das Finanças acabou por ficar sozinho com os homónimos holandês e alemão discutindo a situação na ilha enquanto òs restantes congéneres andavam pelos corredores**.
Terá sido do seio desse triunvirato que saiu a decisão de sequestrar os depósitos bancários cipriotas impondo-lhes uma taxa de 6,7% aos depósitos abaixo dos 100 mil euros e de 9,9% para os depósitos acima desse valor. Depois, a coisa terá sido votada unanimemente pelos ministros das Finanças. O outrora luminoso Gaspar incluído.
Cavaco concluiu bem que "o bom-senso terá emigrado para outras paragens". Bagão Félix viu na ideia a "medida ideal" para acabar com o euro. Se a coisa for por diante, mais ninguém confiará na zona Euro, nem no seu sistema bancário. Um norte-americano, o Nobel Paul Krugman, considerou que a solução apresentada constitui um convite dos governos europeus para que todos os cidadãos corram aos bancos para levantar os seus depósitos.
Entretanto, demasiadas horas depois, os omnipotentes alemãs pareceram perceber a cretinice da medida. E, corajosos, lá garantiram nada ter tido a ver com o assunto. Hoje, o ministro alemão das Finanças negou ter sido a Alemanha a impor a taxa sobre os depósitos ao Governo cipriota. A justificação de Wofgang Schauble não evidencia um raciocínio particularmente brilhante: se tivesse surgido outra solução não teria havido problema em apoiá-la, disse. Demasiado curto e poucochinho que alguém com a responsabilidade impositiva de Schauble tenha sido incapaz de entender onde estavam a meter o euro e a União Europeia.
As justificações para a medida foram as do costume. Os sistematicamente superavitários contribuintes alemães não teriam de arcar com os desaires dos depositantes russos na banca cipriota. Sempre a questão moral brandida pelos nórdicos, em concreto por estes que pelo caminho que a coisa leva serão os responsáveis pela terceira destruição europeia no espaço de um século.
E finalmente chega o que parece ser um recuo. O Eurogrupo terá começado a pensar e talvez já não venha a impor a taxação dos depósitos abaixo dos 100 mil euros, para muita gente as poupanças de uma vida de trabalho.
A saída do euro tem de começar a ser pensada. Se o norte não quiser continuar na União Europeia, talvez o sul possa continuá-la com gente com hábitos e práticas culturais de outra índole.
* Em circunstâncias normais, o título do post seria calunioso. Já não é. Não seria possível que gente impreparada ou até completamente analfabeta em matérias económico-financeiras tomasse medidas mais desajustadas ou mais criminosas do que aquelas que sistematicamente são tomadas pelo conjunto dos ministros das Finanças europeus, vários deles apresentados como académicos e técnicos reputados.
** À versão contada por um director de publicação económica (sem link) junta-se, esta do Expresso, onde se compara o que fizeram e disseram depois vários responsáveis políticos, da Comissão Europeia, do BCE e do FMI incluídos
O Orçamento de Estado para 2013 propunha inicialmente criar uma sobretaxa de IRS no valor de quatro por cento.
Na semana passada, houve quem na comunicação social conseguisse noticiar (aqui e aqui, por exemplo) que a referida sobretaxa (que para já não existe) foi reduzida pelo Governo em meio ponto percentual.
Acreditar na patranha de que tirar 0,5 por cento ao valor de uma taxa que ainda se vai criar correponde a uma baixa de impostos assenta na bissectriz que separa os quadrantes da ingenuidade patológica dos da propaganda descarada.
Ontem, encheram-se notícias com a ideia gasparina de que a sexta avaliação da tróica a Portugal correu que foi uma maravilha. Ainda se está para ver que efeito positivo na economia terá mandar umas dezenas de milhares de funcionários públicos para o desemprego.
(Foto: expresso.sapo.pt)
... mas uma vez que o Orçamento de Estado 2013 precisa de ser totalmente melhorado é normal que os deputados do PSD se mostrem "totalmente disponíveis" para o fazer.
O que é fácil de fazer. Piorá-lo é que seria difícil.
Cúmplice de poderes maiores, o génio da Finança, cuja dicção e ciência muitos saudaram nas últimas páginas dos diários, vai falhando estrepitosamente o cumprimento do défice. E não foi por falta de avisos. Só páram quando os pararem.
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